Capítulo 3º

21.7K 1.2K 146
                                    

Já são quase onze horas e eles começam a trabalhar. Eduardo não troca mais nenhuma palavra com Áurea e ela, por sua vez, finge concentrar-se na leitura do processo, contando os minutos para ir embora. Ficar próxima dele a deixa confusa — precisa entender o que a faz se sentir assim.

O silêncio é absoluto, quando ouvem a batida na porta.

— Bom dia, Doutor Eduardo — fala um rapaz moreno e muito bonito. Ele entra de modo muito formal, mas, quando fecha a porta, seu semblante sério desmancha-se. — Edu, seu filho da mãe sortudo!

A falta de formalidade nas palavras proferidas pelo rapaz desperta a curiosidade de Áurea, que ergue o olhar em sua direção. Ele, porém, não nota a presença de uma terceira pessoa na sala e continua a falar.

— Você tinha que traçar logo as duas? — Ele faz um gesto exagerado com os dedos.

— Mateus! — Eduardo ergue o cenho e o olha de forma desconcertada, tentando em vão avisá-lo da presença de Áurea.

— Podia ter deixado uma para mim. — O rapaz puxa a cadeira e se senta na frente de Eduardo, cruzando as longas pernas, parecendo muito à vontade.

— Mateus, estou atolado de trabalho, não está vendo? — Eduardo tenta desviar o assunto.

— Nossa, Edu, já está começando a ficar arrogante, é? — Finge estar decepcionado. — Isso tudo é porque conseguiu alforria da nossa confortável sala coletiva e detém metade de um almoxarifado? — Mateus debocha do amigo. — Eu soube que já tem até a regalia de chegar mais tarde na segunda feira — ironiza.

— Eu adoeci. — Através do olhar, Eduardo tenta mais uma vez avisar ao amigo que não estão a sós, mas Mateus não percebe.

— É nisso que dá passar a noite comendo...

— Cof... Cof... — Eduardo tosse, interrompendo Mateus de continuar e aponta para Áurea do outro lado da sala. — Mateus, esta é Áurea, nova estagiária.

Mateus vira-se, assustado. — É um prazer, Áurea. — Após um rápido cumprimento, volta-se para Eduardo e, sem emitir som algum, move os lábios, formando as palavras: — Que gata! — e retoma o assunto. — Como eu ia dizendo... — continua a falar com a voz mais cínica do mundo. — É nisso que dá comer logo duas tortas de camarão, termina passando mal, meu amigo — finge preocupação. — A barriga já está melhor? — Olha para Eduardo e segura o sorriso.

— Já fui medicado — responde Eduardo, sem esconder a raiva.

— Que bom. — Mateus olha o relógio e se levanta. — Vamos almoçar.

— Hoje não. — Eduardo aponta para a grande pilha de papéis em sua mesa. — Preciso recuperar o tempo perdido.

— Você que sabe. — Mateus vira-se na direção de Áurea. — E você, me acompanha em um almoço?

— Ela não pode — responde Eduardo, por ela.

Mateus olha na direção do amigo e franze o cenho, estranhando sua reação.

— Áurea está concluindo um serviço que pedi — justifica-se Eduardo.

— Bom, na verdade... — Ela confere as horas em seu celular. — Já está na minha hora de largar. — Sorri de forma amigável para Mateus. — Aceito, sim.

A resposta dela deixa Eduardo furioso. Ele está cheio de trabalho, mas nem por um decreto a deixará almoçar só com Mateus. — Um almoço rápido não tem problema. — Eduardo levanta-se, dá passagem a Áurea, olha duro para Mateus e saem os três, juntos em direção ao restaurante.

NÃO DIGA NUNCA PARA O AMOR - DEGUSTAÇÃO. - amazon.com.br a partir de 01.07.2016.Onde histórias criam vida. Descubra agora