(8) Cabeças trocadas

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A casa era gigantesca. Entrei pedindo licença e evitando olhar muito para o cômodo, foi difícil por conta da curiosidade, mas por sorte minha educação venceu.

— Sente-se, não precisa ser tímido. Fique a vontade. Quer algo para beber?

Jm: Não, estou bem — Sento no sofá.

— Vou pegar algo para comermos enquanto conversamos.

  Sem delongas ele saiu por uma porta que julgo ser a da cozinha. Resolvo reparar em cada detalhe da casa, ou melhor, da sala.

  Nunca vi uma sala tão grande, todos os móveis são de luxo, a cor principal é o branco, tudo aqui é muito limpo e organizado. O que uma casa desse porte faz em um bairro tão mediano como esse?

  Abaixo a cabeça e foco nos meus pés. Eu só queria um momento de paz...

  Um som daquelas caixinhas de música percorreu pelas paredes. Levanto a cabeça para identificar de onde vem. Está vindo do segundo andar, é um toque leve.

  Algo vermelho na ponta do sofá chama minha atenção, eram tênis de uma criancinha. Deve ser de algum neto daquele senhor.

  Foi então que ouvi uma criancinha chorando.

  Olhei para a escada e vi que os brinquedos da criança iam até a parte de cima. O som vinha daquela direção. De longe.

  Mesmo com aquele som o moço não voltou, então me levantei e fui até a ponta da escada.

Jm: Oi! Você tá bem? — digo levemente alto.

  O choro ficou mais alto. Era como um chamado desesperado por minha ajuda.

  Senti um aperto no peito e uma voz interior disse para dar meia-volta, mas a criança precisa de ajuda. Ignorei o medo e segui os brinquedos. Lentamente no começo. Com todo o cuidado. Caminhei até um velho quarto.

  Assim que toquei a maçaneta, o choro parou e a música se foi. Vozes inundaram minha mente deixando tudo mais conturbado. No meio de toda aquela falação um sussurro predominou.

  Desculpe...

  Era tanto barulho que não reconheci a voz, e mesmo com a falação, abri a porta vendo finalmente o que aquela porta escondia. Estava esperando uma criança, mas nunca deveria ter abrido a porta.

  Fiquei em silêncio. Assustado por um segundo. Sabia que isso não estava certo, que não era normal.

  As paredes estavam tomadas por marcas de sangue. Em determinados lugares as marcas de mãos e arranhados denunciavam o desespero por uma salvação que nunca chegou. O chão também era tomado pelo vermelho quase preto. Roupas estavam jogadas por todo canto. Facas, fios e cordas mostravam como poderiam ser usadas para uma crueldade.

Bem no centro, duas crianças mortas estavam sentadas uma ao lado da outra no chão. Não tinham olhos, apenas buracos negros. O mais assustador foi perceber que as cabeças estavam trocadas. Isso embrulhou meu estômago.

  Tampei meus ouvidos por conta do aumento repentino das falações e os pedidos por socorro, mas nada adiantou, já que o barulho vinha de dentro da minha cabeça, eu não podia fazer nada para impedir.

Senti algo molhado em minhas mãos enquanto tentava inutilmente tapar meus ouvidos. Só então percebi que minhas mãos estavam sujas de sangue fresco.

  O terror correu por minhas veias.

— Garoto? Onde você está? — O senhor perguntou em um tom irritado.

  Não pensei muito, a adrenalina não permitiu que eu continuasse ali, corri pelo corredor e escolhi a porta que senti ser a melhor. Eu precisava me esconder daquele homem.

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⏰ Última atualização: Oct 03, 2022 ⏰

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