Capítulo 1 - Reencontro

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Ele corria apressado pela floresta. Seus pés descalços batiam na terra fofa e recém molhada pela chuva. Seus cabelos acinzentados esvoaçavam com o vento gélido e cortante que o perfurava através de suas vestes finas e rasgadas. As gotas de orvalho grudavam em sua pele pálida, lhe dando um brilho etéreo, angelical.

Ele estava fugindo. Mais uma vez haviam descoberto o que ele realmente era.

Gotas espessas de sangue escorriam pelos pequenos cortes que as folhas enrijecidas produziam em sua carne. Cortes estes que ele não conseguia mais cicatrizar, tamanha era a sua fraqueza.

Ele precisava de energia...

Parou alguns segundos, apoiado numa árvore frondosa e totalmente congelada pelo frio. Ele tinha que descansar; suas pernas estavam fracas, quase desistindo de andar. Porém ele ainda conseguia ouvir as vozes distantes de seus perseguidores, enlouquecidos à sua procura.

'Não o deixem escapar. Eu o quero vivo, me entenderam? VIVO!'

'Sim, Peter.'

'Tragam-no direto para mim! Ele deve pagar por todo o mal que fez. Por ter se feito de inocente quando na verdade era um monstro!'

O coração de Lu Han disparou. Ele tinha que continuar andando, o mais rápido que suas pernas e seu dom negro o permitissem.

"Maldita maldição!", exclamou baixinho, canalizando todo o restinho de energia que possuía para suas pernas, fazendo-as ficarem mais ágeis.

Dando um impulso, voltou a correr apressado, atravessando a floresta fechada e inóspita, se distanciando cada vez mais daqueles que o perseguiam. A cada passo que dava, sentia o seu corpo pesar mais e os cortes em sua pele se tornarem mais profundos; os galhos das árvores batendo com tudo em si; suas pontas afiadas de gelo o cortando como navalhas.

'Eu tenho que conseguir', pensou. 'Eu tenho que atravessar essa floresta e me salvar.'

'Por que você não se mata de uma vez? Por que não pega uma folha afiada e se corta ainda mais? Do jeito que você está, sangrará até secar', uma voz maldosa soou em sua mente.

'É... Seria a melhor solução. Estou tão cansado... A morte seria o melhor caminho... Mas eu poderia tentar o suicídio e mesmo assim viver... Meu corpo amaldiçoado poderia sair rastejando em busca de inocentes para ser saciado e isso eu não posso permitir', pensou, tentando se manter consciente, dando um passo atrás do outro.

Segundos. Minutos. Horas. Ele não sabia o certo o quanto correu por aquela floresta escura e sem fim que atravessava diversas cidades coreanas. O que ele sabia era que estava no limite da sua força e sanidade.

"Eu con-si-go", sussurrou e logo sentiu suas pernas cederem e seus joelhos baterem na terra congelada. "Eu-", abaixou a cabeça, praticamente desistindo.

"ME AJUDE!", uma voz soou alta e desesperada. "ALGUÉM ME AJUDE! POR FAVOR!"

Lu Han ergueu o rosto, atônito. Ele conseguia ouvir as batidas aceleradas do coração de uma pessoa não muito longe de onde estava.

"POR FAVOR! EU- EU NÃO QUERO MORRER!"

O cheiro de sangue fresco podia ser sentido no ar, eriçando os pelos de seus braços e nuca.

"Não... E-eu eu não posso ajudar... Se-se eu for... Eu po-posso..."

Energia... Sangue...

Inconscientemente, ele passou a língua pelos lábios, levantando-se com sofreguidão e caminhando rumo à fonte que emanava aquele cheiro tão doce e... Puro.

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