– Vocês têm certeza que é aqui? – perguntou Thorud enquanto ajudava Makut desvestir a armadura, ele e Tar-Rúl desafivelavam laços retirando ombreiras, caneleiras, peitoral e outras partes dela.
– Se não for, então o caminho que a Seleva nos disse está errado. – falou Penína ao enrolar o papiro com o desenho – Eu fiz o mapa com base no que ela disse. É aqui.
Nívea contava as carnaúbas e rochedos próximos memorizando o local. Olhava para o oeste lembrando dos vinte quilômetros percorridos ao longo da manhã. O sol brilhava severo no insensível céu azul donde nenhuma brisa soprava em alivio, a paisagem inóspita se estendia por toda parte e ondas de calor dançavam como a bendita água no rio, visível apenas na imaginação. Nívea sentou na sombra das árvores agradecendo aos deuses por tê-las ali. Todos se abrigaram na sombra acolhedora junto das montarias.
Makut caminhou até as rochas, um pouco maiores que o cavalo de Nívea, e na sombra retirou as botas. – Você vai mesmo descalço? – perguntou Tar-Rúl.
– Tenho que ser silencioso. – respondeu Makut. – Sem as botas, nem um elfo pode me ouvir.
Sentindo a areia quente nos pés quase mudou de idéia. Ficou em pé sobre as botas e saltou para entrada da caverna, onde a areia era menos quente.
– Oh Penína, quanto tempo você disse que os óculos duram? – pergunta Makut.
– O encantamento começa a fazer efeito quando você colocar os óculos, você vai conseguir enxergar na escuridão igual um anão. Dura um pouco menos de uma hora, então não demore.
– Volto bem antes disso. – falou Makut.
Perto das árvores havia rochas e um aclive arenoso entre elas, Makut tateou o chão entre as rochas. – Espera ai, tá fechada. A passagem do covil não pode ser aqui. – ele disse.
Penína empurrou Makut que sumiu no pequeno aclive rochoso. Ao se levantar ele via as duas grandes rochas ao seu lado e Penína lá fora através de um fino véu marrom, estava dentro da caverna. Uma entrada não mais larga que três homens lado a lado. – Nossa, a ilusão é perfeita mesmo. – ele disse. – Eu até senti a textura da pedra. Nunca que eu ia descobrir. Só atravessando mesmo.
– Ssshh! – fez Penína pra que ele se calasse, e sussurrou: – Se fosse pra nos ouvir nós teríamos ido todos juntos. Agora vai logo. – ela o viu caminhando e o chamou com um sussurro: – Makut!
– O que? – ele perguntou impaciente.
– Tenha cuidado. – falou preocupada.
– Cuidado é meu sobrenome. – disse confiante, Penína revirou os olhos. E Makut seguiu em frente sumindo na escuridão da caverna.
– Uma ilusão ocultando a entrada da caverna foi um bom truque. – falou Nívea. – Quem iria desconfiar? Ainda mais uma ilusão tão perfeita.
– Há tantas ilusões assim neste deserto que deveria se chamar Deserto da Ilusão. – disse Penína. – Se tiver uma ilusão enganando seus sentidos deve ter algum dragão cinzento por perto.
– Só espero que não haja filhotes no covil. – falou Thorud. – Se não o Makut vai ter problemas.
– Não irmão. – respondeu Tar-Rúl. – Ele não vai encontrar nenhum filhote lá.
– Tomara. – disse Thorud pouco esperançoso.
Após caminhar sorrateiro dezenas de metros Makut reparou que o teto se alargava. O caminho seguia plano, depois de uma descida suave que havia caminhado até então. Graças aos óculos dados por Penína podia enxergar o caminho, não demorou até um odor fétido atingir seu nariz, e com ele a horrível lembrança vivida na caverna perto de Aqbah, anos antes. Respirou devagar e continuou tão silencioso como só alguém do seu povo era capaz de fazer.
Makut chegou numa câmara ampla e espaçosa, supôs que era usada por Malzazy, devido ao tamanho dela. As esparsas estalactites se projetavam agressivas e pontiagudas como se à espera de uma vitima incauta para cair-lhe sobre a cabeça. Viu uma lagoa que, embora ocupasse uma pequena porção da câmara, podia facilmente ocultar uma carroça. Havia ainda duas outras câmaras interligadas à esta, uma pequena rede de câmaras subterrâneas.
O som de passos cortou o silencio e Makut soube que não estava só. Dois homens chegaram na mesma câmara, saíram de uma das outras, a da direita, e entrara na câmara da esquerda, sem passar perto daquela por onde Makut viera.
Imaginando que a câmara da direita estivesse vazia Makut foi até lá, correndo abaixado e furtivo. Ao entrar na câmara Makut escondeu-se atrás do primeiro lugar que viu, um busto de ouro que certamente fizera parte do tesouro de Malzazy. Encostado nele olhou pra ambos os lados com cautela, e viu um homem pardo de manto negro manuseando um corpo sobre uma maca improvisada. Ao lado do busto havia uma estante, era perto do canto da câmara. Makut passou rápido pra trás dela. O fedor de entranhas e formol impregnava o lugar, Makut torceu o nariz enojado. – "Mas que merda estão fazendo aqui?" – pensou.
A maca onde o homem de manto se ocupava era de madeira, toda lisa, havia dois baldes no pé dela, na beirada de um deles descansava um pano molhado de algum líquido vermelho. Havia outras três estantes na câmara, todas cheias de frascos que Makut nem imaginava para que serviam. No canto direito havia uma mesa de seis lugares, sem cadeira alguma por perto, pedaços de um corpo estavam sobre ela. O homem de manto costurava o peito do corpo da maca com uma linha grossa. Ao fechar, pegou um frasco transparente e derramou um liquido viscoso e negro no corpo, parecia óleo embora o cheiro fosse bem diferente. Se foi nos olhos ou na boca Makut não conseguiu ver devido ao ângulo por de onde espiava.
O homem se afastou dois passos e o corpo se levantou. Surpreso Makut quase deixou o som escapar de sua boca. O corpo levantou-se da maca e ficou de pé, ereto como qualquer humano, e encarou inexpressivo o homem de manto. Makut olhou pelo outro lado da estante, espiando mais perto da entrada da câmara, assim pôde ver melhor. O cadáver andou na direção indicada pelo homem, pisando firme como qualquer homem.
Aqueles dois homens, também de manto, voltaram e observaram animados a cena. O cadáver caminhou de volta até a maca e deitou-se nela. – É perfeito. – disse um dos homens. – Com este tipo aqui não precisamos mais daqueles corpos trôpegos, o Carniceiro é um grande progresso!
– Darroth, o que acha de fazermos os testes com ferramentas? – perguntou o outro homem, de cabelos crespos. – Podemos ver como ele usa tudo.
– Vão ser os soldados ideais. – disse confiante o homem careca.
– Vão sim, vamos fazer mais testes. Me ajudem a trazer as ferramentas. – disse Darroth, e os três saíram da câmara, seguindo para outra.
Makut aproveitou o momento e voltou rápido pra câmara que estava, e logo estava no corredor. Ao tomar uma distância segura correu mais depressa.
Quando os três voltaram, um deles foi até a estante pegar uma garrafa de vidro, quando notou algo no chão. Ao se abaixar viu alguns pelos. – Gilad, venha até aqui. – disse.
– O que foi Raed? – falou Gilad, o mais alto dos três, ao chegar na estante.
– Gilad, você é careca. – disse Raed segurando o fio entre os dedos. – O meu cabelo e o do Dorrath é liso, não é assim.
– Impossível. – falou Gilad. – Não é possível que alguém...
E Darroth interrompeu: – Alguém entrou aqui. Vamos, temos alguém muito enxerido pra pegar.
___________________________________________________________
Obrigado por ler, VOTE, COMENTE E COMPARTILHE.
![](https://img.wattpad.com/cover/238779121-288-k523576.jpg)
VOCÊ ESTÁ LENDO
Guerras Draconicas - Canção da Areia
AdventureSinopse Quando a vila de Na'ar é atacada Seleva suspeita que velhos rancores possam ter algo a ver com isso. Seus discípulos, os Cinco Sentinelas, resolvem ajudá-la na busca por respostas, e enquanto ela desvenda uma peça do quebra-cabeças, eles des...