Não havia muito que ela quisesse levar consigo, pelo menos não além de suas roupas. Quando finalmente terminou de arrumar a mala com seus trajes favoritos, ela tentou polir o peitoral de sua armadura nova, não que isso fosse ajudá-la caso precisasse lutar, mas haviam rumores de que alguns arquiduques estariam presentes na cerimônia de entrada e isso já foi o suficiente para fazer com que toda a sua família a pressionasse a estar impecável.
Assim que ela ouviu um dos toques ecoarem desceu imediatamente para se despedir de sua família, e quando entrou na sala, foi surpreendida por vários de seus amigos de vizinhança esperando por ela. Eles pareciam bastante ansiosos, e assim que a viram entrar, se levantaram e começaram a aplaudir e assoviar.
- Vocês são lunáticos! – Gysha riu lacrimejando quando sua melhor amiga, Mikka, pulou nela e a abraçou com força – lunáticos como gnomos bêbados!
- E você é tão chata quanto um furnal idoso! – a flughal riu quando Uria, que era um furnal, olhou para ela com cara braba – pode sossegar! Você ainda é bem novinho... quase uma flor!
- Vá a merda – o garoto mostrou a língua enquanto se aproximava das duas com uma caixa quadrada – estamos aqui para nos despedir da estrela do dia de hoje – o garoto deu um sorriso morno e fez uma reverência estúpida, enquanto o restante das pessoas no cômodo voltaram a assoviar.
- Obrigado por virem, pensei que só veria vocês novamente daqui... um ano? - pelo menos era o que ela esperava – sentem a bunda de vocês ai e parem de fazer tanto barulho, ou minha mãe vai acabar vindo aqui e fatiando todo mundo.
Conforme seus amigos a abraçavam e cumprimentavam, eles começaram a sentar e tagarelar. Ela sempre se afundava em pensamentos quando saia com todos eles juntos, era quase assustador eles terem se tornado amigos mesmo sendo tão diferentes. Até mesmo Mikka, que se tornou sua amiga mais próxima pouco tempo depois de ela se mudar para a capital, era uma extrovertida esquisitona que passava horas a fio falando sobre teorias bizarras como "a desvalorização da moeda", "esgotamento da água" e outras coisas sem o menor pingo de sentido.
Quando seu seu pai, acompanhado de Albaris, entrou na sala com bandejas cheias de pães-doces, a pequena caixa que estava parada no colo de Uria deu um pulo que fez Gysha pular junto com o susto.
- Eu quase esqueci de te entregar esse monstro – ele pegou a caixa no chão enquanto ela tremia descontrolada e a levou para Gysha, que olhou para sem entender nada – não se preocupe, se ele te morder, o máximo que vai acontecer é doer MUITO.
- Mas que diabos? – ela falou olhando vidrada enquanto ele retirava a tira da caixa – vocês não trouxeram a merda de um cachorro para tentar me assustar, né seus retardados?
Depois de fazer força e abrir um vão na caixa, uma coisa felpuda e esverdeada pulou para fora, enquanto ele tentava tirar o restante da tira, a orelha comprida começou a balançar muito agitada.
- Não, é algo muito mais inútil do que um cachorro – Lasha, com suas asas vermelhas encolhidas em sua clássica expressão de nojo, olhou para ela como se estivesse com pena – eu até tentei convencer eles a te dar uma espada boa, ou alguma coisa que você realmente pudesse usar...
- Caaaala a bocaaaaa – Mikka jogou um pedaço solto do pão-doce que recebeu na cara da anjo, o que fez o pai de Gysha a encarar emburrado – você vai adorar essa peste linda.
A coisa que estava dentro da caixa pulou na cara de Uria, derrubando ele no chão e então subiu agitado no colo de Albaris, que estava espantada.
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As Crias Inferiores
FantasyAdaptação do primeiro livro da trilogia Erfesta Reunida, que trabalha a história, cultura e criação do Império Humano no mundo de Eternus. As Crias Inferiores conta a história da conquista do continente de Napala pelo ponto de vista de Gysha, uma...