quatro.

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A segunda feira chegou mais rápido do que Scott queria. Era a terceira semana que se iniciava desde o dia que Peter havia passado o trabalho.

E o moreno estava decepcionado consigo mesmo, porque havia procrastinado todo o final de semana, dividindo seu tempo entre as séries que gostava e os pensamentos sobre Isaac.

Era uma sensação velha e ao mesmo tempo nova. Ele sabia que estava começando a gostar de Isaac de uma maneira diferente e, principalmente, ele sabia que não queria parar de sentir isso.

Suas interações eram limitadas a pequenos diálogos sobre David Hume, acenos que Scott dava início no meio de alguma aula ou na biblioteca. E era isso.

E Scott queria mais. Ainda se lembrava da vontade repentina que teve de segurar a mão de Isaac na noite de sábado e, por pouco, não havia concretizado tal vontade, porque ele sentia que o loiro tinha passado por algo na vida.

Algo que o impediu de saber o que era o amor.

"Você." Ele diz a Isaac em uma tarde que tiveram livre no meio da semana, o loiro sentado no gramado verde do lado de fora universidade enquanto estava escorado em uma árvore.

"Eu?" Perguntou confuso e fechou o livro em suas mãos, olhos focados na figura morena e de pé em sua frente.

"Exatamente." Scott sorri largamente e se apressa para sentar ao lado do outro, mas para no meio do caminho, algo apitando em sua mente. "Posso me sentar com você?" Ele pergunta receoso, sua animação querendo esvair-se.

"Claro." Isaac responde enquanto se afasta um pouco, dando espaço para Scott sentar ao seu lado, ombros tocando levemente um no outro.

"A pessoa que eu preciso é você." O mais baixo diz após acomodar-se, virando o rosto para Isaac que tinha adquirido um tom avermelhado em suas bochechas e um olhar surpreso. "Para falar do trabalho. Sobre David Hume." Scott completa e suspira envergonhado, olhos voltados para os pequenos grupos de universitários mais afastados dali.

"Ah." Isaac fala baixo e Scott pode jurar que ouviu uma ponta de desapontamento em sua voz, mas não tivera tempo de confirmar. "Eu posso ajudar." Completa e lança um sorriso pequeno a Scott.

Ok, Scott, o moreno pensa ao passo que encara o rosto de Isaac com um carinho mal disfarçado, esse não é o melhor momento para deixar a sua paixão recém descoberta aflorar.

"Obrigado." Ele sorri de volta e pega um caderno de sua mochila, bem como uma caneta e seu telefone. "Eu fiz algumas perguntas que estão me deixando travado nesse trabalho, então, se você poder responder.."

"Aham." Isaac fala e volta o seu olhar para a grama a sua frente. "Pode fazer agora, se quiser."

"David era radical." Scott começa com celular na mão gravando tudo. "Mas eu posso perceber que você não acha que ele seja, então, o que te faz pensar diferente?"

"É evidente que ele é racional, apesar de ir contra o que todos, na época, chamavam de fatos." O loiro inicia e junta suas duas mãos sobre o colo. "Por ser racional, ele acreditava que nada era constante, porque tudo que ele observava mudava. Tudo. Então, ele não era radical ao dizer que conceitos advém pós posto a uma experimentação. Era como as coisas eram. Ou melhor, são." Isaac dá de ombros, tentando não se empolgar muito com o assunto.

"Deve ter sido muito ruim viver assim. Na incerteza sobre tudo." Scott fala e volta o seu olhar para Isaac, esquecendo-se que encarar poderia ser considerado muito estranho.

"Você se acostuma." Isaac fala com propriedade, olhos azuis brilhando intesamente. "E não é que ele não tinha certeza das coisas, ele só não acreditava que um única experiência de algo podia ser tida como fato."

"Como assim?" O moreno questiona enquanto mantém os seus olhos no outro, corpo virado para ele.

"Ok, vou dar um exemplo." Isaac diz e pensa por alguns segundos antes de falar. "Pense sobre o Sol. Você acha que ele vai nascer amanhã?

Scott piscou surpreso com o exemplo, mas respondeu. "Eu acho que sim."

"E por que você acha isso?"

"Porque ele vem nascendo todos os dias, há muito tempo." Fala rapidamente.

"Mas.." Isaac se vira para Scott, um sorriso mínimo em seu rosto. "E se ele não nascer amanhã?"

"Mas ele sempre nasce." O moreno afirma.

"No passado." O loiro diz e, ao ver a cara do outro, elabora melhor. "Você tem as experiências passadas que lhe dizem que o sol nasce todos os dias, mas, ainda existe a probabilidade dele não nascer amanhã."

"Ok." Scott fala. "E o que você quis dizer com isso?"

"Que o fato de nós termos experiências passadas acerca de algo, não significa que sabemos o dia de amanhã. Não temos certeza, apesar de acreditarmos." O loiro termina e encara os olhos castanhos do outro, o sorriso minguando e seus lábios. Scott não responde de primeira, apenas retribui o olhar. Sua respiração muda um pouco e ele percebe que está ficando ansioso, as órbes azuis em si lhe deixava inquieto.

"E sobre o amor?" Ele pergunta depois de alguns segundos constrangedores e percebe as bochechas de Isaac ganharem uma coloração avermelhada. "Você fica adorável quando está corado." Scott fala e arregala os olhos, desespero tomando seu corpo porque ele havia dito aquilo em voz alta. Meu Deus, ele era um caso perdido, com toda certeza.

"Você não sabe o que é amor se nunca amou." Isaac diz apesar da frase do outro. "Eu nunca conheci o amor, então, se alguém me perguntasse o que isso é, eu não saberia responder." Completou baixo, como se revelasse um segredo. E talvez estivesse.

"Nunca?" O moreno pergunta e engole em seco, maxilar travado. 

A distância entre o casal ia diminuindo gradativamente.

"Nunca." Ele confirma e respira fundo.

Scott sente uma súbita raiva tomar seu corpo, imaginando as diversas razões para aquilo ter acontecido. Isaac deveria saber o que era o sentimento do amor. 

"Eu queria.." O moreno começa, mas para no meio da frase. O que ele diria? Que queria mostrar para Isaac o que era o amor? Aquilo era um pouco (muito) extremo demais e, apesar de seus sentimentos pelo garoto, aquilo era uma responsabilidade muito grande.

Amor era algo importante.

"Você já tem tudo que precisa?" Isaac fala em algum momento, olhos focados no chão. Scott apenas assente, observando enquanto o loiro murmura um 'bom' e levanta, saindo dali rapidamente.

Mais tarde, o moreno sente um gosto amargo em sua garganta quando está deitado em sua cama, a vontade de ter terminado a frase ainda parecia querer dominá-lo.

Arrependimento queimando seu estômago.

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oi pissual, como 6 vão? eu demorei, as cheguei, ent, espero que tenham gostado e possam me dar suas impressões.

como saber o que é amar?; 𝒔𝒄𝒊𝒔𝒂𝒂𝒄Onde histórias criam vida. Descubra agora