Aquata - Parte 2

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 Dei algumas voltas com Hermes – no intuito de entediá-lo o mais cedo possível, para que voltasse ao baile e me deixasse em paz.

Por algum motivo, não estava funcionando.

"Já lhe mostrei as redondezas no mínimo umas 3 vezes, senhor." Suspirei vencida. "Não sei o que mais quer de mim."

Ele sorriu de canto. "Não me chame de senhor. Me faz parecer velho."

Ergui a sobrancelha. "Os milênios de existência lhe pesam as costas quando assim te chamo, senhor?"

Ele me olhou, achando graça de minha provocação. Cedi. "Do que devo chamá-lo, então?"

"Do que quiser, bella mia." Insinuou. Seria um tom provocativo ou era apenas a minha cabeça?

Coisa de minha cabeça, com certeza.

Demos alguns passos em silêncio. Estava preocupada demais tentando não corar.

Se é que seria possível controlar o bombardear de meu sangue.

"É um palácio pequeno." Concluiu Hermes, após um suspiro.

Então volte de onde veio, capeta. "Poderemos voltar ao salão, então?" Perguntei, esperançosa.

"Engraçado que esteja tão ansiosa para voltar ao baile... Estava fugindo dele, quando esbarrou em mim, não?" Ele provocou.

Não quero voltar ao baile. Quero me livrar de você. "Para onde ia com tanta pressa?" O deus não desistiu de investigar.

"Reclusar-me. Em meu quarto." Admiti, de uma vez. "Sei que quer histórias interessantes da família real de Atlântida para espalhar no Olimpo, mas sinto desapontá-lo. Não tenho nada de interessante a compartilhar. Volte ao baile e tente com minha irmã Adella, eu sugiro. Ela deve ter mais casos a contar do que eu."

Ele ergueu a sobrancelha. Me encarava como se eu fosse fascinante. "O maior acontecimento da história de Atlântida em séculos está acontecendo no salão de sua casa e quer se esconder em seu quarto?"

Irritei-me. "Vocês, olimpianos, com esta maldita mania de grandeza." Deixei escapar. "O que há de tão interessante em uma festa? Os deuses maiores em um mesmo cubículo? Eu deveria me ajoelhar perante tal momento, é o que pensa?"

Hermes abriu a boca para responder, mas eu não o permiti. A pergunta era retórica – não que eu esperava que ele soubesse o que isto era. Prossegui, atropelando-me em palavras: "Vocês têm a eternidade e ainda sim se prendem a tão pouco. A momentos grandiosos, esbanjamentos de poder e riqueza. Se quer saber a minha opinião, são muito barulhentos. Subestimam as pequenas coisas. Os momentos de solidão. Pequenas paisagens silenciosas, lindas por si só e esperando para serem admiradas."

Hermes balançou a cabeça, visivelmente confuso com a expressão de minhas ideias. Não me surpreende. Não nasci para fazer sentido.

"O que tem a ver admirar paisagens lindas com você se trancando em seu quarto?" Expressou ele, lenta e relutantemente. Eu sorri.

"Você não entenderia." Resumi.

"Está me chamando de burro?" Questionou, brincalhão.

Parei no meio do corredor em sua frente, cansada daquela conversa. "Eu, meu senhor, não te chamei de nada. Nem para nada. Está aqui porque se chamou sozinho."

Fui inconveniente de todas as formas possíveis. Concluí. Por que ainda insiste?

"Você..." Concluiu o deus, apontando para mim. "É uma garota muito esquisita."

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