Eu tinha acabado de completar meus dezessete anos quando o vi pela primeira vez. Estava ajudando a senhora Hudson a entregar as roupas limpas para as famílias mais afortunadas.
Mesmo sendo uma trouxa que perdeu o marido para a tuberculose, ela ainda me tratava com mais afeto do que minha própria família. Eu a ajudava e ela me pagava alguns centavos em troca do serviço, não era muito, mas precisava levar comida para casa.
— Mérope, as crianças já comeram?
— Sim, vou colocá-las para dormir.
— Poderia ir à casa da família Riddle? Eu cuido dos gêmeos.
— Claro, sem problemas.
— As cestas estão perto do fogareiro, as duas lavagens são dois euros, lembre-se de cobrar.
— Pode deixar, eu não demoro.
Peguei as duas cestas e caminhei por todo vilarejo, as ruas estavam com bastante lama por conta da chuva que havia tido mais cedo. Em poucos minutos cheguei em uma grande casa com um belo jardim, passei pela cerca e bati na porta.
— Pois não? — perguntou um homem alto, que abriu a porta.
— As roupas estão prontas.
— Quem está à porta Hendric? — Uma senhora não muito alta com cabelos negros apareceu.
— A lavadeira, senhora Riddle.
— Por favor, entre — sorriu simpática. Tentei limpar meus sapatos velhos no carpete, mas falhei — Pode me acompanhar, por favor?
— Sim, senhora.
A casa era imensa por dentro, não havia nenhum pouco de pó mesmo nas prateleiras mais altas. Subimos por uma grande escadaria, a senhora bateu na porta, ninguém a abriu e ela entrou.
— Querido? Acorde! Temos um almoço importante hoje. — Abriu as cortinas — Qual o seu nome?
— Mérope, senhora.
— Por favor, pode guardar as roupas de Tom no armário? Nossa governanta está muito doente e não pode trabalhar.
— Claro, quais são?
— Todas — respondeu. — Ignore meu filho, quando terminar venha ao meu encontro.
— Tudo bem. — Tentei sorrir.
A senhora saiu do quarto, me deixando sozinha com o rapaz que havia chamado de Tom. Dobrei calmamente as roupas e estendi alguns casacos.
— Ah! — resmungou, levantando-se. — Pode me dar um casaco?
— Claro, qual gostaria? — Me virei olhando-o ainda na cama, o rapaz me encarava de cima a baixo, com certeza não via muitas garotas como eu.
— O vermelho, por favor. — Levantou-se revelando seu corpo que estava nu, apenas com uma calça, com certeza Tom era o rapaz mais bonito que eu já havia visto.
— Aqui está.
— Obrigado. — Vestiu o casaco e entrou por uma porta que acredito ser um quarto de banho.
Continuei meu trabalho e em poucos minutos terminei o que estava fazendo, juntei as cestas e esperei o rapaz sair de onde havia entrado.
— Pode me dizer onde fica a sala da senhora Riddle?
— Me acompanhe. — Saiu e fechou a porta assim que passei.
Caminhamos em silêncio, haviam muitas portas pela casa, comparada a minha era uma mansão. Haviam algumas pinturas nas paredes e certificados de honra.
— Seu pai é doutor? — pergunto.
— Ele é médico.
— Ah, legal. — Logo chegamos ao andar de baixo e ele bateu na porta.
— Entre. — Tom abriu a porta me dando passagem para entrar.
— Obrigado, senhor Riddle. — O moreno sorriu fraco e entrou também.
— Já terminou?
— Sim, senhora.
— Veja Tom, os pomares estão dando frutos. — Ele olhou para a janela e sorriu.
— Hum... vou pedir para a cozinheira fazer uma torta — sorriu, seus dentes eram super brancos, um sorriso encantador.
— Claro, querido.
— Quanto lhe devo? — Senhora Riddle voltou a me encarar.
— Dois euros.
— Aqui estão cinco euros, avise a senhora Hudson para vir buscar as outras roupas no sábado. Fique com três euros para você.
— Obrigado, senhora Riddle.
A senhora me acompanhou por todo o corredor e abriu a porta me guiando até o portão de saída. Voltei caminhando para a casa da senhora Hudson e lhe entreguei o pagamento.
— Tome seu dinheiro, Mérope.
— Não, guarde o seu! A senhora Riddle me pagou por guardar as roupas do filho no armário.
— Tudo bem, obrigado por entregar as roupas, minha querida.
— Sem problemas, vou para casa antes que chova — sorri.
— Tome cuidado.
— Pode deixar.
...
Após sair da casa da família Hudson, passei na mercearia e comprei alguns mantimentos para casa. Depois de muita caminhada cheguei ao casebre de minha família, o céu estava completamente nublado anunciando a tempestade que chegava.
Entrei e coloquei algumas batatas para cozinhar, o almoço deveria estar pronto exatamente ao meio-dia. Papai e Morfino saiam cedo quase todos os dias para trocar algumas peças valiosas.
— Mérope! Nosso almoço está pronto?
— Sim, papai. Sentem-se eu vou servi-los.
— Onde conseguiu essas carnes? — perguntou meu irmão Morfino, mexendo nas panelas.
— Comprei hoje cedo — respondo, servindo a mesa.
— Com que dinheiro?
— Trabalhando.
— Ainda está se envolvendo com aqueles trouxas? — perguntou meu pai com rispidez.
— Ah, nós precisamos de dinheiro.
— Não o dos trouxas! — Bateu na mesa, engoli em seco e coloquei o prato na mesa — Quantas vezes vou ter que dizer para não ir à Little Hangleton?
— Me desculpe, papai.
— Termine o que está fazendo!
Fiquei em silêncio, sabia muito bem que a qualquer momento ele poderia se irritar e descontar sua raiva em mim, como fazia quase todos os dias.
Logo a chuva tomou conta de toda a cidade, coloquei baldes nas goteiras e me deitei em minha cama, não era muito confortável, mas não tínhamos dinheiro para comprar outra. Já tentei transformá-la em um belo colchão mas minha magia não era muito boa, por isso papai vivia me chamando de aborto.
...
© Expresso Fic & Calina D.L.
São Paulo – Brasil, 2020
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Obsessão: Mérope Gaunt
FanfictionMérope tinha dezesseis anos quando se apaixonou por um trouxa rico chamado Tomás Riddle, que morava à poucos metros de sua velha casa. Seus poderes nunca foram bem desenvolvidos, sofria constantes abusos psicológicos por parte de seu pai e irmão. El...