Capítulo 14_Energia Escura

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    A queda foi horrível. Edie não conseguia ouvir nada mesmo que sua boca estivesse escancarada num grito. Tudo que via era o chão se aproximando cada vez mais e sua vida passando diante de seus olhos pela segunda vez naquele dia.

     Ela fechou os olhos fortemente, iria se espatifar no chão que nem purê de maçã... seu único arrependimento foi não ter achado Tkal, ou brincado mais com Kia, ou estudado, ou... a queda estava demorando para acontecer... mais que o normal.

     A princípio ela apenas caiu, mas de súbito, sentiu algo encostando em seus pés e os agarrando com força, em seguida um solavanco que fez com que seus cabelos, antes arrepiados, caíssem para baixo. Os óculos quase escapuliram de seu rosto se ela não os tivesse segurado no último instante daquele incidente estranho, o outro braço continuou caído para baixo tateando o ar.

     Edie abriu os olhos lentamente, não estava mais caindo. Seriam os anjos tentando convertê-la? Teoricamente ela deveria ir para o inferno..., mas aquilo não fazia sentido....

     Tentou espiar o que seria o motivo da interrupção de sua queda, viu duas mechas de cabelo azul balançando ao lado dela, só conhecia uma pessoa com aquele tom de cabelo:

     — KIA É VOCÊ???! — exclamou eufórica e sem acreditar.

     — ARG! — O som saiu entrecortado, mas o gemido soou reconhecível.

     — VOCÊ DECIDIU MORRER COMIGO? 

     — .. HM.... não?

     — ESSA QUEDA É MAIS DEMORADA QUE A PRIMEIRA, NÉ NÃO?

     — ...

     — KIA?! — Edie olhou para baixo, como era possível que não estivessem caindo?

     Na verdade, elas estavam chegando ao chão bem devagar. Edie continuou a segurar os óculos para que não caíssem do rosto ainda embasbacada, um pensamento impossível cruzou sua mente confusa:

     — KIA... VOCÊ ESTÁ VOANDO??? — GRITOU COMPLETAMENTE CHOCADA.

     — ...pare de se debater... você é pesada!

    Kia tinha agarrado os pés de Edie com toda força assim que a alcançara na queda, como que por instinto, baterá as asas o mais forte e rápido que conseguiu, o peso da demônio atrapalhava, mas ela não iria de jeito nenhum soltar a amiga. Assim como Edie, Kia mal acreditava no que tinha acabado de fazer, nunca havia voado de uma altura tão alta, entretanto naquele momento, o medo de Edie se machucar feio venceu o medo que tinha de altura.

     A anjo tentou ao máximo se aproximar da encosta do penhasco a fim de pousar no caminho em que elas haviam subido a montanha. Era difícil controlar o voo, ela não tinha experiência com isso e ainda tinha que fechar os olhos para não encarar aquele abismo terrível em que estavam descendo.

     Quando, com o canto do olho, viu que estavam próximas o suficiente de um lugar seguro, onde não corriam o risco de se machucarem, Kia cedeu. As duas acabaram caindo no chão de pedra de um jeito nada suave, ambas permaneceram sentadas nele respirando ofegantes e tremendo.

     Edie se arrastou para perto de Kia e deu um abraço nela ali mesmo no chão quase a derrubando, estava pálida feito papel e suada:

     — VOCÊ ME SALVOU KIAAA! OBRIGADA! OBRIGADA! OBRIGADA! OBRIG...

     — Hm... de nada... pode parar de gritar agora. — Kia finalmente abriu os olhos.

    Edie não a soltou, estava emocionada e não sabia se ria ou chorava, acabou fazendo os dois ao mesmo tempo. Kia retribuiu o abraço calmamente sem se emocionar esperando que a demônio se recuperasse. Depois de um tempo, finalmente Edie a largou, passou a manga do casaco pelas narinas cheias de ranho e respirou fundo agora mais calma:

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