três.

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Ele precisava de um título para o seu trabalho. E de uma pessoa que acreditava nas palavras de David Hume e poderia explicar a Scott como diabos alguém pensava assim.

Só isso, o moreno pensou frustrado.

Além disso, o filósofo acreditava que verdades constantes e inquestionáveis eram uma mentira. Sempre tínhamos que renovar as nossas experiências para ter-se uma verdade, e ela ainda poderia ser contestada com o passar do tempo. Em sua teoria, tudo estava em constante metamorfose, nunca se podendo aplicar uma imutabilidade.

Aquele era o segundo parágrafo introdutório do texto que Scott estava desenvolvendo para usar como roteiro. Peter havia dito que não era preciso grandes apresentações, até porque ele não teria tempo para ver um bando de jovens discursar sobre os seus achismos da filosofia. Palavras dele, obviamente.

"Você parece estar sofrendo com esse trabalho." Boyd comenta sem tirar os olhos do seu livro, costas no travesseiro da cama.

"E eu estou." Scott responde e resmunga logo sem seguida, olhos focados no seu computador enquanto estava sentando a sua escrivaninha. "Qual foi o seu filósofo?"

"Eu peguei Platão." Ele responde e mostra o livro em mãos. Alegoria da Caverna. "E a razão."

"Isso é tão injusto." Scott fala com um resmungo. "Platão deixou bem claro o que ele acha da racionalidade. Esse tema era, literalmente, um dos que ele mais trabalhava."

"Eu sei." Boyd diz e volta a sua atenção para as palavras.

Scott suspira mais uma vez e decide dar-se um tempo desse trabalho. Ele já estava no final da segunda semana, faltando apenas mais duas para o dia da apresentação, e só havia escrito dois parágrafos que iria realmente usar.

"Você conhece o Isaac, não é?" Scott se vê perguntando a Boyd, que franze o cenho e olha para o outro por alguns segundos antes de responder.

"O garoto loiro, alto e pálido que estuda com a gente." Ele descreve lentamente. "Típico padrão estadunidense, na verdade."

"Esse não é o ponto." Scott fala e balança as mãos, como se estivesse empurrando as palavras. "Eu estou falando conhecer mesmo, se você fala com ele com frequência."

"De vez em quando." O mais alto fala e se levanta. "Eu, ele e Érica costumamos sair em alguns finais de semana."

"Eu nunca saí com ele." Scott diz com uma sensação estranha no estômago e mal percebendo o olhar duvidoso do amigo.

"Você pode vir, se quiser." Boyd dá de ombros, guardando o livro na estante que ficava do seu lado, na parede sobre a cama. "Vamos sair hoje, acho que eles não se importariam."

"Que horas?"

"Eu vou encontrar a Érica no lado de fora do campus dos dormitórios agora." Falou e caminhou até a porta. "Apareça em uns 30 minutos."

"Ok." Scott responde e Boyd some atrás da madeira, fechando a porta com uma certa quantidade de força desnecessária. Ele não tinha consciência do quão forte ele era.

Scott olha mais uma vez para o seu trabalho. Um suspiro irritado sai de seus lábios e ele desliga o computador, levantando de sua cadeira e partindo para tomar um banho.

E, enquanto caminha até onde Boyd disse que estaria, ele pensa se realmente deveria estar indo. Afinal, aquilo era um programa entre amigos e Scott sentia que estava se intrometendo no meio de algo, mas, ao ver Isaac perto de Boyd e Érica, rindo fervorosamente e completamente vermelho por conta do esforço, suas dúvidas foram carregadas como a areia da praia era levada pelo vento.

como saber o que é amar?; 𝒔𝒄𝒊𝒔𝒂𝒂𝒄Onde histórias criam vida. Descubra agora