Capítulo 2º

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— Oi! — responde Áurea, secamente, sem ao menos olhar para Eduardo. Um nervosismo incontrolável se apossa dela, permitindo-a responder apenas aquelas duas letras. Essa atitude passa a Eduardo a impressão de que ela é uma garota arrogante, mal sabe ele. Se naquele momento Áurea arriscasse pronunciar algo mais, sua voz provavelmente falharia e, durante aqueles intermináveis segundos, ela tenta traçar um plano de fuga, pois precisa se recompor do susto. O estranho do café agora tem nome e sobrenome. Ela não consegue nem olhá-lo nos olhos, que dirá passar os próximos trinta dias trancada com ele em um lugar minúsculo. Sozinha, naquela sala, já lhe falta ar, imagina na companhia daquele homem? — Estou perdida!

— Filha! — Paulo a repreende com o olhar. — Seja mais cordial com o Eduardo.

— Desculpe-me, papai. — Áurea tosse para disfarçar a voz rouca.

— Áurea, não é a mim que você tem que pedir desculpas e sim ao Eduardo. — Paulo ergue o cenho, olhando para a filha e com um gesto a incentiva a cumprimentar Eduardo. — Lembre-se de que ele será seu chefe durante o estágio. Você deve obedecê-lo e trata-lo com respeito.

O coração dela bate tão forte, que qualquer gesto em falso será capaz de denunciar o seu nervosismo.

— Não se preocupe, doutor Paulo. Creio que ela irá se comportar — fala Eduardo, de forma profissional.

Áurea sente o sarcasmo em cada palavra e tem quase certeza de que sente também a vibração de um sorriso dele, no momento em que seu pai não o está olhando.

— Não é, menina? — Eduardo a olha, pedindo confirmação.

Quem ele pensa que é? — Áurea respira fundo e sai da sala a passos largos. Raiva a define naquele momento.

— Desculpe-me pela falta de educação dela — pede Paulo, um pouco constrangido. — Lembre-se do que lhe falei. Ela está aqui contra a vontade e conheço bem a filha que tenho. Áurea fará tudo para dificultar o próprio aprendizado. Eu o escolhi para instruí-la, pois o seu amor pelas leis contagia a todos deste escritório e tenho esperanças de que também a influencie. — Paulo aperta a mão de Eduardo. — Confio em você para essa tarefa.

— Espero não decepcionar — responde Eduardo, confiante, retribuindo o aperto de mãos.

***

— Vejo que já conheceu a nossa sala — fala Eduardo enquanto entra, observando-a por atrás de um enorme processo.

— Aham — responde sem olhar para ele, fingindo estar compenetrada em sua leitura.

— Que bom que está lendo esse processo de apuração de haveres. — Eduardo senta na cadeira em frente à mesa dela e tenta visualizá-la, mas sua tentativa é vã. — Aproveitando que está empenhada na leitura, veja para mim o valor que o perito está cobrando para elaboração do laudo, por favor. Precisamos solicitar que o cliente execute o depósito o quanto antes. — Ele continua a lhe dar ordens. — Depois tire uma cópia dos dados da conta e solicite à dona Marta que ligue para o senhor Alfredo Gentil...

— Espera ai! — Áurea finalmente responde, mas ainda sem levantar a cabeça.

Eduardo a observa de forma curiosa, pois ainda não conseguiu vê-la de frente. Se o rosto for tão bonito quanto o perfil, será difícil trabalhar na mesma sala que ela. Ainda não fez um raio-x do corpo. Claro, não poderia fazer isso na presença do pai da garota. — Tomara que seja feia.

— Quem você pensa que é para ficar me dando ordens? — fala firme, olhando-o nos olhos.

— Eu? — Eduardo aponta para o próprio peito.

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