O Doce Amargo da Poesia

iluminated neighborhood

O barulho mais alto que consigo ouvir agora é a televisão do meu marido  vindo do quarto, mesmo um pouco distante, está alto o suficiente para conseguir ouvir perfeitamente a voz de um homem pedindo perdão a alguém que eu não consigo ouvir, provavelmente um filme, quem sabe uma série. 

Todas as luzes estão acesas dentro de casa, mas não há som. Fiz questão de desligar a televisão e colocar meu telefone no silencioso. Eu estava um pouco curiosa sobre seja lá o que meu parceiro possa estar assistindo, mas agora meu foco se mantém inteiramente dedicado ao meu bairro. 

Há muitos prédios em volta, a maioria tem suas luzes apagadas, mas os que ainda permanecem acordados, tem minha total atenção agora. 

Faz duas semanas que minha própria companhia está conseguindo me fazer mal, mas a solidão é inevitável... 

Olhando para o lado de fora da janela, avisto uma varanda de longe, as luzes estão acesas, meus vizinhos estão acordados. O que será que eles estão fazendo? Talvez assistindo o mesmo filme que meu companheiro está vendo? 

Se é que já o posso chamá-lo assim.

Eu tenho sido minha companheira há alguns dias, e essa companhia tem me machucado muito, então busco companhia nas janelas iluminadas dos meus vizinhos, imaginando uma vida perfeita por trás daquelas cortinas.

Eles devem estar sentados em um sofá grande agora, junto com uma cachorro que se chamará Totó! Estão assistindo um filme e não estão preocupados com uma alma solitária observando de tão longe, pedindo por uma companhia.

Imagino meus vizinhos, durante a noite encostados em suas varandas, olhando em volta e prestando atenção em cada prédio e seus andares. Eles devem olhar o meu e pensar que naquele apartamento ninguém nunca dorme, pois minha nossa! quantas luzes, nada é mais brilhante do que as luzes agora. 

Será que eles se perguntam o porquê de tanto brilho? Sequer eles sabem que dentro dessa luz toda, mora uma alma apagada.