Há um inchaço na minha mente
Um tumor sem humor
Há humores que já morreu
Mas não, ainda sou eu.
Sou eu quem vive aqui dentro
Quem assume o eu
Quem nega e quem aceita
Quem come e quem regurgita
Sou eu.
Um ser tão pequeno que já nem aceita
A seita que é viver entre outros eus.
Mas é tão duro
Massante e cansativo.
Por isso preciso ser poeta
Mesmo entre os versos mortos
Que trago dentro de mim...
Eles fedem
Apodreceram e eu nem percebi.
Adoeci
Tremi em febre
Mas consegui
Jogar pra fora tudo que está preso aqui.
Se sou poeta já não sei
Mas sei que as liras se fazem em mim.
E é meu porto seguro
É onde minha alma encontra refúgio.
Resisto
Eu insisto, mesmo em meio o barulho
Mesmo em meio a lama
Meus pés cansados ainda caminham
Ainda procuram o alento do amanhã.
Me deito com a expectativa de um amanhã mais suave
Com cheiro de amor e gosto de paz
Com suor de prazer e gozo de quero mais.
Se sou poeta nem sei mais.
Só sei que me cansei
Só sei que não quero mais
Calar minha voz
Ser bicho feroz
Ser humano singular
Num mundo sem nós.
Sem poesia prefiro ser surdo mudo
E viver no mundo dos gestos
Gestos de amor
Gestos de dor
Gestos de nunca mais...
Pois quero mais vida
Quero mais idas
Não mais me sentir perdido
Sem rumo sem caminho
Sem versos sem amor.Augusto Liras
22/09/2020