Capítulo 1 - O Baile das Emoções

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Não é preciso morrer para se estar no céu ou no inferno. Cada um faz da sua vida aquilo que deseja. As experiências, contudo, podem nos levar a fazer coisas inimagináveis tornando anjos em demônios e vice-versa.

Os primeiros são criaturas extraordinárias. A sociedade angelical é capaz de suportar todos os desafios humanos e ainda assim permanecer unida. Embora alguns divirjam sobre determinados assuntos envolvendo a humanidade, o grupo permanece intacto, com algumas pequenas modificações, ou exclusões.

No Céu, os anjos superiores estavam encarregados de passar missões aos iniciantes. As tarefas mais árduas eram passadas para os mais competentes. Não que os outros as desmerecessem, mas a possibilidade de êxito seria maior com os mais experientes. E nos tempos modernos, com uma disputa acirrada entre bem e mal, qualquer erro era uma perda. A vitória era a única escolha.

Um anjo em especial havia se destacado nos trabalhos anteriores, apesar de ser um dos mais jovens. Nos céus ele não receberia um nome próprio, pois anjos eram o que eram, bastava pensar em algum deles para diferenciá-los. É uma sociedade organizada, com ligações extremamente fortes, capaz de distinguir com quem se fala ou de quem se fala por meio de um único pensamento. E por meio dessa capacidade o jovem anjo foi chamado por seu superior, uma das criaturas mais sábias e experientes daquela dimensão, participante de inúmeras batalhas entre o bem e o mal, responsável pelas tarefas celestiais.

- Você irá descer em pouco tempo à Terra.

- Sim. Qual será a minha tarefa?

O anjo assentiu. Não havia discussões ou rebeldia. Uma tarefa era sempre o bem mais precioso de um anjo.

O mestre explicou a tarefa, concluindo:

- E na Terra receberá um nome: Miguel. Boa sorte

Miguel desceu. Não era a primeira vez que fazia isso. Dessa vez, no entanto a tarefa não seria tão fácil. Cuidar dos seres humanos poderia ser bem complicado, principalmente quando estes não queriam os cuidados.

“Tudo culpa do livre-arbítrio. São seres imaturos. Não pensam nas consequências de seus atos, agem por impulso, por intermédio da paixão, das vontades. São como crianças ingênuas que não sabem o risco que correm ao tocar em uma tomada. Seres que precisam da minha ajuda, infelizmente.”

*

Ela corria em seus saltos. Já era difícil caminhar por aquela rua mal asfaltada; correndo, então, era impossível. A rua era mal iluminada, por isso ela andava rápido. Ouvia passos e olhava de vez em quando para trás. Angelique Benoite não era o tipo de menina que se deixava amedrontar por coisas pequenas. Sempre forte e corajosa, nunca se abalava. Pelo menos não nos últimos meses.

Saíra de casa sem a permissão dos pais. Eles iriam matá-la caso descobrissem seu pequeno segredo. Ela somente havia omitido o detalhe de que iria a uma festa. Nada que afetasse sua vida. Uma festa em cada dez da sua vida simplória era trágica. Como ela já vivenciara essa uma, tinha certeza de que nada demais ocorreria esta noite. Angelique estava dominada pela vontade incontrolável de viver. Dezesseis anos de uma vida pacata, sem altos nem baixos. Agora, tudo caíra como uma forte chuva.

- Brites, eu estou do lado da sua casa! – Angelique falava ao telefone com a amiga.

Brites era uma amiga como nenhuma outra. Sem ela, Angelique não saberia o que fazer. Era ela quem a guiava e impedia que fizesse mais besteiras.

Da porta antiga saiu uma menina de cachos louros e bochechas salientes, tão pequena e delicada quanto uma boneca de porcelana.

- Olá Angelique. Eu estava pensando... Tem certeza de que é uma boa ideia irmos nessa festa? É do outro lado da cidade. Meus pais não estão gostando disso. E os seus nem sabem. Acho que é melhor ficarmos assistindo um filme, comendo pipoca e brigadeiro.

Asas da EscuridãoOnde histórias criam vida. Descubra agora