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Scott continuava sentado no meio fio, não poderia dizer que não sabia o que estava acontecendo, sabia que o que sua mãe havia feito era contra a lei, mas era a favor da justiça.

Tinha apenas dez anos, o que poderia fazer em um momento com este era chorar, encarando a página do jornal. Ainda se seu pai tivesse ficado com ele, mas fugiu, como um covarde.

Quem via a cena passava sem remorsos pelo garoto na rua, e não eram poucos que passavam. Mas sempre foi assim, o lado Leste. O lado dos esquecidos. Centenas de milhares de pessoas dividindo a mesma quantidade de espaço que dezenas de milhares, dos mais poderosos, incluindo a família real com seu imbatível poder, protegidos pelos muros de seu castelo.

- Garoto?! - Uma mulher se aproximou lentamente do menino. - Está tudo bem?

Ele não respondeu. Sua primeira reação foi se afastar com medo, agarrando com força a página do jornal em sua mão.

Ao ver a página que o garoto segurava com tanta firmeza em sua mão, a mulher soube imediatamente do que se tratava, e o abraça.

Scott estava acostumado a demonstrações de carinho em sua família e retribuiu o ato.

- Scott Willians, estou certa? - Ela limpa uma lágrima que escorria em no rosto dele. - Sou Millie Suzanuncle.

Ela se levanta e caminha com ele pelas ruas, em direção à sua casa, não poderia deixá-lo sozinho, principalmente o filho único de Charlotte Williams...

- A Nova Geração ainda tem muito trabalho a fazer... - Ela murmura.

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- Se sente melhor? - Millie pergunta quando Scott acaba de comer a sopa que lhe foi servida.

Ele assente com a cabeça.

- O que você acha de Scott Taylor? Combina com você.

- O que há de errado com Scott Willians? - Ele pergunta.

- Está sendo procurado, sabe disso, é melhor manter-se escondido por outro nome.

- Por que está me protegendo?

- Um membro da nova geração nunca abandonaria outro... Charlotte era uma grande líder, como seu filho deve ser protegido até quando puder assumir o papel que lhe é reservado lá.

Scott não entendeu muito do que ela falava, mas o futuro o mostraria que seu papel era maior do que jamais pode imaginar.

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SCOTT

Millie estava sentada do lado oposto do tabuleiro, jogando com as peças pretas. Eu estava claramente vencendo, tendo em vista que ela possuía apenas seu rei, duas torres e alguns peões, enquanto eu me encontrava praticamente intacto.

- Sabe, somos como peões... - Digo. - Em grande quantidade, mas com a menor força. Se Best Kandal fosse um jogo de xadrez assim seria. O Oeste com as peças mais poderosas contendo apenas um par de cada além da monarquia, e o Leste os peões, fracos e numerosos... - Faço minha jogada.

- Mas os peões tem uma grande vantagem, justamente por serem fracos e numerosos. - Ela move um peão, e faço também minha jogada.

- Mas me parece que acabou de citar a maior desvantagem.

- Não. Os fracos passam despercebidos. As vezes até atravessam um tabuleiro e se tornam uma rainha. - E é exatamente essa a jogada que ela faz. - Xeque-mate.

A Peste de Best KendalOnde histórias criam vida. Descubra agora