| II |

4 0 0
                                    

 MILLIE

Sabia que ele iria fazer isso. Tentei prepara-lo para isso, convence-lo, mas está decidido.

- Precisa falar com ele. - Sam diz.

- Sabe que a última vez que tivemos alguém capaz de entrar no Oeste sem arriscara própria vida logo de cara foi a vinte anos. - Sam começa com seu temperamento irritado. - E que essa pessoa teve uma vida feliz no Oeste e abandonou o movimento.

- Vou tentar, mas não posso te garantir nada.

Assim a reunião se encerra. As pessoas se dissipando aos poucos, marcando o completo fracasso que foi.

 SCOTT

Corro até perder a força nas pernas, quando vejo estou em uma rua movimentada e me dou conta que cheguei na Praça Central, o único lugar onde pessoas de ambos os lados podiam frequentar o mesmo espaço. Mas não é como se Avançados e Naturais gostassem do prazer de ficar no mesmo ligar que Híbridos e De Sangue, na verdade a Praça Central só servia como um atalho para outras ruas, não é como se isso mostrassem qualquer união entre os grupos.

Com as pernas bambas e a respiração descompassada, me sento em um banco frio e duro de pedra, esperando os batimentos cardíacos voltarem ao normal.

Observo ao redor, centenas de pessoas iam e viam, todas com os rostos inexpressíveis, pareciam tudo menos animais sociáveis. Além das diferenças entre os Lestes e Oestes serem bem obvias, já que os Oestes vestiam roupas de aparência nobres e luxuosas, todas com alguma pedra brilhante ou algum acessório de ouro, enquanto os Lestes usavam roupas comuns, muitos estavam descalços ou usavam alguma sandália velha e surrada.

Suspiro e fecho os olhos, ter toda essa desigualdade e injustiça bem debaixo do meu nariz o tempo todo cansava, minha vontade era fugir de tudo aquilo. Danem-se os Naturais, Avançados, Híbridos, De Sangue e principalmente os Da Peste.

O grito me faz abrir os olhos, o susto repentino me faz procurar desesperado pelo dono da voz. E aí eu vejo uma das cenas mais odiáveis da minha vida:

Um soltado mantinha seus punhos cerrados ao lado da cabeça, um sinal que bem conheço como o uso do poder de um Hibrido, e uma mulher estava de joelhos no chão, não poderia se mexer pois estava sob o controle dele, completamente imóvel enquanto outro guarda a chutava e lançava algumas faíscas sobre seu rosto.

O mais impressionante, e talvez diria impactante é que todos que passavam por perto ignoravam o que estava acontecendo, porque simplesmente é um cena normal. Uma cena do dia a dia. Uma cena rotineira. Alguém sendo torturado aos gritos enquanto os agressoras, soldados da monarquia, riam.

Quase inconscientemente lanço uma onda forte de ar na direção dos agressores, que são brevemente afetados por isso, apenas o suficiente para que a mulher corra para alguma viela. Queria poder ficar para mata-los, mas eu, um simples Hibrido, contra outro Hibrido e provavelmente um De Sangue, morreria rápido.

A adrenalina me faz correr na direção oposta da dos guardas, sinto o sangue taparem meus ouvidos e meus pulmões queimando. Corro até chegar em um beco e me encostar em uma parede de algum estabelecimento, esperando a poeira baixar. Quando a movimentação da rua parece voltar ao normal, saio do meu esconderijo, completamente esgotado porem feliz, tinha despistado dois guardas reais, "Estúpidos" penso, enquanto tentava me localizar no meio daquela gente toda.

Sinto uma mão delicada e tímida no meu ombro e viro para uma linda mulher com um xale na cabeça, ela tinha olhos verdes brilhantes e chamativos, como duas esmeraldas reluzentes. Timidamente ela abre um sorriso e diz:

A Peste de Best KendalOnde histórias criam vida. Descubra agora