A Casa cap.1

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PASSADO

Judite:
Em 1930 eu tinha 15 anos, tinha 15 anos quando meus pais me expulsaram de casa e me mandaram para um reformatório no meio do nada.
Alguns dias antes as rádios só falavam disso, o quão inovador era e o quão bom para as crianças seria, (por mais que ninguém estivesse pensando realmente nas crianças).
Chegando no tal local eu e as outras crianças que participariam do "projeto" fomos recebidos por um velho esquisito que atendia pelo nome de Francis, Francis contou um pouco da sua história e do porquê havia comprado aquele terreno e designado a função de reformatório.
Até aí tudo bem, ele estava se apresentando e nos apresentando o ambiente no qual passaríamos tempo indefinido, então entra pela porta três enfermeiras vestidas todas em bordô com sorrisos amarelos em seus rostos e olhos arregalados.

Max:
Meu nome é Max e eu tinha 12 anos quando fui tirado do conforto do meu lar e levado a uma espécie de mansão mal assombrada maligna do Drácula.
Um velho nos recebeu e ficou contando historinha pra boi dormir e umas enfermeiras esquisitas apareceram do nada. Mas havia uma menina, uma linda menina, Judite eu acho, ela tinha uma pele linda de porcelana, cabelos longos e castanhos e estava usando um laço amarelo na cabeça com um vestido azul claro. É óbvio que ela nem olhou pra mim, além do mais ela já tinha feito 15 anos e eu provavelmente era apenas um pirralho na visão dela.

Nicolas:
Olá, me chamo Nicolas e eu tinha apenas 7 anos quando fui levado para "escolinha" que a mamãe tanto falava.
O lugar era meio escuro e eu estava com muito medo, mas por sorte eu levei o meu pato de pelúcia Sr. Fofo. As mulheres que estavam conosco vestidas de vermelho não paravam de dizer à mim e a minha mãe o quanto eu era fofo e comportado, e que não viam motivos para eu estar ali. Bem, isso já é outra questão não é mesmo.
Fomos guiados a outro cômodo, algo que me parecia ser um refeitório ou sei lá, após, todas as crianças foram levadas a um quarto enquanto nos despedíamos de nossos pais e familiares.

Judite:
Isso tudo é muito estranho! Por que haviam pais chorando? Ou melhor, por que pareceu que nunca mais iríamos ver nossos pais?
Esse quarto fede, é escuro e ainda por cima terei que dividir ele com mais nove crianças. Como eu sou a mais velha aqui eu é que darei as ordens!
Muito justo aliás.

Nicolas:
Eu não conheço ninguém aqui, acho que vou chorar.
É mesmo, tem uma garota aqui que já tem 15 anos o que tecnicamente já é quase idosa, será que ela deixa eu andar com ela?

Max:
Pff, eu mereço uma coisa dessas mesmo. Ter que viver vinte e quatro horas por dia com um bando de desconhecidos e ainda por cima a garota bonita nem me dá bola.
Vou tentar me aproximar dela, quem sabe ela não se apaixona por mim?

Morgana:
A janta já está a mesa, venham logo se quiserem comer bando de vermes.

Judite:
Desculpa??? Mas pra onde foi toda a gentileza e sorrisinhos de antes?
Fomos todos voados para mesa, parecia até que não comia a séculos. Chegando lá vi vários pratos fundos e colheres ao lado, pensei -ótimo! primeiro dia aqui e já tenho que tomar sopinha como refeição- mas ao me sentar e ver que os pratos estavam vazios comecei a me questionar o que tanto o cozinheiro mexia naquela panela.

Nicolas:
Ai meu Deus! O que é isso que essa mulher esquisita está pondo no meu prato? Eu acho que vi uma unha.

Max:
Uma gororoba, era isso que estavam servindo na primeira noite na mansão dos pesadelos. Não era sopa, pois estava muito sólido, mas também não era mingau, porque estava muito líquido.
O sabor era uma mistura de bucho com uma pitada de fígado, não havia nenhum dos dois no prato, mas este era o gosto.

Francis:
Ok, ok, ok! Hora de dormir pirralhada. Não quero ninguém zanzando pela casa a noite, não me importa se é para ir ao banheiro ou não sei o que. NINGUÉM FORA DA CAMA! Vocês entenderam?

Crianças:
Sim.

Francis:
Pois bem, uma noite não tão horrível a todos.

Max:
É sério isso? É sério que esse velho ACHA que eu vou obedecê-lo só porquê ele engrossou a voz para falar com a gente? MUITO enganado ele está.

- Ei, psiu -falo cochichando para o menino que estava deitado ao meu lado- vamos dar uma volta pela casa? Me parece muito interessante explorar os segredos que tem por aqui.

Samuel:
- Por mim tudo bem, não fui com a cara daquele homem mesmo!

Max:
Samuel levanta mais rápido do que uma lebre atrás de um sapo, enquanto eu ainda demoro um pouco. Ouço passos, mas pelo visto Samuel não, e bem devagar vai se abrindo a porta, enquanto Samuel está em pé em frente as camas.
Era uma das enfermeiras, Morgana talvez, não dava para ver nada estava tudo muito escuro.
Ela o puxa pelo braço e enquanto ele grita e acaba acordando todos ali no quarto a enfermeira continua a arrastar ele para fora do quarto.

Judite:
Na manhã seguinte, após o incidente com o pequeno Samuel, fomos todos até o refeitório, se é que eu posso chamar disso, para tomarmos o café da manhã.
O olhar do... Max? Acho que é, estava com um pouco de culpa. Será que foi esse pestinha que fez com que Samuel fosse arrancado do quarto daquela forma noite passada?

Para variar o café não estava lá essas coisas, claro que não chegava nem perto da "sopa" da noite passada, mas não era nenhum café de hotel cinco estrelas.

Morgana:
Crianças, me acompanhem até o pátio!

Nicolas:
Legal! Será que a gente vai jogar algum jogo?

Max:
Que estranho! Ainda não vi o Samuel hoje. Ele provavelmente deve ter ficado de castigo ou algo do gênero, vou tentar focar no que teremos que fazer hoje no pátio para não ficar remoendo essa história o dia todo!

Louren:
Bom dia crianças! Neste dia lindo que nos banha com raios calorosos de sol, iremos aprender a cavar buracos!

Judite:
Eu to louca ou essa mulher disse buracos? Exato BURACOS!

Louren:
Vocês devem estar se perguntando o porquê de buracos. Basicamente aqui nesse terreno onde se encontra a casa está rodeado por uma vasta flora, e consequência disso fauna também!
Já que teremos que conviver com o fato de bichinhos entrando e fazendo suas necessidades, ou até mesmo bichinhos que por sua vez morram aqui dentro do pátio, achei melhor ensinar vocês a cuidar disso!

Max:
Buracos. Essa mulher quer nos ensinar a cavar buracos.

Nicolas:
Bom, deve ser igual aos buracos que eu fazia na areia da praia quando eu e meus pais viajamos. Vai ser moleza!

Morgana:
Comunicado breve antes de vocês começarem a cavar e o escambau.
Infelizmente o colega de vocês Samuel terá que deixar o projeto e seus pais já vieram buscar ele pela manhã! É só isso mesmo, podem voltar a fazer buracos no chão.

Judite:
Nossa! Eu senti algo na boca do meu estômago enquanto uma brisa leve passava por mim. O Samuel foi mesmo pra casa? Esse projeto não era justamente para crianças mal educadas? Então por que a surpresa dele ter infringido uma regra?

Max:
Droga! A pessoa mais próxima de TALVEZ se tornar meu amigo foi embora, e tudo por culpa minha.
Eu sou um ridículo mesmo.



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