Domingo de manhã

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— Certo, turma — diz a professora, chamando a atenção de seus pequenos alunos. Keitarou logo largou sua massinha de modelar sobre a mesa, atento ao que a professora falaria. — Todos em seus lugares, faremos uma última atividade antes de ir para casa.

Keitarou seguiu seus coleguinhas, deixando a área de brincadeiras e correndo até sua carteira no meio da sala. A professora, a quem ele chamava carinhosamente de Naomi-neesan, andava entre as fileiras de cadeiras. Distribuindo pedaços de papéis coloridos.

— Como todos sabem, próximo domingo será o dia dos pais. — Começou Naomi-neesan. Keitarou sabia, ele vibrou em sua cadeira, animado. O seu papai Koutarou não parava de fazer, o que seu papai Keiji chamada de "soltar indiretas" sobre qual presente ele gostaria de ganhar. Entretanto, o que seu papai Koutarou não sabia, era que ele e o papai Keiji já haviam comprado todos os presentes. Keitarou, como o bom garoto que era, prometeu guardar segredo de seu pai.

Keitarou estava quase pulando em seu lugar, mas sua animação foi embora no momento em que a Naomi-neesan colocou apenas um pedaço de papel em sua carteira. Keitarou franziu as sobrancelhas.

— Naomi-neesan, está faltando mais duas. — Diz ele, apontando para o seu papel.

— Como, querido?

— Eu preciso fazer três cartinhas para o dia dos pais!

— A-ah, claro. Mas... — Naomi-neesan coçou a nuca, ela não sabia como tratar aquele assunto com o garotinho. — Você não quer fazer a cartinha para o seu pai? — o tem que ela usou nas palavras "seu pai" deixou o garotinho confuso.

Keitarou franziu ainda mais as sobrancelhas.

— Sim, por isso eu pedi mais duas folhas. Eu tenho três papais! Ah, e pode me da uma vermelha? É a cor favorita do meu papai Tetsu.

— M-mas, querido...

— Naomi-neesan! — uma mão se levantou no fundo da sala, era Chiharu, uma das colegas de classe de Keitarou. — Eu também preciso de mais uma! O meu papai não vai ficar nada feliz se não receber uma cartinha também.

Naomi-neesan suspirou. Mesmo assim, entregou papéis extras as duas crianças. Não se esquecendo do pedido exclusivo de um papel vermelho para Keitarou. Ninguém poderia culpá-la por querer manter as coisas como estavam em sua cabeça. O conceito de família tradicional. Em sua defesa, ela apenas queria proteger Keitarou do que viria a seguir: os sussurros de seus colegas de classe o julgando.

— Você ouviu isso? O Keitarou-kun tem três papais.

— Ele é estranho. Minha mãe falou para eu não brincar com ele na hora do recreio.

— Ele diz que o pai dele é um jogador de vôlei famoso, que até mesmo já apareceu na TV.

— Sério? Qual deles?

— E eu vou saber? São três!

Um barulho alto de mãos batendo contra a mesa interrompeu os cochichos maldosos. Entretanto, a interrupção não veio da professora, veio da garotinha no fundo da sala.

— Calem a boca, seus idiotas! — gritou Chiharu. — Não tem nada de errado com a família do Kei-chan! Vocês que são estranhos.

— Você também é estranha! Você tem dois pais!

— E daí? Pior o seu pai que foi comprar cigarro e não voltou!

— Ele voltou, sim! Ele volta todo mês!

— Claro que volta, porque se ele não te ver pelo menos uma vez por mês sua mãe manda prender ele!

— Crianças, parem! — Naomi-neesan exclamou. Céus, aquelas crianças ainda iriam causar a sua morte. Ela sabia que não poderia punir Chiharu por falar coisas insensíveis, levando em consideração que os outros também falaram. Ela só queria que aquele dia terminasse logo. Sorriu, falando por fim o que estava em sua parte profissional do cérebro — Façam suas cartinhas. Usem a criatividade e os sentimentos que vocês sentem por seus pais.

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