Prólogo

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Já faz algum tempo que eu não escrevo. Eu tenho dessas de ficar um tempão sem escrever e do nada mandar dez mil palavras no Docs — sim, estritamente no Google Docs porque não tenho como pagar o pacote Office e tenho preguiça de pirateá-lo. Enfim, estou sem escrever por diversos motivos, mas o principal é o conto do Ivan. Juro, estou tentando terminá-lo há MESES, mas a ideia parece não desenvolver. Acho que não sirvo pra romance mesmo, mas não desistirei — tenho fé que hora ou outra eu termino essa maldita história.

É meio cômico que eu, que costumava escrever no mínimo duas poesias por semana, não tenha NENHUM verso saindo dos meus dedos. Não sai nada, nenhuma rima. Isso está me consumindo aos pouquinhos, e talvez seja esse o principal motivo de eu priorizar a Biologia em vez da minha escrita: meus bloqueios criativos são inimagináveis. Temo que eu tenha algum bloqueio que não terá fim e, se eu de fato seguir carreira literária, por conseguinte não terei sustento quando esses bloqueios vierem. Ao menos sempre haverá um bicho ou uma bactéria que eu possa estudar, as palavras nem sempre haverão.

Pela falta de prática, minhas redações também estão sofrendo — o que é horrível, se considerarmos que sou uma pré-vestibulanda —; sinto que não consigo mais fazer relações lógicas entre as frases. Nada funciona. Os conectivos são repetitivos e só sigo aquela fórmula básica de redações: usar as mesmas palavras pra conectar as ideias ("enfim, portanto, à vista disso, contudo, dessa forma, etc."), copiar alguma opinião medíocre que ninguém pode questionar (gente, roubar É ERRADO; tudo resolver-se-á a partir da EDUCAÇÃO; o governo precisa fazer algo; pau no cu do presidente - calma, essa parte sei que é consenso entre pessoas sensatas mas não ponho isso na redação). Porém, percebo que mesmo que as exigências de uma redação de vestibular sejam monótonas, a criatividade tem um papel importante e, por isso, estou me ferrando.

No geral, todos estamos nos ferrando. Uns mais que outros. Não ouso reclamar tanto, estou consciente que sou privilegiada. Mas tá foda.

De qualquer maneira, voltando ao assunto do conto que citei anteriormente, o do Ivan. Como é perceptível, o nome é russo. Sim, de fato é um nome russo. Foi uma inspiração advinda de uma história russa, de um personagem homônimo: estou falando do Ivan Ilitch, do livro "A Morte de Ivan Ilitch". O Ivan lapidado pelo Tolstói — Liev Tolstói —, em sua época mais... bem, mais "espiritual" por assim dizer. Em que ele estava mais piradinho, como eu gosto de classificar.

Na época eu estava maravilhada com a literatura russa. Só com a literatura russa mainstream, porém. Fui ler os clássicos, e os autores mais famosos. Deixo o aprofundamento nesse universo literário para depois. Vi em algum lugar que o Dostoiévski era tipo o Machado de Assis da Rússia, e pensei "gosto de Machado, então vou ler". É incrível. Crime e Castigo, Memórias do Subsolo, são sublimes. Vale a pena, pra quem gosta.

Então, nomeei meu personagem de Ivan. Criei um background soviético, de espionagem. O meu Ivan é espião da KGB, e extremamente narcisista. Para ele, o dever está acima de tudo. Especificamente, ele é o espião-assassino do partido - ele mata as pessoas que o partido comunista considera como "traidoras". Tudo certo até aí. O problema é que eu levei muito a sério essa ideia.

Eu levei tão a sério a ideia de que o Ivan era mau, que agora eu não SUPORTO esse homem. Não consigo terminar o conto porque tenho nojo do Ivan, e não tenho o talento do Tolstói para continuar a narrativa. Não tenho esse ímpeto só pra ver a obra terminada. Então o meu Ivan talvez tenha morrido, sem ter morte escrita como o homônimo Ilitch.

Contudo, embora eu fuja da escrita, não posso fugir da leitura do vestibular. Hoje — dia vinte e quatro de novembro — eu terminei de ler "Nove Noites", do Bernardo Carvalho, livro obrigatório para prova da UFPR. O começo do livro foi sufocante: eram muitos nomes, muitas informações, e eu estava perdida. Buell Quain havia morrido há tempos e um jornalista futriqueiro quis descobrir o motivo, algumas décadas depois. A narrativa é intercalada com as cartas que Quain e o amigo sertanejo mandaram. É uma prosa bonita, a repetição "Isso é pra quando você vier" que faz o amigo sertanejo é interessantíssima. Mas não sei. Eu sou muito fácil, acho qualquer coisa bonita. Sou poeta.

Diante de MimOnde histórias criam vida. Descubra agora