-POV NOAH-(CONTINUAÇÃO)
Desci a escada correndo sem olhar pra trás e abri a porta do carro esporte preto. Eu odiava aquele carro e o fato de ele combinar perfeitamente com a motorista. "Classuda", "elegante" e "cara" são as palavras pra descrever minha companheira de viagem. Enquanto a gente saía do estacionamento, a Lucy gritou e fez um gesto me mandando tomar no cu. Minha motorista revirou os olhos e disse bem baixinho: "Quanta classe". Ela tava acostumada com as ceninhas que as minas faziam quando eu as despachava na manhã seguinte. Já até tive que trocar o para-brisa dela uma vez, quando uma atirou uma pedra em mim quando eu estava indo embora, mas errou o alvo.
Ajustei o banco para ter mais espaço pras minhas pernas compridas e fiquei à vontade, com a cabeça encostada na janela. Mais uma viagem longa e dolorosamente silenciosa, como sempre. Algumas vezes, tipo hoje, eu dava graças a Deus pelo silêncio. Outras, aquilo me dava nos nervos. A gente se conhecia desde o Fundamental, e aquela mina sabia de cor todas as minhas qualidades e as minhas fraquezas. Meus pais gostavam dela como uma filha e nem disfarçavam que, na maioria das vezes, preferiam sua companhia à minha. Depois de tudo o que passamos juntos, os bons e os maus momentos, devia ser fácil jogar conversa fora por horas e horas.
– Você vai manchar meu vidro encostado aí– ela disse.
Aquela voz – de cigarro e uísque – não combinava com ela, que tava mais pra seda e champanhe. Sempre gostei da voz dela. Num bom dia, eu poderia ouvi-la por horas e horas.
– Pode deixar que eu mando lavar e encerar – respondi.
Ela bufou. Fechei os olhos e cruzei os braços. Estava tudo na boa pra ser uma viagem silenciosa. Mas, pelo jeito, hoje a mina tava a fim de conversar. Quando a gente pegou a estrada, ela baixou o volume do rádio e me chamou.
– Noah.
Virei de leve a cabeça e meio que abri um olho.
– Any.
Aquele nome era sofisticado como a dona, que tinha pele morena, cabelo moreno quase e uns olhos pretos que pareciam pedras negras preciosas. Ela não era tão baixinha assim,ela era uns dez centímetros mais baixa que eu, que tenho 1,73. Mas tinha umas curvas... É o tipo de mina que não dá pra parar de olhar. Mas, quando ela olha de volta com aqueles frios negros,o cara vê na hora que não tem a menor chance. A Any tem um ar de inatingível, do mesmo jeito que umas minas têm cara de "me pega".
Ela deu um suspiro e eu fiquei olhando uma mecha de cabelo enrolar na testa. Any me olhou de canto de olho, e eu fiquei passado quando vi que ela tava apertando o volante pra caramba.
– Que foi,Any? – perguntei.
Quando ela mordeu o lábio, vi que estava mesmo nervosa.
– Imagino que não tenha ligado de volta pra sua mãe nenhuma vez esta semana... – ela respondeu.
Não posso dizer que me dou bem com meus pais. Falando a verdade, a gente se tolera, não muito mais que isso. E esse é o motivo da minha mãe obrigar a Any a me arrastar até a casa dela todo fim de semana. A gente nasceu numa cidadezinha chamada Brookside, numa parte rica do Colorado. Mudei pra Denver assim que terminei a escola, e a Any veio uns anos depois. Ela é um pouco mais nova do que eu e sempre quis estudar na Universidade de Denver, a UD. Já não bastava parecer uma princesa dos contos de fada, ela ainda tinha que estudar Medicina! Minha mãe sabia que, de jeito nenhum, eu iria dirigir duas horas todo fim de semana só pra fazer uma visita. Mas, se a Any fosse me buscar, teria que ir. Não só porque me sentiria culpado porque a garota arranjou um tempo naquela agenda louca dela. Mas também porque ela pagava a gasolina, esperava eu rastejar da cama e arrastar minha bunda todo domingo, há dois anos, sem exceção, sem reclamar nem uma vez.
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Na sua pele-NOANY
Romance"Mas ela tem uma coisa que não sei explicar. O jeito de se curvar sobre mim, de dizer meu nome suspirando como se estivesse rezando, o cheiro de luz do sol e doçura e tudo de mais delicioso..." Any Gabrielly é uma garota perfeita, o sonho de consumo...