CAPÍTULO V

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NEM TUDO O QUE RELUZ É OURO

01/06

JULIE DODE adentra sua casa em passos apressados, a aula havia acabado mais cedo do que o usual e tudo o que a garota mais almeja é deitar o corpo sobre a cama com edredom das meninas super poderosas e se permitir imergir em seus pensamentos mais íntimos. Ela necessita, desesperadamente, de um tempo para si mesma para que, desta forma, seja capaz de fazer as pazes consigo.

Ela caminha até o quarto, desfazendo o coque alto e muito bem preso que fizera durante a exaustiva aula de educação física. Prender os fios sempre fez com que sua cabeça doesse, contudo, o que poderia fazer? Cortar os cabelos tão curtos quanto os de seu gêmeo? Isso nem ao menos era uma opção para a garota asiática, sua zǔmǔ jamais a perdoaria caso cometesse tamanha atrocidade e ela ama demais sua avó para conseguir ficar sem falar com ela. O corpo se encontra com a cama logo após a porta ser trancada.

Ah, a velha e doce privacidade, faz tempo que não a possui, faz tempo desde a última vez que seus parentes lhe permitiram ficar só, faz muito tempo. Não estou a dizer que ela não entende os motivos de seus parentes mais próximos, pois ela entende, a garota tem plena ciência de que eles apenas estão a tentar protegê-la, contudo isso não desqualifica o fato de que ela necessita ficar só.

Os remédios a mantêm sob controle, não permitem que ela machuque a si mesma ao tentar tirar uma larva inexistente que tenha visto sob sua pele, assim sendo, graças aos medicamentos a garota passou a não necessitar de proteção vinte e quatro horas por dia, todavia seus parentes não parecem enxergar as coisas desforma.

A jovem Dode permite que um suspiro de alívio escape por entre seus lábios, seus olhos são fechados e tudo o que ela é capaz de ouvir são as batidas de seu coração, sua respiração e o sangue correndo por suas veias tal como se fosse o barulho acolhedor do movimento que os ventos causam nas águas de um rio ou o som pacato de uma cascata. Ela sempre amou a natureza, foi criada para acreditar que a natureza é a mãe provedora de todas as nações, de todos os continentes, para acreditar que nada seríamos sem ela, talvez seja sua criação que a tenha proporcionado a paixão por biologia.

Um sorriso grande se faz presente em seu rosto, a garota nem ao menos é capaz de se lembrar qual foi a última vez que um sorriso verdadeiro e avassalador lhe adornou a face. Há tempos se atem a sorrir apenas para não preocupar, ainda mais, as pessoas que querem o seu bem. E sim, ela tem pleno conhecimento de que isso não é certo, de que deve demonstrar seus verdadeiros sentimentos para as pessoas que a amam, entretanto, seus verdadeiros sentimentos são uma completa bagunça, até mesmo para si.

Lembra-se, embora muito vagamente, do dia em que ela e Margareth, sua amiga que já não mais fala com ela, encontraram uma pedrinha reluzente à margem do riacho que passava em meio à pequena reserva em frente à sua casa; na época elas dividiram a pedrinha em dois pedaços iguais, com a ajuda do pai de Margareth, é claro, e fizeram, cada uma, uma correntinha; no maior estilo Barbie e o castelo de diamantes, prometendo serem amigas para sempre. O para sempre durou, exatamente, nove anos.

Margareth, tal como as outras líderes de torcida, surtou ao descobrir sobre a condição da melhor amiga, tiveram uma briga feia e a corrente, que jamais saia do pescoço das garotas, foi arremessada contra a chinesa. Não estaria mentindo caso dissesse que esse dia lhe foi mais doloroso do que o dia em que seu namoro foi rompido pois ela costumava pensar que poderia contar com sua amiga em todos os momentos de sua vide e doeu constatar o quão errada estava.

Os olhos foram abertos uma vez mais e passaram a encarar o teto, ela daria tudo para voltar no tempo, para arrumar um jeito de impedir que toda a merda que vivencia fosse atirada ao ventilador, para que pudesse fazer o controle de danos. Se senta na cama, ainda encarando o teto, seu estômago dói, sua cabeça gira, as mãos soam frio e tudo o que mais almeja é desaparecer. Ela é incapaz de tentar algo contra a própria vida, isso é um fato irrefutável, contudo, caros leitores, sou extremamente sincero ao dizer que o desejo de desaparecer está a lhe corroer por dentro.

Ela se sente insignificante, tal como se fosse uma reles molécula de uma substância que não possui valor algum para a vida humana, tal como se não fosse nada mais do que um simples inseto que os humanos tanto desprezam, não... ela não poderia ser um inseto, ela é menos do que um inseto, tendo em vista que não é digna nem mesmo do desprezo daqueles que a cercam.

Uma lágrima solitária rola por seu rosto, logo sendo seca pelas costas de sua mão direita. Garotas fortes não choram, ao menos é isso o que sua mãe sempre lhe disse e, apesar da matriarca ter tido as melhores das intenções ao proferir tal frase, estou certo ao dizer que ela marcou a garota de maneira negativa, tendo em vista que faz com que Julie se sinta fraca todas as vezes nas quais permite que elas saiam e que odeie a si mesma por ser "fraca".

Ah, se Julie Dode fosse capaz de enxergar toda a força que há dentro dela, certamente não se martirizaria tanto por deixar uma lágrima ou outra escapar de seus olhos. Ao contrário dela, eu acredito que chorar revela o quão forte somos, é preciso de coragem para deixar que seus sentimentos transbordem e é preciso de mais coragem ainda para admitir a si mesmo que está tudo bem chorar, que está tudo bem ter medo.

Garanto-lhes, caros leitores, que ela descobrirá, mais cedo ou mais tarde, toda a força que há dentro de si.

Garanto-lhes, caros leitores, que ela descobrirá, mais cedo ou mais tarde, toda a força que há dentro de si

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