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“1 de Dezembro. Dia mundial da luta contra a sida. Um dia em 365. Este é o dia em que de repente todos se lembram de falar sobre a doença e como de facto é importante prevenir novos casos e que, afinal, as pessoas com esse problema são normais. É triste ser preciso UM dia para se lembrarem de tudo isto. Irrita-me profundamente os “media” só falarem sobre isto neste dia. Não era preciso falarem no assunto 24 horas por dia durante todo o ano mas falassem de vez em quando e não só num dia! É uma estupidez. A sociedade precisa de perceber esta doença, precisa de meter na minúscula cabeça de algumas pessoas que NÓS podemos abraçar outras pessoas e não as contagiamos. A sociedade precisa de acordar para a realidade e aceitar estas pessoas, só assim é que os casos podem diminuir. Não é com descriminação e desprezo que chegamos a algum lado. As pessoas com sida/HIV não são monstros e precisam de ser respeitadas tal como as pessoas com qualquer outra doença. Porque é que só os seropositivos sofrem desta discriminação? Porque é que será tão difícil perceber que SOMOS NORMAIS, não mordemos ninguém. Estamos no século XXI caramba! Compreendo que há anos atrás a situação era diferente não havia controlo do vírus, era tudo algo novo e assustador, mas agora há controlo e conhecimento sobre a doença e o vírus, não há razões para a sociedade continuar a ser imbecil e retrógrada. Mas esse é um problema que vai, na minha opinião, durar até ao dia em que se encontre uma cura para este problema. Até lá acho que o me resta a mim e a todos com este problema é ignorar pessoas com mentalidade de minhoca e continuar a viver e acreditar que um dia tudo isto terá um fim.”

Amber acabou de escrever e fechou o seu diário e guardou-o na sua cómoda. Se Amber tivesse de escolher o pior dia do ano para ela, diria com toda a certeza que esse dia era o que hoje. Dia 1 de Dezembro, dia mundial da luta contra a sida. Ela sempre detestara esse dia desde que soube o nome da doença com que tinha nascido. Era um dia completamente desnecessário, na sua opinião. Porque se se pode ajudar estas pessoas durante todo o ano porquê só um dia em 365? Porquê ignorar este problema durante o resto do ano? É frustrante.

Amber tem frequentado as consultas do psicólogo todas as semanas. Tinha percebido que de facto a ajudava e, pela primeira vez em 17 anos, estava finalmente a conhecer-se a si própria na medida em que começava a entender como deve realmente agir em relação ao seu problema, algo que antes pensava que estava a fazer bem.

Hoje era dia de consulta no psicólogo mais uma vez. Harry, o psicólogo, tinha pedido a Amber que ela reflectisse sobre o seu problema e como imaginaria a sua vida se não tivesse a doença. Amber pensou muito sobre o assunto. Mas não era algo novo, ela já tinha muitas vezes fantasiado sobre essa possibilidade.

Neste momento a rapariga estava a dirigir-se para o consultório, antes de abrir bateu à porta.

- Entre!

Amber entrou e Harry estava sentado junto da sua secretária com a sua atenção virada para o computador enquanto escrevia freneticamente com o teclado do seu computador.

Assim que Amber entra no consultório e fecha a porta atrás de si o homem parou o que estava a fazer e levantou-se, cumprimentando de seguida a rapariga, com um aperto de mão.

- Olá Amber. Já sabes, senta-te e fica à vontade. – Harry pegou no seu caderno e caneta e senta-se no sofá à frente da rapariga. – Diz me então Amber. Como passaste a semana?

- Bem. Foi uma semana cheia de testes na escola mas correu tudo bem

- Muito bem. E como te sentes hoje particularmente porque é o dia mundial da luta contra a sida?

- Sinceramente? Estou farta disto.

- Porque achas que te sentes assim hoje? Podes explicar a tua teoria se te sentires confortável.

- Estou farta porque acho este dia uma estupidez. Só se lembram que pessoas como eu existem e que afinal até são normais neste dia em especial. Só neste dia é que os media se dão ao trabalho de fazerem reportagens a falarem sobre a doença e de como ela, nos dias de hoje, já não é fatal como há anos atrás. Acho este dia completamente desnecessário.

- Percebo o teu ponto de vista. Embora não ache este dia desnecessário. Acho é que a doença deveria ser falada mais vezes ao longo do ano mas também é importante um dia só para esta doença. Mas sabes que a mentalidade das pessoas também já começou a mudar um pouco e eu acredito que, e embora devagar, as pessoas vão aprender a aceitar este problema e aceitar pessoas seropositivas. Esta sociedade precisa é de mais divulgação e aprendizagem sobre a doença, desde cedo, nas escolas. Porque tal como tudo, as coisas devem ser ensinadas desde cedo para que depois se possa crescer com uma mentalidade mais aberta. Percebes?

- Sim eu compreendo e apesar de tudo também tenho alguma esperança de que isso mude.

- Diz-me. Pensaste sobre o que te pedi?

- Sim.

- Queres partilhar comigo? Achas que a tua vida seria muito diferente da actual?

- Sim. Não foi a primeira vez que pensei sobre este assunto. Já houve mais vezes em que posso confessar que fantasiei bastante sobre a minha vida sem este problema. Mas sinceramente não acho que fosse muito diferente, tirando o facto que não precisaria de vir ao hospital de 2 em 2 meses para consultas e colheitas de sangue e ter de tomar medicação todos os dias, acho que eu seria a mesma pessoa… a minha mãe não teria falecido e provavelmente ainda viveria com os meus dois pais juntos, talvez eu tivesse tido algum namorado, talvez eu não fosse tão reservada como sou… Mas não consigo imaginar a minha vida de uma forma completamente diferente…

- Isso é bom sabes? Significa que de alguma forma tu aceitas o teu problema e isso é muito importante. Já tive casos de pacientes com doenças mais graves, como o cancro, que o problema maior era não conseguirem aceitar que estavam doentes.

- Mas talvez essas pessoas não fossem capazes de aceitar porque estavam a morrer. O cancro é algo muito grave. Por mais que o meu problema me incomode algumas vezes eu tenho noção que desde que tome a medicação eu estou bem e fora de perigo. Deve ser horrível saber que podemos morrer a qualquer momento…

- Interessante teoria e estás certa no que dizes. E sim, essas situações são muito complicadas. – Harry apontou algumas coisas no caderno e depois disse. – Tens evoluído bastante Amber. Acho interessante o facto de conseguires compreender que podes ter uma vida completamente normal com este problema mas ao mesmo tempo continuares a ter o medo de ser rejeitada. Percebo isso mas também tens de entender que as pessoas não são todas iguais e que, ao longo da tua vida, vais encontrar pessoas que te aceitam tal como és, isto pode incluir amigos ou até mesmo mais do que isso. Mas ao longo da tua vida também vais ter de encontrar outras pessoas que não têm a mentalidade suficiente para te entender, como tu há pouco tempo já viveste com a tua amiga mas essas pessoas tu só tens de as ignorar e pôr de lado. Podes ter de conviver com elas mas eu acredito que vais ser capaz de te sobrepor a elas e mostrares que és digna de respeito tal como toda a gente.

***

N/A: Olá leitores! Espero que estejam a gostar.

Quero agradecer a todos os que votam e deixam comentários com a opinião pessoal, significa muito para mim e fico muito feliz que estejam a gostar desta história.

Este capítulo é dedicado à xcolourlessx porque ela foi muito querida no comentário que deixou sobre esta história e aconselho-vos a irem ler algumas das histórias dela que também são muito interessantes (:

Beijinhos e até ao próximo capítulo!

AIDS // {h.s}Onde histórias criam vida. Descubra agora