“Eu pensava como todas as outras pessoas. O mundo, para mim, era constituído de elementos químicos, de terra, água, fogo e ar... Talvez ele continue sendo... Já não tenho certeza de nada. Depois de tudo o que houve, essa foi a única certeza que obtive.”
”Finalmente entendo Sócrates ao criar a célebre e já clichê frase: ‘Sei que nada sei’. Você pensou ter a certeza a meu respeito, não tinha. Eu pensei ter certeza sobre aquilo que você deveria ser e não tinha.”
“Não tenho certeza sobre o meu destino, nem sobre o seu. Sendo otimista, talvez possamos voltar a nos ver. Não logo. Nem enquanto você continue crendo nas certezas. Algum dia, talvez você possa me fazer voar! Eu sentirei a felicidade invadir meu corpo. Então, eu olharei em seus olhos e verei o azul brilhante novamente. Algum dia.”
Angelique Benoite
Ela terminou de escrever a carta e deixou-a no parapeito da janela, esperando que ele encontrasse. Ela sabia que ele a encontraria na verdade. Gabrielle havia lhe dito que ele não ousaria se aproximar dela, pelo menos não após o incidente. Ela duvidava – e, de certa forma, rezava para que sua nova protetora estivesse errada.
Ela não queria imaginar uma vida tão distante dele, embora soubesse dessa necessidade. Ele precisava se recuperar. Precisava encontrar seu destino, da mesma forma que ela fizera. Olhou uma última vez pela janela. Ele encontraria um futuro além daquele quarto. Ele tinha que esquecê-la ou não sobreviveria – ela não sobreviveria.
- Angelique, você está pronta?
Seu namorado estava parado na soleira da porta, enquanto permitia que ela fizesse sua última despedida. Era um adeus àquela vida. Não havia mais Céu e Inferno para incomodá-la. Havia apenas ela, o que já era suficiente para as dores de cabeça.
- Estou. Pode descer. Eu preciso fazer algo antes.
Ela ouviu os passos. Ele estava dando a ela o tempo de que necessitava. Correu ao armário e pegou um envelope que estava escondido. Retirou dele uma pena. “Eu amo-o, ainda que não saiba como, mas preciso afastá-lo de mim.” Depositou a pena no parapeito, sobre a carta recém redigida. Saiu do quarto sem olhar um última vez pela janela.
“Eu também a amo.” Ele vira ela partir sem poder fazer nada. Não havia perdido a batalha para o Inferno ou para o Céu; havia perdido a batalha interna. Ele sucumbira ao seu próprio desejo e encontrar aquilo que mais temia. Colocara em risco a única pessoa com quem havia se preocupado algum dia. Ele ficou espantado ao ver um lágrima escorrendo por sua face. Nunca havia chorado.
Ela entrou no carro com o namorado e seguiu em direção a uma nova vida, em algum lugar longe dele. Ele descobriria onde e, na hora certa, enviaria uma resposta àquela carta. Pegou a pena sobre o parapeito e, delicadamente, soprou-a na direção do veículo. Começou a entoar uma canção e partiu para algum lugar em que não pudesse ser encontrado.
Angelique viu a pena voando e ouviu uma melodia em sua cabeça. Sorriu melancolicamente.
- Eu sei que é difícil partir, mas não temos outra saída. Agora ele não lhe fará mal, porque todos farão de tudo para mantê-lo afastado.
Ela apenas sorriu para ele; não queria lhe contar o quão errado estava. Olhou, então, para o céu, desviando o olhar mentiroso. “Ele sempre estará comigo”.
“I sit and wait. Does an angel contemplate my fate? And do they know the places where we go when we're grey and old? 'Cause I've been told that salvation lets their wings unfold. So when I'm lying in my bed, thoughts running through my head, and I feel that love is dead, I'm loving angels instead”
“Eu sento e espero. Um anjo contempla meu destino? E eles conhecem os lugares aonde nós vamos, quando estamos grisalhos e velhos? Porque me contaram que a salvação deixa as asas deles estendidas. Então, quando eu estiver deitada em minha cama, pensamentos passando pela minha cabeça, e eu sentir que o amor está morto, eu amarei anjos ao invés disso...”.
(Angels- Robbie Williams)
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Asas da Escuridão
FantasyEles estavam numa festa onde tudo parecia normal. Até que ele fez o impensado. Angelique Benoite nunca se iludiu acreditando que poderia esquecer a noite em que seu namorado morreu. Não, ela jamais conseguiria apagar a sua parcela de culpa. Ela podi...