Delirium

Capítulo 1 - Razão

Delirium - Por Laysa Ferreira

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Capítulo 1 – Razão

          "Você já parou para pensar sobre qual é pior coisa para se estragar uma amizade de muitos anos? Uma resposta simples para uma pergunta mais simples ainda: Um relacionamento, um interesse amoroso, um desejo, ou até mesmo quando você revela para pessoas ao seu redor quem você realmente é, ou quando você se apaixona." Este pensamento transitava pela mente triste de Jack Spencer, um belo rapaz de vinte e sete anos. O rapaz estava na sacada de sua casa – uma casa pequena, porém moderna e bonita, localizada num bairro tranquilo do centro da cidade. Jack Spencer encarava os céus, reparando no acúmulo de nuvens típicos do final da estação de outono. A brisa macia e gelada pairava sobre as árvores, derrubando as folhas laranjas e amarelas. Em meio a alguns suspiros e um semblante reflexivo, o rapaz lembrava-se da época da escola, há exatos dez anos atrás. Fazia dez anos desde que Jack conheceu o rapaz no qual era apaixonado até os dias de hoje – Andrew Evans, mas conhecido como Andy – todos o chamavam assim. Jack lembrou-se de um episódio em específico que se passou na escola num típico dia de inverno, cujo frio castigava todo o exterior da escola. Jack se lembrou de Andy adentrando na sala de aula durante o intervalo, preocupado. Na mão direita do rapaz, ele carregava consigo um violão dentro de uma capa de couro que já se encontrava bastante gasta devido ao uso exacerbado. Elliot – o melhor amigo de Jack – estava presente e apenas observava a cena em silêncio.

          – Eu não consigo acreditar que essa droga de redação era pra hoje! – disse Andy bastante preocupado com o dever que havia esquecido de fazer – Eu jurava que era para a próxima semana! – completou.

          – Se você parasse de vadiar com esse violão velho para lá e para cá, se lembraria de todas as coisas importantes que você sempre esquece! Você vive no mundo da lua! – Exclamou Elliot com um tom de voz suspeito.

          Jack apenas observava, como se digerisse todo o diálogo e o momento no qual presenciava. Logo, direcionou seus olhos cor de mel para as mãos de Andy, que pareciam trêmulas de preocupação, tão trêmulas que a alça que sustentava a capa do violão parecia que seria solta a qualquer momento. Andy olhava para o chão, pensativo, tentando pensar em alguma solução para seu "problema".

          – Droga, eu estou ferrado! Vou acabar reprovando em história... Meu pai vai me matar... – murmurou Andy.

          – Eu tenho uma redação sobrando. Basta você transcrever com a sua letra, Andy. – Disse Jack com um tom de voz calmo e sereno.

           – O quê?! – perguntou Andy, surpreso – Normalmente eu não faria isso, mas estou preocupado com as minhas notas, elas não andam muito boas... Mesmo assim, você tem certeza disso? Vai mesmo me ceder uma redação que você teve tanto trabalho pra fazer?

          – Sim, eu tenho certeza. Quando estiver transcrevendo, se atente, preste atenção na proposta da tarefa para aprender alguma coisa.

          De repente, o semblante de Andy mudou. Aqueles olhos de cor verde-água que pareciam atônitos, deram lugar a um semblante sorridente e animado. O rapaz com a pele clara e com os cabelos negros havia saído de um estado de preocupação para um estado de animação surpreendentemente rápido.

          – Cara, você já tem o seu lugar garantido no céu, com certeza! – Disse Andy completamente sorridente. Jack tentava manter um semblante sério apesar de seu interior estar completamente encantado pela personalidade e aparência de Andy.