CAFÉ EXPRESSO

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RESPIRO FUNDO ao me encostar no balcão.

Era sábado e a Coffee&Cia comumente ficava lotada. Quase todas as mesas estavam ocupadas e fregueses levantavam a mão várias vezes em busca de mais comes e bebes.

Uso a minúscula pausa para reajustar o nó do uniforme na altura da cintura e a touca que segurava meu cabelo para trás. Meu Deus, cada fio de cabelo encontrado em qualquer xícara servida me custaria metade do salário.

— Saindo mais um! — A voz de Spike soa atrás de mim e é minha deixa para me recompor.

Ele sai da cozinha em passos apressados e costumeiros com uma bandeja na mão e coloca com precisão à minha frente.

— Mesa quatro — Spike solta mecanicamente, mas estranhamente exibe um sorrisinho para mim. — Essa tinha que ser sua.

— O que?

— Não viu quem está aqui?

E ao buscar pela mesa quatro, a touca do uniforme pareceu espetar minha cabeça e meus pés ficaram quentes demais dentro dos all stars.

— Está brincando? — Pergunto ao me voltar para Spike. A cafeteira estava ainda mais quente.

— Não, meu amigo. É apenas seu trabalho — O garoto com traços orientais sorriu novamente antes de voltar correndo para a cozinha.

Olhei para a mesa mais uma vez e, sem ter muitas ou sequer outra opção, peguei a bandeja da bancada e caminhei em sua direção. O pedido não passava de um Café Mocha — como sempre.

Ao chegar à mesa, a garota não levantou a cabeça. Talvez nem tenha percebido minha presença. Ela se mantinha concentrada em um dos vários livros espalhados pela mesa e mordiscava uma das canetas também jogadas sobre o lugar. Ela usava apenas um dos lados do fone e o óculos pendia de seu rosto. No banco ao seu lado, tinha uma mochila preta meio aberta e, em cima dela, um jaleco branquíssimo dobrado cuidadosamente.

— Seu pedido, moça — Minhas palavras não soam tão robóticas quanto eu queria e tento me concentrar em colocar o copo de café em algum canto desocupado da mesa.

— Obrigada.

É sua única palavra sem ainda levantar a cabeça e me contento em colocar a bandeja debaixo do braço e caminhar de volta para o balcão.

Outros pedidos já me aguardavam e mal tive tempo de pensar à respeito. Da pequena janela da cozinha, eu conseguia enxergar a cabeça de Spike.

— Como foi? — Ele gritou atraindo a atenção de todos ao redor.

— Ótimo — Respondo com desdém. — Vamos nos casar semana que vem.

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