Fosse pela expressão dele, ou pelo tom de voz muito sério, a frase me fez estremecer. Por um segundo temi que a aposta fosse real. Se eu não fotografasse o amor passaria o restante da eternidade no Inferno.
Felizmente, cruzamos com um bar cheio de jovens, que riam e conversavam alto, e a ideia do Inferno logo se desfez. Um casal de namorados se beijava em meio ao grupo. Outros se davam as mãos. Terceiros se olhavam apaixonados e sorriam. Enquanto isso, eu disparava minha câmera.
— Olhe! — Mostrei o visor ao menino.
Ele coçou os cabelos meio sujos e olhou para mim, decepcionado.
— Estão bonitas... Mas ainda não servem.
Suspirei, já meio desanimado. A seguir, colocando a câmera a tiracolo, presa por uma correia de couro, fiz sinal para que continuássemos.
Escadas do metro surgiram à nossa frente e, sem pensar, desci por elas. Cruzamos as catracas; eu pagando a passagem, ele, por baixo. Um guarda estava ao nosso lado e não protestou. Como eu disse, crianças de rua eram invisíveis.
Paramos na beira dos trilhos, esperando o trem. De repente, um grupo de garotas parou ao meu lado. Eram cinco amigas, jovens como eu, arrumadas para uma festa. Elas conversavam entre si, falando muito rápido e entre risadas. Eram bonitas.
Tirando a máquina do pescoço, de um jeito displicente, tirei algumas fotos. Uma delas percebeu, fez pose e piscou divertida. Eu ri e disparei novamente a câmera.
O trem chegou e todos nos sentamos. Mais uma vez, examinei as fotos que tirara. Concentrado naquilo, o mundo ao redor desaparecia.
Subitamente, meu coração disparou, e eu empalideci. Algo atingira meu coração como se fosse uma flecha.
Ergui os olhos, a tempo de ver que o trem havia parado na estação e o grupo de garotas descia pela porta aberta.
— Vamos! — Ergui-me com um pulo, puxando o garoto pelo braço. Arrastei-o para fora no último instante, com a porta quase se fechando sobre nós.
— Hei! O que houve? — Ele soltou-se com um tranco e cerrou o cenho, massageando o braço dolorido pelo aperto.
— Precisamos seguir as garotas! — expliquei, meio desesperado. Sem esperar uma resposta, parti rápido atrás delas.
Ele me acompanhou.
— Melhor não fazer isso... — protestou, vendo que eu realmente seguia os passos delas de perto. — Vão pensar que queremos assaltá-las.
Rapidamente, mostrei-lhe uma foto no visor. Era uma das jovens. Cabelos escuros e cacheados, sorriso grande e alegre, rosto avermelhado pelo riso.
— É ela! — expliquei baixo, sem tirar os olhos da garota que caminhava adiante, cercada pelas amigas.
— Quem? — O rosto do garoto se franziu.
Meu coração quase saía pela garganta. Eu estava emocionado de verdade.
— Acho que me apaixonei! Ela é minha dama. Por ela farei todos os feitos impossíveis, enfrentarei grandes desafios, arriscarei até mesmo minha vida! — sussurrei ao ouvido dele.
O garoto torceu os lábios e me fitou como se eu fosse um maluco.
— Que espécie de livros anda lendo? Romances de cavalaria medieval?
Diante de nós, a garota riu alto, e depois voltou-se para mim com um olhar casual. Eu estremeci. Será que ela sabia que eu a seguia? E poderia imaginar tudo o que se passava comigo?
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Instante de Amor
RomanceUm conto. VENCEDOR DO DESAFIO 21, de @RomancesLP, o perfil oficial do Wattpad para romances em língua portuguesa. O fotógrafo Frederick caminha pela avenida de uma grande cidade. Subitamente, um estranho senhor idoso lhe propõe uma aposta. Trazer-l...