III. Céu laranja

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Acordei com um terrível incômodo sobre minha cabeça, tentava falhamente concentrar meu olhar sobre algo mas tudo parecia incrivelmente confuso, tudo estava muito embaçado e consideravelmente escuro. Era um lindo e aterrorizante mundo sem cores, um país das maravilhas onde eu parecia já ter perdido minha cabeça e estava apenas flutuando sobre um lindo mar sangrento. Esperei ingenuamente pelo encontro de minhas mãos com os meus olhos, um encontro que não ocorreu.

Dentro de alguns minutos naquela tortura pude finalmente começar a vislumbrar as figuras que encontravam-se à minha frente. Era um local desconhecido mas aquilo não foi capaz de assustar-me no momento, pois, meu cérebro ainda batalhava para enxergar algo e pensar. Era tão bobo mas eu não conseguia pensar direito, as palavras embaralhavam-se na minha cabeça antes que eu pudesse de fato entendê-las.

Concentrei meu olhar em minhas roupas, estavam enxarcadas por um líquido desconhecido a primeira vista, tinha uma aparência leve e transparente.

- Bom dia, pequena chapeuzinho. - Ouvi aquela voz dizer e então rapidamente olhei em sua direção, o lunático encontrava-se novamente a poucos centímetros de mim, seu rosto estava quase que colado ao meu.

Engoli em seco antes de pensar no que dizer, seu rosto encarava-me daquela mesma forma de antes, com fome, muita fome. Não que eu soubesse como era sentir isso mas eu via em seu olhar que ele queria algo, desesperadamente estava a esperar algo de mim. Era como se a qualquer segundo eu pudesse perder a cabeça ali, literalmente.

Passei meu foco então a seu último apelido, chapeuzinho? Pensei comigo mesma, estaria referindo-se a cor do meu cabelo? Esse era seu estilo, cheio de metáforas e mistério, quando você pensava ter entendido uma linha na realidade não havia compreendido sequer uma palavra. Apesar de tudo, era melhor não entendê-lo, isso poderia significar que você já estava perdido.

Ele começou a acariciar meu rosto e então a observar cada detalhe de perto, e então parou seu olhar na minha boca por alguns segundos antes de voltar aos meus olhos.

- Você tem um oceano intenso aí dentro, nunca se afoga? - Agora referia-se aos meus olhos, um azul profundo e estranhamente delicado.

Continuei a encará-lo sem pronunciar uma única palavra, afinal, que queria que eu dissesse? Não havia uma resposta para aquela pergunta, pensava eu, não há como se afogar dentro de um olho, isso é óbvio. Após alguns segundos me encarando a procura de uma resposta sua feição mudou-se para uma de puro ódio. O rapaz psicótico levantou inserindo um chute em minha direção o que fez novamente minha visão embaraçar, quando percebi estava com meu olhar fixado no chão, olhei mais uma vez para meu corpo e então pude finalmente reparar que estava amarrada em uma cadeira de madeira.

- Eu achei que você me entenderia, garota estúpida! - Berrou enquanto jogava uma mesa no chão e chutava alguns dos materiais de ferro em cima fazendo um barulho ensurdecedor.

Ouvi sua respiração pesada enquanto se sentava no chão e passava agora a encarar seus próprios dedos, parecia brincar com eles. Respirei fundo e continuei a pensar no que havia dito, por mais estranho que fosse eu comecei a sentir empatia por aquele ser, afinal, estava apenas buscando ser compreendido e eu entendia bem disto.

- Acho que não depende da intensidade, tampouco da profundidade ou calmaria do oceano. - Disse chamando sua atenção e ganhando novamente dois assombrosos olhos sobre mim. - Todos somos tão... Cheios, sabe? É impossível não se afogar.

O maníaco pareceu analisar minha resposta e então encostou sua cabeça na parede e caiu na gargalhada, ria tanto tanto que parecia chorar de tanto rir. Parecia que eu havia contado a piada do século.

Meu Doce Psicopata - Jeff The Killer {Nova Versão- Reescrita} Onde histórias criam vida. Descubra agora