A semana que eu passei com a Lia foi divertida, ela é realmente muito tagarela, mas de um jeito bom, pois adoro ouvir ela falar sobre coisas que ela gosta. Lia me recebeu muito bem, e fez de tudo para que eu me sentisse em casa, me deu algumas comidas brasileiras(inclusive gostei muito de guaraná), me contou alguns costumes brasileiros, me mostrou alguns lugares—não que ela já conhecesse, também era a sua primeira vez lá, mas fez questão de me apresentar— ela é adorável. Essa mania que ela tem de se preocupar primeiro com os outros, mesmo estando preocupada também, é admirável. Em uma semana descobri que ela é encantadora, engraçada demais, adorável e indecisa. Meu deus como é indecisa! Na segunda-feira em que saímos para o shopping, demorou milhares de anos numa loja de departamento para escolher 4 moletons e um vestido dentre trocentas roupas. Infelizmente não paramos por aí, ela ainda comprou tênis, passamos em um lugar onde vendiam jalecos e ela mandou bordar seu nome na mesma loja, que ficaria pronto em 6 dias pois muitos novos alunos haviam encomendado também.
Almoçamos num restaurante chinês de dentro do shopping, ela que propôs(me pergunto se lembra que sou coreano, e não chinês) e agradeci de bom grado, ela já estava ansiosa demais(não sei o porquê) para mais uma de minhas brincadeiras. Apesar não ser ruim, a comida não parecia em nada com a que eu estou acostumado, pensei então que seria uma versão "abrasileirada" e me dei por vencido, estava bom. Comprei alguns materiais escolares na mesma loja que Lia, e depois fomos para casa rindo após pegarmos o ônibus errado. Eu avisei, mas ela foi teimosa demais insistindo que o 8 na verdade era um 0. Para a nossa sorte ele só parou poucas ruas depois do apartamento, e eu adicionei uma nota mental sobre nunca mais confiar cegamente em uma pessoa míope. Sim, eu amo esses trocadilhos.
O resto da semana passou voando. Ficamos em casa vendo TV, aprendi a fazer lasanha com a Lia, e também aprendi algumas coisas sobre ela, como, ela sempre reclama meio alto sobre a louça suja só para eu me oferecer para lavar. Não que eu seja fã de louça suja, na verdade não me importo muito, mas ver o sorrisinho de satisfação que ela dá me enche de felicidade(meio boiola, eu sei). Ela rói as unhas quando está preocupada e todo dia tem que comer algo doce, de preferência chocolate. Lia tem medo de escuro então ás vezes bate na porta do meu quarto de madrugada para eu ir com ela na cozinha escura. Pelo visto, ela também aprendeu algumas coisas sobre mim, pois já sabe quando eu estou mentindo, infelizmente, desde a vez em que eu sem querer deixei a porta de vidro da área aberta e choveu a noite toda, molhando o chão da sala, depois neguei que tinha sido eu(ela me da medo quando fica brava). Algum motivo me fazia saber que ela realmente lia a mentira em mim, não era só porque eu era a única pessoa além dela no apartamento e ela tinha fechado a porta. Em minha defesa, eu não tenho culpa se eu queria jogar Overwach com uma brisinha correndo.
Estou no sofá aproveitando para maratonar uma série, já que amanhã começam as aulas, e estou ansioso, mas não tanto quanto a garota andando de um lado pro outro do apartamento vestida no jaleco que ela acabara de buscar no shopping.
— Ele não ta muito grande? –ergueu os braços me fazendo analisar os pedaços de tecidos sobrando.— Eu pedi um menor, mas a mulher disse que esse já era o menor, o PPP! Já é humilhação demais usar dois P's, e alguém ainda faz uma roupa com TRÊS P's!?
— Mas é um jaleco, é para ficar grande mesmo.—tentei fazê-la ficar tranquila, mas não funcionou pois ela ainda tinha uma carinha triste.
— Mas Jungguk,—sorri ao ouvir o apelido— tô parecendo uma criança, as pessoas da minha sala não vão gostar de mim, eu queria parecer um mulherão tipo "oi eu sou alta, linda e nasci pra ser uma cirurgiã, todos querem ser meus amigos"—ah, agora eu entendi toda essa preocupação.
Ela não era tão magra, mesmo com moletom dava pra perceber as curvas que ela tinha, mas era pequena o bastante pra usar roupas de adolescentes mesmo com 21 anos.
— Pare com isso...—me levantei e peguei seu rosto com as duas mãos me deparando com um olhar tristonho— ...você está linda e todo mundo vai gostar de você rapidinho. —assim como aconteceu comigo, mas essa parte não ousei falar.— Não tem como não gostar de você.
Lia segurou minhas mãos que permaneciam em seu rosto e me sorriu agradecida. Fiquei imediatamente mais tranquilo, fazê-la feliz era o que me movia de uns tempos pra cá. Ela é uma ótima pessoa e uma ótima amiga. Não me surpreendi quando nos tornamos amigos tão rapidamente.
— Agora vá tirar esse jaleco, se não vai sujar antes mesmo de ir pra aula—desastrada como ela era, aquela peça branca não duraria muito tempo.
— Sim senhor—e saiu em direção ao quarto, não sem antes bater continência pra mim.
Fui á cozinha fazer macarrão instantâneo pra gente. Estava levando o de Lia pra ela em seu quarto, chegando lá a encontrei ajeitando o material, colocando-os na mochila. Era adorável, parecia uma criança ansiosa para a volta ás aulas. Queria eu me animar tão fácil como ela por coisas triviais. Há algum tempo eu não me sentia tão animado, até ultimamente quando comecei a morar com ela, e isso me deixa um pouco confuso.
—Fiz pra você—disse oferecendo o prato fundo cheio de miojo.
—Obrigada, eu tava mesmo com fome.—quando que ela não está com fome?
Me sentei junto á ela em sua cama comendo a minha parte do macarrão.
—Ainda ta preocupada? Com a faculdade?
—Um pouco, eu sou um pouco insegura...— jura?—...e isso me atrapalha.
—Relaxa, vai dar tudo certo. Qualquer coisa me liga que eu vou correndo até você.
Ela riu, mal sabendo que eu havia falado sério.
—Ta bom, eu te ligo, mas não reclame se a emergência for eu me perder na cantina, ou não achar a sala de aula, ou ter me trancado sem querer no banheiro, acredite, já aconteceu.
—Eu irei com todo o prazer.— ela riu, essa garota tinha que me levar mais á sério
Terminei de comer e notei que ela também, ela estava mesmo com fome. Me levantei para recolher nossos pratos, e assim que peguei o seu, ela segurou minha mão, me fazendo ficar e lhe encarar.
—Muito obrigada Jungguk, eu não te mereço.— mal sabia ela era que eu é quem não a merecia.
—Estou aqui pra o que você precisar. Boa noite.
Saí de seu quarto meio á contra gosto, eu adorava ficar com ela, mas já era tarde, e amanhã tínhamos que acordar cedo. Lavei os pratos pensando que se ela estivesse aqui faria charme pra eu me oferecer para lavá-los. Ri sozinho pensando nisso.
Naquela noite fui dormir ansioso, sem saber ao certo se por causa das aulas, ou por causa da garota que dormia no quarto ao lado.
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Roommates
FanfictionUma estudante de medicina precisa de uma pessoa para dividir a mensalidade do apartamento recém alugado. Por causa da pressa, ela não tem muitos critérios de escolha, então um coreano fazendo intercâmbio parece uma boa alternativa. Obs: neste univer...