É sempre importante demonstrar imponência no primeiro contato, pois garante respeito. Após concluída a tarefa, me despedi de Sarpédon e fui até a pequena hospedagem onde estava passando as noites. Ao cantar do galo me levanto antes mesmo do amanhecer para me arrumar. O desjejum reforçado foi de mingau de trigo com leite de cabra e figos secos, além de pão com um pouco de vinho. Após me vestir com minhas armas fui até o estábulo pegar o Bálios, meu magnífico corcel de pelo dourado .Segundo Homero, Bálios foi dado a Peleu pelos deuses, que posteriormente foi usado por seu filho, Aquiles de pés ligeiros, nas planícies de Tróia. Gostaria de chamá-lo de Pé de pano pelo seu suave cavalgar, mas respeitei o nome dado pelo seu antigo dono, cuja história não vem ao caso no momento.
O dia havia amanhecido nublado e logo cheguei à fazenda de Heliodóros. Era época de colheita de azeitonas e uvas, a estrada estava cheia de trabalhadores, carroças indo e vindo. O clima ameno e cheiro das uvas tornavam o cavalgar mais agradável. Cercadas por videiras e muitos trabalhadores logo vi que estava no lugar certo. O mensageiro do dia anterior veio ao meu encontro e me levou até o pátio.A casa era grande, talvez a maior da região.
- Um momento, vou chamar Heliodóros.
Conhecia Heliodóros apenas pelo nome. Nunca o vi pessoalmente, mas Sarpédon comentou que ele era alguém importante e rival do líder de Megáris, então já sabia o que esperar. Com certeza era alguém muito influente não apenas pela sua riqueza mas também pela milícia que possuía à sua disposição. Pude contar pelo menos uns quinze soldados rondando a propriedade.
- Então você é Kassandra?
- Disse Heliodóros, um homem de estatura alta, sem barba, cabelos grisalhos e com um ἱμάτιον (himátion - túnica de lã ou linho usada por homens e mulheres) púrpura.
- Saudações meu senhor.
- Venha, vamos caminhar enquanto negociamos.Você faz ideia do porque te contratei?
- Não diria que aceitei o serviço.
- Ora, Bulis não te deu nada ontem?
- Sim, mas gosto de avaliar os riscos antes de aceitar um trabalho.
- Não me aborreça misthios. Seu nome me foi cuidadosamente passado por alguém de confiança. Sei que irá aceitar minha proposta. Mas não me respondeu, tem alguma ideia do porque te chamei?
- Você é alguém importante para pólis, tem muitos escravos, propriedades, uma milícia particular e dado que não é o líder de Megáris diria que está tentando enfraquecer a política local e depois tomá-la para si.
- Você é uma garota esperta. Esperta até demais. Mas preciso da força de seu punho, não da sua astúcia.Atualmente Megáris possui boa relação com Atenas, que sei que financiam um golpe para instituir uma democracia em nossa pólis e por fim nos usá-la como ponta lança em sua expansão por toda a Hélade. Essa ameaça precisa ser sanada.Vejo uma crescente instabilidade em nosso mundo e uma guerra pode prejudicar meus negócios. Tenho bom relacionamento com os lacedemônios e quero continuar tendo. É preciso desmoralizar Hippárinus, meu inimigo político.Sua missão é invadir o forte no monte Geraneia e roubar o tesouro nele escondido. Além disso, é necessário expor de alguma forma os soldados mortos, a forma fica a seu critério.Isso afetará sua reputação como gestor do tesouro. Do resto cuido eu.
- Invadir um forte, matar todos os soldados e ainda roubar o tesouro da pólis!Não me parece uma missão factível para uma única pessoa.
- Não está interessada? Te pago dez vezes o que te foi adiantado.
- É uma boa quantia.
- O forte não é muito bem guardado, diria que não há mais do que vinte soldados por turno. Não precisa matar todos, apenas o que julgar suficiente para causar terror às pessoas. Sobre o tesouro, não há muito em nossos cofres já que nem toda a fortuna fica guardada lá. Os baús ficam localizados na sala central. Um já é o suficiente. Trága-o aqui na calada da noite, para que ninguém a veja.Seu pagamento será tirado de lá e nem pense em fugir.Cem dracmas. És esperta mas é uma só, meu exército irá buscar tua cabeça mesmo no Hades.
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Kassandra - Memórias de uma mercenária
NouvellesSaudações estrangeiro, meu nome é Kassandra, sou da pequena Plateias, uma pólis na região da perigosa Beócia. Sou uma μίσθιος (misthios), alguém pago para fazer um serviço, mas meu trabalho não é igual a de uma oleira ou pescadora. Digamos que meu t...