Dádiva Cruel - Parte 2 de 3

21 2 5
                                    

Enxugou o suor da testa e tentou se recompor assim que ouviu a irmã se aproximando do quarto.

— Tá tudo bem? — Disse Bianca, aparecendo no corredor. — Você tá pálida.

Examinou a face de Joana e pressionou os lábios, num sinal de dó.

— Que manhã, hein... — Respondeu Joana, tentando disfarçar a angústia no tom de voz.

— Vai ficar tudo bem, mana. O pai saiu daqui consciente, foi só um susto. — Parou frente a irmã e segurou suas mãos.

O semblante da caçula permaneceu trancado, sabia que qualquer tentativa de abrir a boca traria consigo um rio de lágrimas.

— Eu te amo e to aqui se quiser conversar. Eu ouvi você e a mãe hoje cedo.

— Não tem o que falar, é o mesmo de sempre. — Respondeu Joana.

— É complicado, mas eu prometo que vamos resolver isso. Eu posso ver se consigo marcar a consulta do psicólogo pra você. Escondida, claro. — Tentou acalmar a irmã enquanto elas se sentavam à beira da cama.

— Se ela descobrisse... não quero nem pensar.

— A gente ainda vai convencer ela, precisa ter calma e ir aos poucos.

— Eu não consigo ter paciência pra a cabeça fechada dela. — Joana aumentou o tom de voz e torceu o lençol com as mãos.

— Olha, sei que já falamos isso, mas talvez você devesse dar uma chance pra...

— Não. — Interrompeu. — Eu já disse que essas besteiras não são pra mim, não adianta vir com o discurso pronto de como isso te ajudou e, bla, bla, bla. Agora, se não se importa, quero ficar sozinha.

A irmã mais velha arregalou os olhos, levantou-se da cama e seguiu até a porta.
— Sabe, eu acho que sei por quê você e a mãe brigam tanto... — Suspirou Bianca. — É porque vocês se parecem demais.

No dia seguinte, as garotas chegaram a recepção do hospital esperando por boas notícias, porém, o olhar de Sônia não parecia prestes a proferir palavras positivas.

— Como ele tá, mãe? — Bianca vomitou as palavras.

— Ah, como é bom ver vocês, meninas. — Respondeu Sônia, abraçando ambas ao mesmo tempo. — Vocês estão bem?

— Como o pai está? — Insistiu Bianca. — Fala logo, por favor?

As 3 se encararam em silêncio, o ambiente frio e monótono da sala de recepção potencializava o clima lúgubre. Percebendo o estado das filhas, Sônia disse:

— O pai de vocês sofreu um infarto e vai ter que ficar de observação. Ele ainda não está bem, a verdade é essa. Estamos esperando os resultados de todos os exames e pode ser que ele precise passar por uma cirurgia de revascularização. — A voz trêmula não escondia a preocupação da esposa. — Mas, por enquanto, temos que esperar.

Notando as dificuldade da mãe em se conter, as filhas deram a ela um abraço sincero e logo as lágrimas de todas entraram em sintonia. Joana reparou em alguém parado sob uma das portas do corredor extenso que ligava a recepção aos quartos, era a criatura de rosto borrado que tinha visitado seu quarto na manhã anterior.

Joana desvencilhou-se do abraço e se retirou dali, rumando até a área externa do hospital. Ao notar seu desconforto, Bianca decidiu segui-la.

— Ah, mana. Quer me contar o que tá acontecendo? — Esperou alguns segundos, mas não obteve resposta. — Eu te conheço muito bem, sei o que essa sua cara de assustada significa, sei que o papai não é sua única preocupação. — Pressionou, lutando para arrancar uma palavra da caçula.

Dádiva CruelOnde histórias criam vida. Descubra agora