broken hearts cemetery

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Abri a jarra pela segunda vez naquela noite e joguei outro pedaço de papel dentro, guardando mais outra decepção.

Observo aquela jarra como de costume. Nos últimos meses ela estava ficando bem cheia, e hoje ela está totalmente completa.

Observo com cautela meu caderno ao lado da antiga jarra, ele costumava ser um diário no qual eu passava o dia contando sobre minha - nada animada - vida. Hoje em dia eu apenas rabisco desenhos aleatórios e escrevo letras de música. Abro na primeira página e leio: Querido Diário, ou seja lá o que você for, hoje ganhei uma antiga jarra da minha mãe, ela é grande e bonita. Hoje também meu psicólogo disse que eu devia começar a escrever como me sinto para tirar de mim o que me machuca, mas tive uma idéia melhor: todo dia irei jogar um pedaço de papel para simbolizar todas às vezes que algo ou alguém machucar, para no final quando eu finalmente for feliz, irei poder jogar fora todas as mágoas que eu juntei por tanto tempo, permanentemente. Mas até lá, irei guardando comigo esses sentimentos, até saber que posso soltá-los, e eles me soltarem também. 27/09/2018

Fecho o caderno e encaro os papéis. Há dois anos  atrás eu ainda acreditava que jamais completaria a jarra antes de jogar todos os papéis fora, eu mal sabia a quantidade de vezes que eu morreria nesses dias todos.

Pego a jarra e a trago pra perto, apago as luzes do quarto e sigo até o quintal. Deixo a jarra na grama e com uma pá, começo a cavar. 

Mais fundo eu vejo uma ponta da minha antiga caixa com cartas escritas pra mim mesma, enterro a jarra junto à caixa, que também enterrado, se encontra um pote de poemas e meu antigo diário já completo.  Acabo de jogar a terra e retorno para casa, acendo as luzes e vou até meu caderno, abro em uma página vazia e escrevo: Querido Diário, hoje enterrei outra parte de mim, naquela jarra se foi o eu de 2 anos atrás que morreu milhares de vezes. Querido Diário, outra vez sem esperanças, estou completamente vazia, existindo até a sua última página, para em breve morrer no meu cemitério de corações partidos.

O Doce Amargo da PoesiaOnde histórias criam vida. Descubra agora