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“The real heroes anyway aren't the people doing things; the real heroes are the people NOTICING things, paying attention.”  ― John Green, The Fault in Our Stars.

 

{Harry}

“ A cadeira está vazia, um corpo ausente

Não aquece a madeira que lhe dá forma

 

E não ouço o recado que me quiseste dar

Nem a tua voz forte que grita meninos

Na hora de acordar

Ouço o teu abraço, no corredor em gaia

E os olhos molhados pela inusitada despedida

 

O sol foge

Mas o crepúsculo desenha a sombra que

Tenho colada aos pés

Ou o espelho, coberto com a tua face

 

Pai, digo-te

A minha sombra és tu”

 

Vendo que o pequeno Thomas tinha adormecido no seu berço, Harry bloqueia o ecrã do seu tablet e dirige-se para a cozinha.

Este era um hábito comum, ler pequenos poemas ou contos todas as noites ao filho e, apesar do pequeno ainda não entender, a voz do pai parecia surtir um efeito calmante na criança e que a fazia adormecer facilmente.

Na cozinha Harry prepara uma caneca de chá preto ao mesmo tempo que lê alguns emails no seu iphone. Esta hora da noite era a única altura do dia, depois do trabalho e depois de cuidar do seu filho, que podia tirar algum tempo para responder a emails enviados por amigos ou simplesmente ver alguns emails de campanhas promocionais de algumas lojas. Os últimos dias têm sido dias bastante exaustivos. Com várias consultas para dar, várias consultas para preparar, o pequeno Thomas mais impaciente e choroso devido ao crescimento dos primeiros dentes. Sempre disseram que era uma fase custosa para as crianças. Thomas tinha febre algumas vezes, comia pouco e tinha diarreia várias vezes. Harry agradecia a todos os santos por ter a sua mãe a ajudar, caso contrário seria impossível trabalhar e cuidar do filho ao mesmo tempo.

Acabando de preparar o chá Harry pegou na caneca e dirigiu-se para a sala de estar e acomodou-se no sofá e ligou a televisão.

“Curas da Sida encontrada”, “Centenas de pessoas por todo o mundo fazem tratamento” – foi o que se ouviu assim que a televisão foi ligada e sintonizada num canal de notícias. Ultimamente era tudo o que se ouvia na televisão era sobre esta cura. Durante muitos anos a medicina foi evoluindo, já existia medicação que controlava a doença era só uma questão de tempo até existir a cura. Sempre que estas notícias passavam a primeira pessoa que vinha à mente de Harry era Amber, uma das suas pacientes, que estava agora a lutar para vencer a doença. O rapaz notara uma grande diferença, em termos físicos e psicológicos, em Amber desde que a rapariga começara o tratamento. Estava mais fraca embora muito determinada. Ela a prova em pessoa de que não se deve desistir à primeira, que se deve lutar pelo objectivo. Mas a questão essencial era: sim, devemos lutar com todas as nossas forças para atingir o nosso objectivo, mas onde é que isso nos leva? Devemos mesmo chegar aos nossos limites?

AIDS // {h.s}Onde histórias criam vida. Descubra agora