Capítulo 2

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- Gaby - Há apenas uma pessoa na terra que me chama assim.

Três anos atrás, sua voz costumava ser rouca e baixa. Resmungando. Tenho certeza de que o tempo deve ter amadurecido ainda mais. Não que eu me importe com isso. Não me importo. E nem me importo com o que vi ontem à noite. Acho que o inventei. Foi um sonho ou algo assim. Uma invenção da minha imaginação. De qualquer forma, essa voz é alta e risonha, meio fofa. Pertence ao minha vizinha de cinco anos, Sofya. Todos nós a chamamos de Sof e ela me chama de Gaby. Então, talvez haja duas pessoas que me chamam com esse nome. 

Eu paro e me viro para encontrá-la correndo em minha direção. Ela tem a mochila nos ombros e está sorrindo para mim. Eu sorrio de volta. 

- Ei garotinha - Ofegante, ela para e eu fico de joelhos. Ela tem cabelos loiros e olhos verdes, e um espiral permanente na parte de trás da cabeça.

- Olha! - Ela me mostra seu punho - Eu fiz certo?

Eu tenho ensinado a ela como fechar o punho e, sim, ela o acertou completamente.

- Parece perfeito. - Ela sorri. 

Oba!- Sorrindo, eu dou um tapinha no seu cabelo. 

-Você vai destruí-los.

- Você acha? - Ela pergunta. Sof olha para mim com tanta esperança que meu coração aperta.

- Duh. Apenas não recue, ok? Lembre-se sempre de que somos os desfavorecidos. Mas, ao contrário do que as pessoas pensam, os menos favorecidos não são fracos. Nós lutamos de volta. Na verdade, nós lutamos mais duramente. As pessoas nos subestimam e você sabe o que, deixe-os nos subestimar. Esse é o maior erro deles. E nunca deixe ninguém te dizer o contrário, minha linda. - Ela sorri e acena com entusiasmo. 

- OK!- Sof e eu estávamos destinadas a nos tornar amigas. Como eu, ela é órfã também. Embora seus pais tenham morrido quando ela tinha apenas dois anos. Desde então, ela mora aqui em Plêiades com sua avó, Doris, que também está na equipe de limpeza. Mas, além disso, a coisa mais importante que me liga a esse garota adorável e tímida de cinco anos é o fato de ambas sofremos bullying. Pelo menos, uma vez eu sofri. Sof é um pouco diferente, então algumas crianças de sua escola estão lhe causando problemas. Elas a empurram e ameaçam, fazendo-a chorar e transformando a escola de modo geral infeliz. Foda-se eles. Os valentões são covardes. Eles não agem sozinhos, então se escondem atrás de ameaças vazias. Tudo o que é preciso para colocá-los em seus devidos lugares é revidar um pouco e eu estou ensinando Sof a fazer isso. Já que tenho uma pequena experiência nessa área. Colidimos os punhos e eu fico em pé. 

- Eu te amo. Eu tenho que correr. Mas eu vou te ver hoje à noite, ok? - Ela concorda. 

- É noite de panqueca? -Já que Doris está envelhecendo, eu ajudo com Sof sempre que posso. Hoje à noite vou cuidar dela e como é segunda-feira, vamos fazer o café da manhã no jantar.

- Pode apostar! - Depois de dizer adeus, estou correndo em direção à casa principal, onde nossa reunião diária vai começar em dez minutos. Como na noite passada, eu insiro o código na entrada do serviço e entro. Mesmo do topo das escadas, posso ouvir a agitação da equipe. Há pessoas entrando e saindo da cozinha, a sala dos funcionários. As mulheres usam vestidos cinza com acabamento branco nas golas e mangas como eu, e os homens usam camisas brancas com calças pretas. Nosso uniforme aqui em Plêiades.

Há risinhos e conversas e até empurrões. A casa inteira está acordada e trabalhando duro. Eu desço as escadas, digo bom dia e oi, até chegar à sala dos funcionários. O pessoal já está sentado e Sabina, que entrou mais cedo do que eu porque não tem nenhum problema em acordar cedo, está guardando um lugar paramim. Assim que me sento, a Sra. S entra e Sabina se inclina para sussurrar.

Badboy BluesOnde histórias criam vida. Descubra agora