《•》Capítulo Um《•》

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~ Evan

   Essa voz...
   Pairando em minha mente, ao pé do meu ouvido.
   Eu já não aguento mais, não sei por mais quanto tempo irei suportar.
   O som do relógio me apressando cada vez mais com o seu "Tic, tac"

   Informando que não há mais tempo.
   Ele está acabando...


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~ Narrador


   Era só mais uma das muitas noites no Orfanato da Santa Misericórdia. Evan, um menino diagnosticado recentemente com esquiozofrênia, dono de cabelos negros como o ébano e detentor de enormes olhos de igual cor, andava por aqueles longos corredores repletos de almas vazias.

   Havia pouca iluminação, essa qual era feita por lampiões de velas gastas e baratas.

   Era assim todas as noites... Todas as vagas noites! Desde que fora parar ali após a morte dos...

   Em uma parada brusca, Evan tenta lembrar -se como fora parar naquele lugar tão peculiar. Sua mente divaga enquanto seus olhos ávidos buscam por respostas perdidas no ar.

   Recorda-se do momento da fatalidade e todo o caminho que o levou até ali, há cerca de um ano. Era apenas um menino de 9 anos quando tudo aconteceu, com tão pouca idade mas já suportava uma enorme bagagem.

  Um casal!

   Esclarece para sua mente antes de assentir para si mesmo e continuar o trajeto. Era apenas um casal distinto, sem cor, sem identidade, sem rosto, sem nomes... Tudo do que tinha se convencido.

   Sua única certeza, naquele momento, era de seu nome já que o ouvia constantemente pela língua de almas esquisitas que vagavam pelo enorme prédio que o hospedava.

   Naquela noite ele estava andando sem rumo, sua mente já estava tomado pelas vozes que faziam seus pés  deslizarem pelo chão, apenas acatando ordens.

  Ali, nos corredores, estavam distribuídos alguns dos monitores que observavam os passos de Evan e que recusavam-se a aproximar do jovem garoto.

   Eles o viam como aberração, louco, doente, amaldiçoado... A razão para que ninguém se aproximasse do garoto dizendo que ele oferecera a alma ao próprio diabo. Claramente uma blasfêmia.

   Contudo, não havia como julgar, em um orfanato católico e em pleno século XIX, não era para menos.

   Ele tinha plena consciência de todos seus destinos traçados e escritos alheiamente por aquelas pessoas a sua volta.

   Um destino cruel, diga-se de passagem.

   Medo? Não, Evan não tinha resquício de medo em seu corpo. Tudo o que sentia era dor... Uma dor psicológica e intensa que o matava aos poucos, tirava suas forças como um câncer maligno em estágio avançado. Sua única opção era seguir as vozes, quais sempre tiveram presente e a qual sempre se apoiou sem forças alguma para seguir sozinho.

   As vozes eram seu esplendor e seu pior pesadelo.

   Evan ficava cada vez mais perdido dentro de si. Quando as vozes começavam a falar ao pé de seu ouvido, ele não tinha mais o controle de seu próprio corpo. Não era mais o Evan naquele frágil e jovem corpo carnal, ele estava bem longe de estar ali.

   Um dos motivos quais parte da sua vida não permaneceu lúcido e são! A maior parte das vezes não tinha memória de quem era e o que fizera. Apenas algo muito vago... E bem longe de ser real. Ao menos para ele.

   Ele passou por um arco de madeira chegando em um local afastado e abandonado do grande orfanato, qual se encontrava ali um banco de pedra com a pintura gasta pelo tempo e algumas rachaduras evidente pela falta de manutenção e grande uso de algumas das crianças.

   E ali ficou, naquele morto jardim, sentado em um velho banco de pedra enquanto o vazio céu pairava acima dele e a luz do velho lampião iluminava ao seu redor.

   Ele estava em um modo robótico. Encarava o nada e seus olhos abertos sem ao menos piscar vez alguma... Seu corpo sentado ereto e as vozes já começavam a circular pelo local, assim criando vida e forma... Se manifestando por todo o morto jardim.

   As vozes traçavam planos sem rumo em meio a conversas sem sentido. E assim passava todas suas vagas noites de vagas memórias repletas de acontecimentos.


  
~ Continua...

Evan - DOMADO PELAS SOMBRAS - Livro Primeiro (PAUSADO)Onde histórias criam vida. Descubra agora