Comédia não é o meu gênero preferido, mas devo admitir que essa série que a Lia colocou é realmente engraçada. Após alguns episódios e eu já estar familiarizado com a maioria dos personagens, lembrei que meus pais pediram para que eu os ligasse assim que chegassem na casa nova. Olhei para Lia, que dormia meio de qualquer jeito, apoiada no braço do sofá. Ela estava realmente adorável com a carinha amassada em cima do controle—que por algum milagre não desligou a TV. Pensei em acordá-la pois aquela posição renderia um torcicolo mais tarde, mas ela podia não conseguir dormir depois disso, e parecia que estava precisando de um descanso. Fazer mudança é um saco, eu mesmo estava adiando ao máximo tirar minhas coisas das malas, mas estava escurecendo e eu fui fazer isso já que tinha mesmo prometido falar com minha mãe. Levantei com um pouco de pena por deixar Lia assim, depois compensaria ela com algum lanche. Entrei no quarto e tirei minha luminária de uma das malas, preferindo deixar ele meio escuro mesmo—não gosto muito de claridade—e comecei a ajeitar minhas roupas em um armário no canto.
Quando terminei tudo, peguei meu notebook para finalmente cumprir com o que eu tinha prometido, matando um pouco da saudade que sentia da minha família. Depois que encerrei a ligação, vi que estava com fome e fui na cozinha com cuidado para não acordar a garota, percebendo tarde demais que eu não havia comprado nada pra mim, toda a comida que havia em casa era de Lia. Tava um friozinho gostoso, eu não queria sair de casa pra comprar nada(mesmo que fosse comida) então comecei a fazer sanduiches, o meu plano era que talvez se eu preparasse pra ela, ela não brigaria por eu estar comendo toda a sua comida. Fiz dois pra mim, e dois pra ela também porque lembro dela comer muito no almoço pra alguém tão pequena, e se ela não quisesse todos sobraria mais pra mim. Só depois de prontos eu percebi que a garota não estava no sofá, então fui em direção ao seu quarto para lhe chamar, mas quando entro no corredor a vejo meio andando meio correndo em direção ao seu quarto, só de toalha. Eu podia ignorar... mas queria encher um pouco o saco dela.
—Lia?
—Não tem nenhuma Lia aqui... você está sonhando... feche os olhos e tudo voltará ao normal.—ela falou ainda de costas, sem me olhar.
Eu não aguentei e comecei a rir, me apoiando nos joelhos achando graça da sua tentativa falha de me enrolar pra poder terminar de ir ao seu quarto sem que eu olhasse. Quando eu me recuperei e levantei a cabeça ela não estava mais lá, por isso desisto de chamá-la e vou pra cozinha me sentando pra comer um dos sanduiches. Por mais que eu tenha achado engraçado implicar com ela, eu também fiquei com vergonha por vê-la daquela maneira. Afinal, não é como se eu visse todo dia uma mulher de toalha passeando pela minha casa.
Dois minutos depois ela aparece na cozinha com a maior cara de pau que eu já vi. Eu tento esconder o sorriso petulante que insiste em aparecer no meu rosto, mas não consigo, é mais forte do que eu.
—Eu fiz para você—apontei para os sanduíches.
—Obrigada—ela disse sem olhar pra mim mas pude ver que ela estava envergonhada, o que me deu mais vontade de rir.—"Pora" de rir da minha "cora"!—falou de boca cheia.
—Me desculpa, mas é muito engraçado implicar com você.
—Come da minha comida e ainda debocha de mim... devolve todos os pontos que eu te dei!
—Vocé tava me pontuando?—perguntei desacreditado.
—Sim, ainda estava decidindo se iria ficar com você ou não.
—Mentira, você já tinha decido na ligação.
—Cala a boca Jungkook.
Ri de novo. Isso estava se tornando um habito perto da Lia. Ela era legal, de um jeito que as mulheres coreanas não são e não é culpa delas, por causa da cultura machista a maioria das pessoas não tem muita liberdade sobre suas ações, principalmente as mulheres. Um dos motivos sobre eu sempre ter sido interessado no Brasil era a liberdade que as pessoas tem aqui, em diversos sentidos, o que me fez assistir vários filmes brasileiros e querer aprender a língua(com a ajuda de um amigo brasileiro que era meu colega de escola). Por isso quando a oportunidade do intercâmbio apareceu na minha escola de idiomas eu não pensei duas vezes, achar uma pós do meu curso aqui foi só um combo.
—No que você ta pensando?—Lia perguntou me tirando de meus devaneios.
—Sobre você ser legal.
Aparentemente meu comentário a pegou de surpresa porque ela ficou me encarando com uma cara estranha por um tempo.
—Você só diz isso porque meu arroz é sem sal.
—É um dos motivos.
Ela riu, aquela risada era contagiante, eu poderia passar horas e horas escutando. Mal percebi e eu já estava me juntando à ela.
—Jungkook, quer ir comigo no shopping amanhã?
—Sim, não conheci muitos lugares daqui—e era verdade, só passei pelo aeroporto e pelo hotel.
—Então ótimo, amanhã a gente pode ir umas 10 horas?
—Sim, mas não tenho certeza se acordarei sozinho, meu corpo ainda não se acostumou com o fuso...
—Não tem problema, eu te acordo—ela falou e percebi que ficou corada, que fofa!—Boa noite Jungkook, obrigada pela comida.
E se levantou, indo dormir, me deixando com mil pensamentos e incertezas sobre a minha estadia no Brasil. Mas uma coisa é certa, eu sei que vamos ser(pelo menos) bons amigos.
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Roommates
FanfictionUma estudante de medicina precisa de uma pessoa para dividir a mensalidade do apartamento recém alugado. Por causa da pressa, ela não tem muitos critérios de escolha, então um coreano fazendo intercâmbio parece uma boa alternativa. Obs: neste univer...