Any Questions?

50 2 6
                                    

[TW: Assuntos sensíveis como suicídio, automutilação]

10 de setembro, 2006
11:24 a.m.

— Nada de lápis, canetas, lapiseiras e essas coisas...nenhum tipo de cordão ou pulseira, e nada de cadarços você pode retirar eles de seu tênis por favor? E o do casaco também. — Volto a realidade ao ouvir a voz feminina da enfermeira falando comigo, encaro seu uniforme branco por alguns segundos, concordando com a cabeça logo depois; me abaixo começando a desamarrar meus cadarços e retirar eles, pondo os dois dentro de uma caixa em cima da bancada, retirando os do casaco logo depois, os botando junto com os do tênis. Ouço a mulher agradecendo enquanto continua olhando para sua prancheta.

Coço meus olhos, com um pouco de dificuldade e incômodo de deixar eles abertos por causa da forte luz do lugar e como ela deixava o ambiente branco 10 vezes mais claro, sentindo meus olhos quererem lacrimejar por causa do incômodo; talvez eu estivesse assim por não ter dormido a noite, visto que a enfermeira e meus pais estavam bem de ficar nessa luz. Meu pulso também coçava um pouco, mas eu não conseguia fazer nada por causa dessa atadura idiota. Fico em silêncio enquanto continuava a ouvir ela lendo a lista. — Sem objetos afiados, cortador de unhas, lixas de metais, portas retratos, cadernos com arames... — Fico em silencio apenas ouvindo, enquanto olhava com o canto do meu olho o resto do local, a cor branca era bastante predominante aqui como eu já tinha visto pelas fotos no panfleto. — Alguma pergunta?

18 de setembro, 2006
09:41 p.m.

— Os primeiros dias aqui não tinham sido ruins, apenas entediantes, não tinha muito o que fazer além de pintar, escrever ou assistir TV, mas lá só tem 6 canais no máximo e eles trancam a sala de TV as oito da noite, então não tinha muita graça; bom, eu ouvi pelos corredores que tem um jeito de escapar dos quartos sem algum dos enfermeiros nos verem e ir para a sala de TV de novo, eu só não descobri como ainda. Mamãe e papai vieram me visitar ontem, mas durou no máximo meia hora, Luke, Julie e William ainda não tinham vindo, eu nem sei se viriam na verdade, espero que venham. Eu também conheci meu colega de quarto essa semana, ele chegou um dia depois de mim, Tyler, 16 anos, 9 meses mais novo que eu. Ele tinha o cabelo preto, muito preto, dava até para se camuflar se ele parasse na frente de uma parede preta, ele era um pouco alto também, devia ter uns 1,76, era magro, mas os braços até que eram um pouco definidos, mas nada demais, ele era um pouco pálido; não sabia muito sobre ele ainda, só que ele engoliu um vidro inteiro de aspirina, ficou 4 dias na UTI e agora tá aqui, eu ouvi os enfermeiros conversando. Ele não fala muito ainda, mas eu já percebi que ele é fã do Red Hot Chili Peppers, ele tá sempre cantarolando Dani California, as vezes eu cantarolo junto, eu ouvia essa música o tempo inteiro com a Julie antes de vim pra cá, eu me lembro de nós dois cantando no carro enquanto voltávamos da festa do Mark, era uma lembrança legal.

Lá estava ele cantando Dani California de novo, nós dois quase não trocávamos um sequer bom dia ou boa noite, mas sempre que ele começava a cantar, eu o acompanhava, parecia que estava se tornando como uma rotina; eu achei que na primeira vez ele iria me odiar por atrapalhar sua cantoria mas ele nunca reclamou, uma vez eu até vi ele disfarçadamente sorrindo quando eu comecei a cantar, acho que ele achava engraçado. — California, rest in peace...simultaneous release, California show your teeth... — Cantava junto com ele enquanto olhava para o teto cinza do nosso quarto, batucando com meus dedos sobre minha barriga. — Por que você canta tanto essa música? — Pergunto ainda olhando para o teto. — Eu não sei...me ajuda a fugir daqui um pouco, como se eu estivesse em um lugar melhor...e eles pegaram meu iPod, então. — Ouço ele dizer depois de alguns segundos enquanto enrolava uma bandana preta no pulso, ele também sempre estava com essa bandana. Acho que essa tinha sido nossa maior troca de palavras em uma semana. Dou um pequeno e fechado sorriso para o teto, voltando a cantar com ele.

Desafio dos 30 dias de escritaOnde histórias criam vida. Descubra agora