CAPÍTULO TRÊS

12 1 2
                                    

Crianças.

Apenas crianças.

Roggo se torturava ao deitar a cabeça no travesseiro macio que lhe haviam dado. Os feéricos o receberam bem, apesar de cordiais em demasia. Disseram que no dia seguinte, depois que os "outros" chegassem, explicariam tudo. A grande questão, na verdade, era que Roggo já sabia. Claro que não o todo, mas sabia que ele e seus irmãos faziam parte de uma profecia antiga, e que em algum momento de suas vidas teriam de esquecer completamente o passado, assumir novas responsabilidades e transformar-se em novas pessoas. Mas não sabia que isso aconteceria antes que chegassem na fase adulta, muito menos sabia sobre a magia como a que conhecia agora, ou sobre feéricos e continentes fantasmas.

O nome da feérica que o buscara no barco era Nalía, e a fêmea era nada menos que a única filha de Dojas, o macho mais antigo de todo o continente. De acordo com os rumores, ele viveu enquanto Sorah ainda governava o mundo. Roggo não sabia dizer se Sorah era uma lenda tão maligna para os feéricos como era para os seres humanos.

O alimentaram bem e lhe deram roupas exatamente iguais as que já usava, porém limpas. Todos vestiam azul, nas mais variadas formas, tons e cortes. Não saíram dos navios, e estes também permaneceram ancorados. Pareciam esperar algo, ou preparar algo.

Adormeceu sem se dar conta de que o fazia, e quando abriu os olhos a luz do sol já passava por entre os vãos das ripas. Levantou-se e seguiu porta afora, atravessando o longo corredor cujo fim era uma escada até o convés. Faltando alguns metros para alcançar o primeiro degrau, à frente uma porta se abriu. Como aquela era a área dos aposentos, Roggo imaginou que seria mais um feérico. Surpreendeu-se ao ver o garoto de, no máximo, quinze anos. Ele era humano. Era fácil diferenciá-lo de um feérico, já que este segundo era sempre cercado de mistério, magia e uma beleza descomunal. O menino tinha uma pele rosada, queimada de sol, e cabelos vermelhos. Magro demais, alto demais, passava a perfeita imagem de um adolescente desengonçado. Porém, ao encontrar seu olhar ameaçador, Roggo limpou essa impressão de sua cabeça. O menino não parecia surpreso em vê-lo. Na verdade, parecia entediado. Revirando os olhos, deu as costas e subiu até a parte externa do navio. Roggo aguardou alguns segundos, e subiu em seguida.

Definitivamente, não estava preparado para o que encontraria lá fora.

*

Num piscar de olhos, o navio de guerra chegou à costa. Fiego suava debaixo das vestimentas pesadas, mas nem o calor intenso afastou o frio na barriga que o atingiu ao visualizar a fortaleza de pedra negra que se erguia no continente. Os guerreiros que o escoltaram não falaram nada durante o trajeto, e toda vez que fazia uma pergunta, obtinha apenas o silêncio em retorno.

Atracaram, e Fiego deduziu que deveria segui-los conforme saíam em fila do navio. As estradas estavam vazias, silenciosas, iluminadas apenas por tochas estrategicamente colocadas nos postes de madeira.

"Não faça perguntas quando atravessarmos aqueles portões, entendeu?" o aparente líder do grupo murmurou, caminhando ao lado do garoto. Fiego apenas maneou com a cabeça, não sentindo-se disposto a questionar.

Os portões negros feito carvão se abriram, revelando um corredor estreito de guardas muito bem armados, com armaduras tão escuras quanto as paredes pretas do castelo. O corredor levava através do pátio para o que parecia ser a porta de entrada, e o menino pouco conseguia ver através da fileira de feéricos.

"Finalmente" alguém disse, abrindo a porta principal. Fiego voltou o olhar para a fêmea de pele escura, tranças que passavam o quadril e olhos negros. "Por que demorou tanto, garoto? Os outros chegaram há dias!"

"Este veio sozinho, Senhora, num barco de uma vela. Deve ter remado boa parte do trajeto até aqui" o moreno, de cabelos longos, único a trocar palavras com Fiego até então, disse.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Jan 18, 2021 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

A ORIGEM ESQUECIDAOnde histórias criam vida. Descubra agora