Capítulo 10: Narcisos

391 50 35
                                    

Dizem que a chuva vem para lavar nossa alma, limpar nossa mente e corpo do sofrimento. Talvez fosse por isso que a chuva caía incessante, batendo nas janelas furiosa, externando o sofrimento das pessoas.

Sim, podemos chamar de sofrimento ou qualquer adjetivo que tenha o significado dor. 

Pois a chuva começou a cair desde que a ambulância saiu apressada, levando um ômega alvejado de tiros e uma beta fora de controle, deixando para trás um grupo desolado pelo medo, raiva e sofrimento. 

Mas de todos, Ryouta era o que menos chorava, mesmo estando apertado naquela van, com alfas enormes e com feromônios agitados, não conseguia pensar em nada, sua mente estava um vazio, tomada pelo breu que dominou seu coração. O ômega só queria chegar logo ao hospital Kibō, encontrar a beta e o azulado bem, enquanto o mesmo descansava em uma das camas do hospital.

Seria ruim se os alfas que estavam com ele visse as cicatrizes de treinos e de proteção que Tetsuya adquiriu ao longo dos anos, então precisava dar um jeito de as esconder. Não era hora de Akashi descobrir que a Kitsune era, na verdade, Kuroko.

Sim, dariam um jeito em tudo.

Mas, no curto tempo em que estacionaram e procuraram Momoi Satsuki na sala de espera do hospital, Ryouta se lembrou de algo importante. Ele se esqueceu que a vida é cruel, que deveria estar acostumado a ter tudo que considera precioso arrancado de si, como as pérolas sendo retiradas das ostras. 

É, ele esqueceu de algo que aprendeu desde pequeno na máfia: Não se dá jeito na morte.

Sabia a resposta quando encontraram Momoi, a beta estava arranhada, alguns curativos estavam se soltando dos braços. Mas ela estava parada, olhando a parede. O único momento que ela se moveu, foi quando os viu ali. Sua face arranhada, coberta de lágrimas secas, voltou a se contorcer e Satsuki agarrou o cabelo, puxando com violência enquanto chorava. Os soluços ecoavam pela sala, atraindo a atenção tanto de acompanhantes quanto dos funcionários.

Murasakibara deixou seu corpo cair no chão, a mão tampando a boca enquanto sufocava o grito. Ele queria chorar, gritar, quebrar aquele lugar que não conseguiu salvar um simples ômega, um amigo. Mas seu corpo não se movia. Ele não era da máfia. Deveria ter uma vida feliz, morrer idoso ao lado de quem ama com seus filhos e netos brincando ao seu redor, com Satsuki os dando doces e sorrindo do jeito que sempre fazia.

Estava preso ao chão. Ele o matou. Era sua culpa.

Atsushi sentiu alguém o abraçar, mas não merecia isso. Era a Momoi que precisava ser amparado. Pela primeira vez, a culpa o corroia tanto que desejou ser punido. Que apontassem o dedo em seu rosto e gritasse, para todos ouvir. Você o matou.

-Eu vou comprar algo pra beber - Midorima avisou, enquanto se afastava do grupo. 

Ele sempre suspeitou de Satsuki, com a plena certeza que ela era aquele hacker que tirava cem por cento de si. No fundo ele sabia, aquela pessoa se tornou especial. Mas ver a beta naquele estado era devastador.

Parou em frente a máquina de bebidas e não conseguiu segurar o soco, quebrando o vidro. Não se importou com a dor, ou o sangue, não ouviu os funcionários gritaram assustados. Só queria extravasar a frustração que sentia. Era demais para si, quando eles se tornaram parte da rotina? 

Quando se tornaram tão especiais?

Quando? Porquê?

Ninguém sabia responder. Kuroko e Momoi eram como o sol e uma brisa suave na tarde de verão e, como todo ser humano, não notamos quando alguém é importante até ser tirado de nós.

Inside The MafiaOnde histórias criam vida. Descubra agora