Arista - Parte 1

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Aquele era o último número de jazz e a última música que tocaria na noite. Segundo Sebastião eu era muito jovem e deveria aproveitar o resto do baile. Não fazia muita questão – tocar por si só já me preenchia por completo – mas confesso que estava ansiosa para ver que havia conseguido chamar a atenção de Apolo ou de alguma musa presente.

Pelos deuses, pelo menos alguma delas deveria ter gostado. Eram nove.

Eu tremia de emoção só com a ideia. Imagine se eu virasse a décima musa! Viver única e exclusivamente para música pelo resto de meus dias...!

Após terminar minha apresentação, desci do palco. Vasculhei a multidão com olhos, buscando por Apolo. Este parecia descontraído, conversando intimamente com duas mulheres – cada uma sentada em uma de suas pernas.

Aguçando a minha visão, percebi que as mulheres se tratavam de Calíope – líder das musas – e Euterpe – musa da música – respectivamente.

Enchi meu peito de ar e coragem. Iria até elas, iniciaria uma conversação e perguntaria o que tinham achado de minha performance.

Era a minha maior chance. Não poderia jogá-la fora agora.

"Você toca muito bem." Ouvi um homem aproximar-se de meu lado direito, elogiando-me. Abri um largo sorriso e genuinamente feliz, voltei-me à ele.

"Muito obrigada. Eu pratico muito." Respondi, voltando-me ao dono da voz. Foi aí que o vi diretamente.

Dionísio.

Me surpreendi. De todos os presentes, foi o último que imaginei que iniciaria uma conversação comigo.

Se bem que fazia sentido. Ele era um famoso admirador da música, sim.

Não era bem por isso que ele era lembrado na maior parte das vezes, mas ainda sim...

"Está indo conversar com Apolo?" Dionísio previu meus pensamentos. Parecia me analisar atentamente. "É irmã da morena de verde, não é?"

Ri de nervoso, por ser comparada à desesperada da Adella de qualquer forma. "Sim. Quero ser uma musa." Admiti.

Ele abriu um sorriso de escárnio.

Ergui a sobrancelha. Dificilmente algo me dava mais motivação do que alguém duvidando de mim. "Acha que não consigo?"

"Você é muito talentosa, docinho. O meu ponto não é esse." Ele se aproximou de mim, oferecendo seu braço. Andamos juntos pelo salão. "Só acho que tem potencial demais para se limitar ao harém particular de Apolo."

Franzi o cenho com força, indignada. "As musas são muito mais do que isso!"

Ele soltou um risinho. "Se insiste." Cedeu com incrível facilidade. "Quer que eu a apresente?"

"Bom... Seria muito gentil." Admiti.

Nos aproximamos do divã onde estavam sentados Apolo, Calíope e Euterpe. Não nos deram muita atenção até que Dionísio falasse: "Grandes amigos, que honra vê-los mais uma vez." Sua voz era carregada de sarcasmo. Provavelmente se viam muito mais do que queriam. "Espero que estejam gostando das apresentações desta noite. Esta é Arista, grande musicista que nos agraciou há pouco. Filha de Tritão."

Sorri a eles, simpática. Tentei não reparar no fato de que Dionísio já sabia meu nome sem eu ter me apresentado.

Apolo ergueu uma sobrancelha, indiferente. "Ah. Mais uma filha de Tritão."

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