P.O.V Five // 1920
"- Five, pode ficar aqui comigo se quiser."
Amelie poderia ter dito tantas coisas naquele momento, poderia também ter saltado do carro, entrado em casa e nunca mais encontrar comigo, mas em vez disso ela me convidou para ficar, ficar ali com ela.
- Achei que não quisesse passar mais tempo que o necessário do meu lado. - abri meu típico sorriso sínico e ela revirou os olhos, e que belos olhos -
- Tem razão, foi uma péssima ideia, boa noite ou bom dia, já nem sei mais! - e la abriu o portãozinho que separava o pequeno jardim da frente da calçada e caminhou para entrar -
- Amelie espera, eu fico, mas só se você tiver café. - ela esboça um sorriso mas logo o desmancha, tentando parecer indiferente -
- Café é o que não falta nessa casa, vem, entra. - ela andou até a porta e viu que a mesma já se encontrava aberta, a garota me olhou confusa, mas acho que meu sorriso me entregou - Não acredito que você arrombou a porta da minha casa!
- Desculpe por isso, esqueci de fechar quando sai. - aquela garota estava me fazendo sentir coisas estranhas, por Deus, eu não conseguia parar de sorrir -
- Não sei por quê, mas isso não me surpreende. - agora já dentro da aconchegante sala de estar, a versão humana da minha Dolores deixou a pequena bolsinha de crochê no sofá e foi até a cozinha, não sabia ao certo se ficava ali ou ia atrás, mas acabei indo até a cozinha também -
- Você ainda está sangrando, me deixa te ajudar, pra retribuir o favor. - disse assim que vi o corte no braço dela -
- Eu esfaqueei você, acho que te costurar foi o mínimo que eu poderia ter feito, mesmo você tendo merecido um pouquinho. - ela colocou uma chaleira de água para aquecer e depois voltou sua atenção para mim, trazendo consigo uma maleta grande com uma cruz vermelha pintada do lado de fora - Mas vou aceitar a ajuda, e só pra constar, isso aqui é uma maleta de primeiros socorros que se preze, se pretende continuar no seu trabalho de assassino viajante do tempo, sugiro que arrume uma dessas. - com um pulinho ela sentou em cima da bancada da cozinha, e por algum motivo meu coração achou que seria uma ótima ideia bater mais rápido, eu estava sendo completamente ridículo, conhecia Amelie a o que? 12 horas no máximo. Não fazia sentido eu me sentir assim perto dela. - Céus nem acredito que estou falando isso em voz alta, ainda me parece uma loucura você ser o que diz, por precaução amanhã vou ler o jornal para ter certeza que não há nenhum aviso de "maluco fugitivo do hospício"!
- Eu não vou voltar.
- O que, para o hospício? Ai meu Deus, eu sabia que você não era normal, e te coloquei dentro da minha casa. Acho que agora é um bom momento para gritar! - ela abre a boca para começar a gritar mas eu a tampo com a mão, foi inevitável não rir, a cara de medo que ela fazia era hilária.
- Eu não sou louco Srta. Amelie, e nunca estive em um hospício, a não ser que meus tempos de integrante da Umbrella Academy contem. - sinto ela relaxar um pouco, mas a cara hilária ainda estava lá - Estava me referindo ao meu trabalho como agente de campo da Temps Commission, eu não pretendo voltar. Sabe, nunca gostei do que fazia. Não gostava de matar pessoas. Não gostava de não ter um lar. Não gostava de receber ordens. Só queria não ter desafiado meu pai e viajado no tempo naquele dia. - sem perceber minha mão destampou a boca de Amelie, ela não falou nada, apenas me encarou com aqueles grandes e profundos olhos - Desculpe por desabafar com você, na verdade eu nem sei porque fiz isso, por acaso você tem algum tipo de super poder que faz as pessoas se sentirem a vontade para contar qualquer coisa?!
- Acho que o nome disso é empatia, Five.
- Não tenho certeza se gostei disso, segundo meu velho pai, demostrar seus sentimentos era sinônimo de fraqueza. - abri a maleta de primeiros socorros e peguei um pouco de álcool e gaze para limpar o corte dela - Talvez isso possa arder um pouco.
- Sabe seu pai estava err... - passei a gaze por toda a extensão do corte, não estava tão feio assim, a maioria do sangue já estava seco e parecia não ser fundo - Merda, isso doeu.
- Achei que não falasse palavrões, querida. - limpei o restante do ferimento e procurei por tiras de tecido para poder fazer um curativo -
- Achei que não soubesse ser delicado. - ela sorriu de canto e eu me pergunto do porque de repente a temperatura havia subido alguns graus - E eu já disse que não sou sua querida.
- Ainda não é... - murmuro, ela provavelmente não ouviu já que não fez nenhuma cara feia pra mim ou me repreendeu - Pronto, terminei. - digo assim que termino de fazer o curativo nela -
- Obrigada Five. - estendo minha mão para ajudá-la a descer da bancada e assim que ela a segura sinto uma espécie de eletricidade passar por todo meu corpo, e acho que Amelie também sentiu, pois soltou minha mão de súbito e desceu sozinha - A-a água já está fervendo, vou passar um café.
- Claro, eu te ajudo.
- Não precisa, apesar de tudo, você é a visita aqui, me espere lá na sala! - ela se apressa em dizer e eu apenas concordo indo para a sala de estar novamente. -
Inquieto com o que tinha sentido antes, ando pela sala afim de olhar melhor os poucos quadros ali presentes. Em um deles a pequena Amelie brincava no balanço de algum parque, no outro a família estava reunida para uma foto mais formal, acho que Amelie deveria ter por volta dos oito anos, já que no seu belo sorriso faltavam dois dentes, acabo sorrindo imaginando como a infância dela tinha sido boa e alegre, totalmente diferente da minha, mas pelo menos eu tinha comigo mais seis crianças para brincar, aparentemente ela era a única filha do casal, volto a atenção para os últimos dois quadros, um mostrava provavelmente a mãe e o pai dela no dia do casamento e o outro era novamente da família, mas dessa vez Amelie ainda era um bebê de colo. Os pais dela pareciam ser boas pessoas, estavam sorrindo em todas as fotografias, e exalavam amor e afeto, me pergunto onde eles estavam agora, senão em casa com a filha, talvez estivessem mortos, essa era uma opção bem plausível, porque se eu fosse eles, só assim para deixar uma jovem como Amelie sozinha, ainda mais nessa época, mais ainda fazendo o que ela faz.
Balanço a cabeça tentando me livrar das imagens ruins de coisas que poderiam acontecer com ela. Amelie realmente não conhecia o lado ruim do mundo. Fazendo protestos, irritando homens poderosos, andando sozinha por aí a noite, colocando estranhos para dentro da sua casa, obvio que eu não faria nada com ela, mas nunca se sabe quem será a pessoa que pode te machucar. Alguém precisava falar urgentemente com os pais dela, se eles não estiverem mortos, é claro. Talvez eu devesse alertá-la, ou amarrá-la novamente para que nenhum perigo a encontrasse, maldita época que permitiu que as mulheres mostrassem os tornozelos e os joelhos, ela estaria muito mais segura em um daqueles vestidos enormes que arrastavam a barra pelo chão.
Sento no sofá pensando em porque a segurança dela era tão importante pra mim, como se minha missão de vida fosse protegê-la, eu nunca tinha me sentido assim com ninguém - a não ser com a Vanya, minha irmãzinha que nasceu sem poderes, eu sempre brincava com ela e fazia companhia quando ela pedia - com certeza havia algo de errado comigo, Dolores diria que eu estava sendo patético, e ela estaria certa como sempre, porque eu me sinto patético. Conheço Amelie a menos de um dia e já havia deixado que ela amolecesse meu coração, era só o que me faltava! Quem sabe amanhã eu compro flores e um par alianças para pedi-la em casamento.
Reviro os olhos irritado comigo mesmo por me sentir assim, e na mesma hora o motivo da minha futura perdição entra na sala segurando uma bandeja com duas xicaras e um bule de café quente. Lá fora os primeiros raios de sol davam as caras, e eu só me deu conta agora que já não estava mais chovendo. Amelie senta ao meu lado e depois de servir os cafés me entrega uma das xicaras.
- Aqui está o café, agora quero saber tudo sobre o futuro.
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just plastic // five hargreeves (PAUSADA)
FanficOnde Five é resgatado pela Comissão poucos anos após sua chegada ao mundo pós apocalíptico e para testar sua lealdade Handler o envia para uma missão que talvez ele não consiga cumprir. Em 1920, Amelie Wilson, uma ativista dos direitos de voto da mu...