-POV NOAH-(CONTINUAÇÃO)
– O Remy não ia ficar enchendo meu saco pra eu ser outra pessoa só por causa deles. Pros meus pais, nunca prestei nem vou prestar. Ele entendia isso melhor do que ninguém e se matava pra corresponder às expectativas deles, coisa que nunca vou fazer.
Ela suspirou e parou o carro na entrada, atrás da SUV do meu pai.
– A única diferença entre você e o Remy é que ele se permitia ser amado, e você... – a mina abriu a porta do carro com força e ficou me olhando – ...sempre fez questão de obrigar quem gosta de você a provar isso com todas as letras. Você nunca quis ser fácil de ser amado, Noah, e faz de tudo pra deixar isso bem claro.
A Any bateu a porta do carro com tanta força que meus dentes de trás bateram também, e minha cabeça começou a latejar de novo.
Faz três anos. Três solitários anos, vazios e dolorosos desde que os irmãos Urreas deixariam de ser um trio para virar uma dupla. Eu me dou bem com o Rome. Ele é demais, meu modelo de cara durão. Mas o Remy era minha alma gêmea, em todos os sentidos. Era meu gêmeo idêntico, e a gente se completava: ele era a luz, eu era as trevas; o fácil contra o difícil; a alegria e a angústia; perfeição perto do zoado. Sem ele, vou ser sempre incompleto. Faz três anos que liguei pro Remy de madrugada, pedindo pra ir me buscar numa festinha ridícula porque eu tava bêbado demais pra dirigir. Três anos desde que meu irmão saiu do apê que dividia comigo pra me buscar, sem fazer nenhuma pergunta, porque era isso que ele fazia.
Faz três anos que ele perdeu o controle do carro na estrada, que estava molhada e escorregadia, e bateu na traseira de um caminhão pequeno a mais de 130 por hora. Três anos desde que a gente enterrou meu irmão gêmeo, e minha mãe me olhou, com os olhos cheios de lágrimas, e disse "devia ter sido você", sem fazer rodeios, enquanto baixavam o caixão dele na cova.
Faz três anos que só de ouvir o nome do meu irmão minhas pernas tremem, ainda mais quando a única pessoa no mundo que o Remy amava tanto quanto eu é quem tá falando.
Ele era tudo o que eu nunca fui. Arrumadinho, bem vestido, tinha planos de fazer faculdade e construir um futuro seguro. A única pessoa no mundo boa e classuda o suficiente para bater a magnificência que ele tinha é a Any Gabrielly. Os dois viraram unha e carne desde a primeira vez que meu irmão levou a mina na casa dos meus pais. Ela tinha catorze anos e tava tentando escapar da fortaleza da dinastia Soares. O Remy ficava dizendo que os dois eram apenas bons amigos, que amava a Any como irmã, que só queria protegê-la daquela família horrível e insensível dela, mas tratava a garota com muita reverência e cuidado. Eu sabia que ele amava aquela mina e, já que meu irmão gêmeo nunca podia estar errado, a Any logo se tornou um membro honorário da minha família. Por mais que isso me amargurasse, ela era a única que entendia mesmo, de verdade, o quanto minha dor era profunda.
Eu precisava de mais uns minutos pra conseguir coordenar meus pés, então engoli o resto do café e abri a porta com um empurrão. Não fiquei surpreso quando vi uma figura alta dando a volta na SUV enquanto eu penava pra sair daquele carro esporte. Meu irmão era uns três centímetros mais alto do que eu e tinha o corpo mais atlético. Usava o cabelo castanho raspado, típico de militar. Tinha olhos verdes-claros, do mesmo tom dos meus, mas os dele pareciam cansados, e ele deu um sorriso forçado pra mim. Dei um assovio porque o cara tava com o braço esquerdo engessado, numa tipoia, usava uma daquelas botas ortopédicas e tinha uma linha feia de pontos pretos que ia da sobrancelha até a testa. O marginal que atacou meu cabelo também tinha pegado meu irmão.
– Tá com a cara boa, hein, soldado?
O Rome me puxou e deu um abraço, com um braço só. Me encolhi quando senti um curativo enorme nele, sinal de que o cara tinha algum outro ferimento além das costelas zoadas.
– Minha cara tá tão boa quanto minha disposição. E você tava com cara de palhaço descendo daquele carro.
– Sempre fico com cara de palhaço quando tô perto daquela mina.
Ele deu risada e passou a mão pesada no meu cabelo.
– Você e a Any ainda são inimigos mortais?
– Tá mais pra conhecidos que não se curtem. Ela continua sendo a mesma enjoada de sempre e fica me julgando. Por que você não me ligou ou me mandou um e-mail contando que tinha se machucado? Tive que ficar sabendo pela Any, que me contou no caminho pra cá.
A gente foi indo devagarinho até a porta da casa, e ele ficou soltando um monte de palavrão.
Fiquei chateado de ver que meu irmão estava calculando cada movimento, e imaginei se o estrago tinha sido maior do que dava pra ver.
– Fiquei inconsciente depois que o jipe capotou. A gente passou por cima de uma bomba caseira, e a coisa foi feia. Fiquei no hospital uma semana com a cabeça toda zoada e, quando acordei, tiveram que fazer uma cirurgia no meu ombro, aí fui dopado. Liguei pra mamãe e imaginei que ela ia dar um jeito de te contar o que tava rolando, mas fiquei sabendo que, como sempre, você não atendeu.
Encolhi os ombros e espichei a mão pra ajudar meu irmão a se equilibrar, porque ele vacilava um pouquinho pra subir os degraus da frente de casa.
– Eu tava na correria.
– Você é cabeça-dura.
– Nem tanto. Tô aqui, não tô? E só fiquei sabendo que você tava aqui hoje de manhã.
– Você só tá aqui porque aquela menininha ali está determinada a manter essa família, que não é a dela, unida. Agora vai entrar e bancar o bom filho. Senão, encho você de porrada, de braço quebrado e tudo.
Resmunguei umas frases bem feias e entrei em casa atrás do meu irmão todo machucado. Domingo é definitivamente o pior dia de todos.
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E ACABAMOS DE CAPÍTULOS POR HOJE(INFELIZMENTE) SE VOCÊS COMENTAREM BASTANTE E VOTAREM PODE SER QUE AMANHA TENHA UMA MARATONA(PEQUENA) CASO NÃO SÓ DOIS OU TRÊS CAPÍTULOS,TUDO DEPENDE DE VOCÊS...
TCHAU E UM BEIJO NA BUNDA😘✌
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Na sua pele-NOANY
Romance"Mas ela tem uma coisa que não sei explicar. O jeito de se curvar sobre mim, de dizer meu nome suspirando como se estivesse rezando, o cheiro de luz do sol e doçura e tudo de mais delicioso..." Any Gabrielly é uma garota perfeita, o sonho de consumo...