A PIADA DE MAL GOSTO
01/06
JULIE DEIXA seu quarto e ruma à cozinha, com a certeza de que seus pais não se encontram mais em casa e que está só junto de seu gêmeo uma vez mais. Estaria a mentir caso dissesse que ela não prefere as coisas assim, a garota de longos cabelos negros sempre preferiu a solidão e isso vem de tempos atrás, antes mesmo de ela ser diagnosticada com a rara síndrome que a acomete.
Há algo de belo no silêncio e na solidão, as pessoas apenas não sabem apreciá-los de maneira correta e, devido a isto, passam a tratá-los como se fossem algo terrível, algo a ser temido e evitado a todo o custo.
Jules não está na cozinha. Talvez ele tenha resolvido sair mais cedo após a breve discussão, ao menos é nisso que sua irmã acredita. O garoto nunca gostou de brigas, tampouco discussões desnecessárias que poderiam acarretar em brigas, Julie sempre soube disso e sempre evitou entrar em discussões por assuntos frívolos, contudo, ultimamente, a garota não tem se sentido como ela mesma, é como se as medicações e a condição psicológica dormente estivessem a afetando mais do que seus pais, seu psiquiatra e ela mesma gostariam de admitir.
Ela se senta à mesa e mordisca os lábios algumas vezes, repetindo seu mantra interno de que o silêncio é bom, fazendo-a se lembrar de suas preferências anteriores à sua condição. Devo admitir que, apesar de sempre ter amado o silêncio, este tem se tornado deveras incomodo para ela com o passar dos dias.
Talvez Julie Dode seja uma das pessoas mais complexas que eu tive o prazer de conhecer durante minhas narrativas, talvez ela seja uma das pessoas que realmente merecem ter suas histórias contadas.
Voltemos um pouco no tempo para que sejamos capazes de vislumbrar a antiga vida da garota, a vida que ela levava antes de sua condição psicológica se manifestar abruptamente.
Foi dito, por mim, anteriormente, que Julie Dode tinha um namorado e que este a abandonou no exato instante em que o diagnóstico foi dado; contudo não tive a oportunidade de falar mais a fundo sobre o relacionamento compartilhado pelos dois. Assim sendo, o farei agora.
Julie e Robert se conheceram ainda crianças, no playground do primário onde costumavam brincar, não, caros leitores, eles não viraram amigos logo de cara; de fato, as crianças partilharam de uma rixa a partir do momento em que Robert D'Nille jogou areia nos cabelos de tonalidade rosa de sua boneca favorita.
Sei que algumas pessoas, sobretudo adolescentes, partilham de um ideal falho de que todo bom romance tem seu início a partir de uma briga. Devo discordar de tais pessoas, os romances reais, aqueles que realmente valem a pena, tem seu início a partir de um sorriso compartilhado, um olhar trocado e um simples encostar de mãos, talvez, até mesmo, com o ato de se emprestar uma caneta, mas nunca, jamais, com uma briga.
D'Nille sempre foi abaixo da estatura, um pouco acima o peso e costumava usar óculos fundo de garrafa devido ao seu elevado grau de miopia, ao contrário do que devem estar pensando, o garoto jamais sofreu bullying, grande parte disto deve-se ai fato de que ele é sobrinho da diretora do colégio no qual sempre estudaram e de que sua mãe é uma das pessoas mais influentes da cidade. No primário ele costumava ser intocável.
Apesar de se conhecerem desde pequenos, a dupla dinâmica se aproximou verdadeiramente no penúltimo ano do fundamental e um laço — embora fraco — de amizade se constituiu, três anos e meio depois os adolescentes chegaram ao consenso de que seria uma boa ideia tentar algo a mais. Jules jamais aprovou o relacionamento dos dois, contudo decidiu, por bem, não atrapalhar o curso natural das coisas e correr o risco de perder a amizade de sua irmã, assim sendo, guardou sua opinião controversa para si.
Eu admito que, em um primeiro momento, concordei com a decisão de Jules Dode, no entanto, parando para pensar melhor, hoje acredito que teria sido extremamente benéfico à mais nova se ele tivesse expressado sua opinião.
Voltemos ao tempo presente e deixemos de lado as opiniões e julgamentos jogados, por mim, anteriormente. Agora que já sabem como o namoro de Julie Dode e Robert começou, podemos nos focar no que realmente importa.
A garota acaba de sair de sua casa, desta vez, seu gêmeo não se encontra ao seu lado; devo dizer-vos que isto é algo raro, tendo em vista que os irmãos Dode estão sempre juntos, tal como se um fosse a sombra do outro. Julie não consegue evitar pensar que a culpa da separação é dela, que não deveria ter posto em dúvida as reais intenções e a sinceridade de seu irmão; contraditoriamente a sua sensação de culpa, a garota sabe que os seres humanos são falhos e que não há nada de errado em falhar às vezes, mesmo que tal falha tenha sido cometida para com alguém que a ame.
A mochila rosa bebê com bottons das líderes de torcida é ajeitada em seu ombro direito, fazem três meses que as garotas que julgou serem amigas nem ao menos olham em sua face e dois meses que a expulsaram do grupo de líder de torcida do colégio sem nem ao menos pestanejar.
O ônibus do colégio para no ponto no exato instante em que Julie chega no local, ela mostra sua carteira estudantil ao motorista e caminha para os fundos o mais rápido que suas pernas permitem, os olhares julgadores de seus colegas a alcançam como lanças atiradas pelo mais exímio arqueiro e; diferentemente de Galileu Evans, a garota olha para o chão, no vão intuito de que os adolescentes ali presentes deixassem de prestar atenção nela e voltassem para seus afazeres.
Como podem ver, caros leitores, os últimos meses não têm sido fáceis para a nossa querida protagonista, contudo isso aqui é vida real e, na vida real, os finais nem sempre são tão felizes quanto deveriam.
HEY MEU POVO QUE COME PÃO COM OVO!
Comé que cês tão? Espero que estejam bem.
AUC tem grupo no WhatsApp, o link está em meu perfil, para quem se interessar, e sim, é o mesmo grupo de AUS.
Me contem, o que acharam do capítulo?
Espero que tenham gostado. Deixem suas opiniões e críticas construtivas, aceitarei todas de bom grado, porém peço que sejam feitas com educação.
Ainda não há dias fixos para postagens, considerem o capitulo apenas uma degustação por hora.
Isso é tudo pessoal!
Tia Bia ama o cês!
Kissus da tia Bia!
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Adote uma Cotard [ EM BREVE]
Novela JuvenilLIVRO III - SÉRIE ADOTE Julie Døde faz parte da minúscula estatística de casos mundiais de síndrome de Cotard. A garota de dezesseis anos tinha tudo para ser considerada uma garota "normal": seu namorado a amava, sua família era unida e sua vida soc...