Não sei por que os meus clientes pedem o que pedem, na verdade nunca me importei em saber, só faço o que tenho que fazer, papai me ensinou a não fazer perguntas quando não quiser saber as respostas, e eu acho que eu nunca quis saber de fato, a ignorância é uma dadiva no meu trabalho. Mesmo assim é curioso saber por que um homem tão importante quando o marquês de Leôncio iria desejar com tanto fervor a morto de qualquer um daqueles homens, mas já chega de devaneios, eu tenho um trabalho a fazer.
Todos os homens naquele ambiente eram iguais, falavam iguais, se articulavam iguais e bebiam o mesmo drinque nojento, as poucas mulheres eram prostitutas, elas riam, e faziam carícias nos homens quase inconscientes pela embriaguez. Entre todos eles só um me importava, não sabia o seu nome, não sabia como parecia, só sabia que tinha a tatuagem de uma ancora no braço esquerdo. Sem mover a cabeça, olhei em todas as direções, meus olhos são rápidos, sempre foram na verdade, isso é algo que ninguém precisou me ensinar, Alto os invejava, e papai os achava exóticos, mas não únicos. Observei vários braços, magros, fortes, gordos, mas o que me chamou atenção foi um musculoso de um marinheiro, ele estava sentado numa mesa com três outros marinheiros, bebendo e gritando mais auto que os outros dois, quando ele levantou o braço esquerdo para levar o copo à boca à manga do seu uniforme desceu, e eu pude ver a ancora no seu antebraço, "Ele é canhoto" eu pensei, interessante, eu também sou.
- O que você tá olhando? – Perguntou-me o Barman enquanto enxugava uma caneca – Pessoas como você não se tão bem por aqui.
- Como assim "pessoas como eu"? – O homem se aproximou, se apoiando no balcão, quase pude ver o meu reflexo na sua careca, e com uma cara de repulsa ele disse.
- Acha que é o primeiro mercenário que entra aqui? – Mercenário, odeio essa expressão, mercenários são porcos! Sem técnica ou regras, só matam por dinheiro! Bem, eu também, mas meu trabalho e bem mais extenso do que apenas matar, apesar de atualmente ser o mais requisitado.
- Volte a lavar as suas canecas homem, e talvez eu não te mate.
Ele se afastou, e passou mão por de baixo do balcão, eu não sei se ele iria pegar uma arma, na verdade não esperei pra ver, antes que ele pudesse tirar seja lá o que for, o puxei pelo colarinho e acertei seu queijo no balcão com força o suficiente para rachar a madeira, caiu duro no chão, no meio de todo aquele barulho, e bêbados, poucos repararam, e os que notaram, consegui assusta-los com uma leve ameaça ou um olhar sinistro, acredite esse tipo de coisa funciona no meu trabalho. Dei uma volta para o lado de dentro do balcão, passei pisando por cima do careca desacordado e enchi uma caneca daquela bebida nojenta três vezes maior que o copo que o homem da ancora estava tomando.
- Aqui senhor! uma dose especial pelos seus serviços prestados nos mares – Ele nem se deu o trabalho de olhar na minha cara, pegou a caneca, deu uma gargalhada e se recusou a dividir com os seus amigos que reclamaram por não terem recebido o mesmo.
Depois de vinte minutos esperando, comecei meus devaneios novamente, sempre achei que se usasse veneno seria bem mais rápido, apesar de conhecer muitos, nunca foi o meu estilo usa-los, a verdade é que eu sempre gostei de um bom confronto, encontrar alguém forte que me desafie, sempre foi emocionante, aliais é uma pena eu não poder usar Luma nesse trabalho em especifico, mas ainda posso fazê-lo sangrar, de dentro daqueles trapos tirei o meu anel, era prateado com uma pedra vermelha, era tudo que eu precisava, finalmente ele se levantou, cochichou alguma coisa entre os amigos e saiu.
Levantei-me e o segui, ele andou até o porto ao lado do bar, eu me aproximei por trás sem fazer barulho, tirei a pedra do anel, e uma agulha grossa saltou para fora, era afiada, tão afiada quando Luma. Enquanto o homem ancora tirava o uniforme, com um movimento rápido e limpo enviei a agulha no seu pescoço, ele nem viu o que o acertou, primeiro o sangue estourou para dentro, quando direi a agulha um esguicho fino de sague jorrou para fora, foi um furo peque, mas profundo, até caiu um pouco no meu rosto, sangue nunca me incomodou, me incomodava menos que a poeira. Larguei o corpo do ancora ali mesmo, devolvendo o marinheiro de volta ao mar, e ver o corpo e água ao redor dele se envolver em vermelho à medida que ele afundava, ironicamente igual a uma ancora.
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Simon
Short StorySimon é um assassino e usa um guar-chuva. Foi treinado deste pequeno pelo pai nas artes do assassinado e a como ser um bom mordomo.