Nadir

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Fôssemos o pico da estrela,
a última gota de sangue vivo.
O último estalo carmesim
que ousa permanecer aqui.

O largo sorriso, o albedo
do astro maior da existência.
Fôssemos o rastro da ausência
que fingimos preencher em segredo.

O peito cambaleante,
coração abadito.
O pé indeciso que não sabe
se corre ou se para.

Se teu murmúrio fosse
ou valesse mais que quilate.
O som escarlate que voa
dos teus lábios.
Como se eu fosse ávida
pelas cores da tua fala.
Como se eu tivesse sede
das coisas que dizes.

Como se a fome de paixão
fosse sanar com essas
tuas breves e fracas palavras.

Se o deleito do que eu vejo fosse
o suficiente.
Se o cifrão dos teus lábios
não almejasse o vazio completo.

Se o rubi dos teus olhares
não fosse venda já feita.
O lucro em êxtase que eu teria...

Mas eu não tenho
e nós não somos.

Não existem metáforas que
possam descrever-nos se
você assemelha-se ao nada
mais do que qualquer coisa.

Como se eu fosse a atmosfera inteira
e você uma brisa mal-sentida.
O sol em seu mais alto ponto
e você o ato em que ele se põe.

Eu te sigo e tu me dizes
que todos precisamos
esconder-se alguma hora.
Que fissão nuclear têm limites
e que às vezes o sol resplandece
sem freios, queimando peles
e paixões efêmeras por aí.

O zênite enfeitiça o nadir,
procuro abaixo da vista;
me continuo abaixo do horizonte.
Agaixando-me e rebaixando-me
na dança incessante dos astros.
Tentando beijar os lábios da lua
pensando que ela é você.
Sem sucesso, sem prêmio.
Você não é a lua, nem tão bom assim.

Esconder-me atrás da linha das ondas,
privá-los dos fótons que regurgito.
Tu dizes que queimar demais é perigoso
e que sou responsável por tudo que cede.
Que sou iluminação dotada de verdade:
sabendo que com a luz vem a revelação.

Algoz porque a verdade dói
de acordo contigo.
Mas eu sei que não devo te ouvir.

Porque você sequer pode ser satélite,
se o teu conceito é vago.
Como se tudo que pudesse dar
fosse um breve afago
que mal sinto em meus ombros.

Nem faísca nem albedo,
uma ideia pós-ocaso.
Encontro entre opostos por acaso.

O ouro tentando beijar prata;
eu sou selênio.
Sou deiscente
e tu és aquênio.

Eu irei abrir-me ao mundo,
longe do teu eclipse.
Viverei com afinco, ao fundo.
Serei meio-dia para sempre,
o astro em tudo ardente.

Porque toda luz que vem de ti
é reflexão do meu brilhar.

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⏰ Última atualização: Dec 08, 2020 ⏰

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