dois.

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A segunda vez que Scott tentou falar com Isaac aconteceu apenas três dias depois da primeira. Ele estava na biblioteca e, felizmente, conseguiu escrever duas folhas do seu trabalho no final de semana.

Ele sentou em uma das mesas do lugar e começou a ler as folhas que escrevera. Não estava ruim, na verdade, ele acreditava que tinha conseguido captar a essência do filósofo e do que ele acreditava.

Mas era tudo muito genérico, nada ali era específico sobre o amor. Podia ser aplicado na temática, mas não era a temática em si.

Sua cabeça começou a querer doer mais uma vez e ele levantou o olhar das palavras, suspirando e passeando seus olhos para a biblioteca quase vazia.

O Sr. Argent, aquele que tomava de conta do local, estava em sua bancada que ficava perto da entrada. Ele conversava com uma garota de cabelos longos e escuros. Era Allison, sua filha. Ela cursava História e teve algumas cadeiras em comum com Scott. O moreno até pensou gostar dela romanticamente, porque achava bonita as covinhas que se formavam em seu rosto quando sorria, o jeito desafiador que ela levantava uma sobrancelha quando alguém duvidava dela. Porém, quando realmente a conheceu, soube que não era nada mais do que atração. Ela era linda, inteligente e meiga. Porém, em relação a Scott, não havia nenhuma faísca que o instigasse.

Os olhos de Scot voltaram a passear pelas mesas até encontrar um ponto que o interessava. Ou melhor, uma pessoa.

Isaac estava escrevendo algo em seu caderno ao passo que lia um livro. Provavelmente era um resumo de alguma matéria. Isso plantou uma dúvida na mente de Scott.

Qual seria o filósofo e o tema que Isaac havia pego?

Resolveu observar por alguns minutos para ver se ele olhava para cima e Scott iria fingir que acabara de notá-lo ali. Porém, seja lá o fosse que Isaac estava escrevendo, ele não parava. Quer dizer, ele fazia um pausa mínima para ler algum parágrafo ou página, mas logo voltava a escrever.

Você está realmente se tornando um stalker, Scott, o moreno pensou enquanto suspirava e desistia de esperar ser notado. Juntou todos os seus matérias da mesa em sua mochila e se levantou, andando até Isaac.

Chegou à mesa do loiro e percebeu que seria muita falta de educação interromper os estudos do outro, então só sentou na cadeira mais próxima - bem de frente para Isaac - e tirou as suas coisas novamente.

O loiro pareceu, finalmente, notar sua presença e enrrugou sua testa para Scott. Ele já estava quase se acostumando com essa reação pela quantidade de vezes que Isaac a tinha, então, apenas sorriu em resposta e voltou a ler o seu trabalho.

David Hume era, sem dúvida alguma, um cético quanto a tudo e todos. Ele acreditava que, para ter-se a ideia de algo, primeiro tinha-se que ter experimentado tal coisa, o que, consequentemente, anulava o conceito de que poderíamos ter a sensação de algo sem ter vivido. Como sonhar com o toque de alguém que você, ao menos, chegou a ficar próximo. Para Hume, isso era impossível, pois, como poderia eu, alguém inexperiente em qualquer assunto, saber sobre ele?

Scott gostava daquela introdução que havia feito, apesar de não acreditar no que estava escrito. Até essa parte, tudo estava indo bem, só que a dificuldade de continuar a escrever algo que, em seu ver era tão radical e mentiroso, acabou o vencendo. Ele bateu a cabeça delicadamente contra a mesa e ouviu um pequeno riso.

"Tendo dificuldades com David?" A voz de Isaac se fez presente em um tom baixo.

"Você não faz ideia." Scott resmungou enquanto olhava seus papeis com uma raiva mal contida. "Quanto mais eu leio sobre ele, menos eu entendo o porquê dele ser tão.."

"Radical no que acreditava." Isaac disse quando percebeu que Scott não havia encontrado as palavras.

"Exato."

"É porque você está pensando pelo seu ponto de vista." O loiro falou simplesmente, como se já tivesse percebido que esse era o problema desde o início.

"Como assim?" Scott perguntou confuso, olhos totalmente focados em Isaac.

"Você não pensa como esse filósofo." Ele respondeu, seu olhar direcionado ao movimento que fazia com a caneta em suas mãos. "Então, tudo ou quase tudo que ele pregava não faz sentido para você. É como se você tivesse se bloqueado para entender o lado dele nisso tudo."

"Peter disse que seria interessante nos colocarmos no lugar do outro." Scott fala, parecendo entender o ponto de Isaac.

"Exatamente. Você já tem tão intrínseco em si tudo o que você acredita, que se torna difícil assimilar o diferente. O que não é de acordo com você." O mais alto suspira, parecendo um pouco cansado. Como se toda aquela situação não fosse nova para ele.

"Isso faz muito sentido." Scott concorda abobado. Estava tão focado no problema que não havia parado para pensar em como resolvê-lo. "Mas como eu me coloco no lugar de uma pessoa, sendo que eu não vivi o que ela viveu?"

Isaac solta um pequeno sorriso antes de responder. "Você já começou a entender sem nem mesmo perceber. A resposta para isso é: você não pode colocar-se no lugar daquela pessoa como se você tivesse vivido o que ela passou."

"Por que ideias, conceitos só surgem com a experiência." Scott completou visivelmente animado por ter compreendido a linha de raciocínio do outro.

"Então, o que você deve fazer se não pode viver algo que fez David ser o que ele foi?" Isaac perguntou enquanto organizava seus livros dentro da bolsa, um sorriso raro preso nos lábios enquanto esperava por sua resposta.

"Achar alguém que viveu." Scott responde e olha o loiro se levantar. Isaac assente e diz um 'boa sorte' antes de sair dali, deixando Scott, mais uma vez, sozinho com os seus pensamentos.

Ele sorriu para o lugar que antes Isaac ocupava e voltou os olhos para o seu trabalho, mente vagando entre o que fora dito pelo loiro e o jeito convicto que ele falara.

Espero que possam deixar as suas impressões e, estou amando essa ideia que surgiu em meio a uma aula de filosofia.

que scisaac esteja com você

~yas

como saber o que é amar?; 𝒔𝒄𝒊𝒔𝒂𝒂𝒄Onde histórias criam vida. Descubra agora