Gostaria de estar na tranquilidade de meu quarto, mas estava ali.
Nosso avô, Poseidon, escolhera Atlântida para receber os festejos dos deuses do Olimpo daquele ano – o que comemoravam ao certo, não me importei o suficiente para ouvir. Consequentemente, receberíamos todos os grandes e pequenos deuses em nosso palácio. Infelizmente, por conta disto, a presença do rei Tritão e suas filhas como anfitriões era mais que requisitada.
Posicionei-me ao lado de minhas irmãs, a postos para recepcionar os convidados. Como sempre eu era a quarta na fila, por ter sido a quarta a nascer.
Era bom ser irmã do meio. Não ser sobrecarregada com as maiores responsabilidades da coroa, nem ser superprotegida como nossa caçula, Ariel. Geralmente sou esquecida em meu canto, talvez por não ser tão talentosa como Arista, engraçada como Andrina ou bela como Alana – mas gosto disto. Minha falta de destaque mantêm o meu sossego.
Na melhor das hipóteses, após breves cumprimentos e conversas vazias, eu conseguiria desaparecer discretamente e ninguém repararia a minha ausência.
Como podem observar, minhas expectativas eram baixas – gosto de mantê-las assim. Ao contrário de minha irmã Adella, que como sempre, encontrava-se histérica.
"Meus deuses!" Abanava-se ela, ao meu lado direito. Haviam drenado a água do interior do palácio para o evento, obrigando-nos a assumir a forma humana. "Acho que vou desmaiar!"
Revirei os olhos, cruzando os braços. "E o que há agora, Adella?"
"Como pode estar tão calma?!" Revoltou-se ela, batendo seu leque em meu braço. Mais um de seus eventuais ataques de nervos. "Os melhores deuses estarão aqui! Inclusive Apolo!"
Bufei, sarcástica. "Escondam os louros!" Provoquei, fingindo entusiasmo. Conhecendo a natureza de minha irmã como conhecia, já podia dizer quais eram suas intenções.
"Pobre Apolo. Não terá paz a noite inteira." Murmurou Andrina, debochada. Tentamos segurar nossos risos, em vão.
"Parem de zombar de mim!" Afetou-se Adella, excessivamente maquiada para a ocasião.
Alana pegou o rosto de Adella, tentando limpar o excesso de pó com pouca delicadeza. Seus esforços mostraram-se em vão. "Não precisa de nós para isto."
Ao meu lado esquerdo, Arista, minha irmã mais próxima, encarava o chão – absolutamente alheia à tudo. "Também deve estar ansiosa para conhecer Apolo." Cutuquei, trazendo-a de volta à realidade. "Veremos ele tocar hoje! E, com sorte, ele a verá tocar também! É a sua chance de virar uma musa, Arista!"
Arista abriu um sorriso, estufando o peito. "É isto aí. Minha vida muda hoje!"
Aplaudi, aos pulinhos. "Go sister, go sister, go!"
Ela riu, ainda em sua postura segura de costume. "Sabe, a sua também poderia mudar hoje." Ela me incentivou. "Fazer contatos com os olimpianos, sei lá. Se ao menos gostasse de conversar..."
"Se ao menos eu gostasse de pessoas..." Complementei. "Nada tema. Ficarei bem."
Nosso pai nos chamou a atenção. Os primeiros convidados haviam chegado, precisávamos parecer civilizadas.
Em pouco tempo o salão estava preenchido por todos os deuses possíveis e imagináveis – os mais famosos e aqueles que jamais ouvira falar. A maioria nunca havia visto pessoalmente, e reconheci de longe suas auras intimidadoras. Julguei mais prudente observá-los de longe.
Ariel perguntava o que podia sobre mortais a qualquer um que conseguisse despender uma conversa de mais de 30 minutos – como eram, onde viviam, o que faziam. Honestamente, não entendo a obsessão de minha irmã com criaturas tão desinteressantes.

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Aqui no Mar
Hayran KurguAs filhas do rei Tritão tentam lidar com a chegada dos deuses Olimpianos em Atlântida - à convite de Poseidon, para um baile que durará três dias. As irmãs de Ariel se encontram em situações que nunca imaginariam - bem aqui, debaixo do mar. ⭐ Na lis...