Diário Número Um

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Diário N°1 de Éris Dellavur

Eu nunca entendi porque exatamente mamãe nunca quis que eu fosse sua filha. Também não entendo porque retribui todo o amor que tento dar com ódio. Ontem de noite não sei bem o que senti, mas sei que doeu bastante. Começou com um leve aperto no peito e depois me fez querer chorar. Ela estava com seus amigos na sala, estavam comemorando o fato dela ter conseguido um papel na Broadway. Atriz, modelo, cantora. Em breve seria uma artista completa, a mais marcante de Hollywood. Mas em algum momento alguém lhes perguntou aonde estava sua filha. Parei absolutamente tudo o que estava fazendo e me preparei para o momento em que finalmente poderia aparecer e fazer parte daquela reunião, alguns de seus amigos as vezes gostavam de mim, mas aqueles pareciam ser novos e eu queria ser apresentada, afinal, sempre que isso acontecia, me dava a sensação de que estava sendo inclusa na vida de minha mãe e finalmente sendo aceita. Mas não, ouvi um suspirar e o barulho de alguns vidros se batendo, e então a voz de Atlantis voltou a ressoar, arrastada e triste. Como se estivesse prendendo o choro: "Ela morreu, está morta". Naquele mesmo momento encarei meu próprio reflexo no espelho, até mesmo parando de andar. Eu não estava morta. Ouvi repetidos "Eu sinto muito Atlantis" e um choro breve. Acho que foi a primeira vez que realmente compreendi que ela preferia lidar mesmo com uma filha morta do que ter uma.

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