Prólogo

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Atenas, Grécia, 1999.

— Tome isso, querida, precisa dormir agora e descansar.

— Mas não posso ver nada, mamãe, está muito escuro — Kira disse tristemente e com a voz trêmula.

— Vai aprender, Kira, eu e a vovó vamos te ajudar.

— Estou com medo.

— Mamãe vai cuidar de você, ficará salva, e eu sempre estarei com você. Vai aprender, somente precisa desenvolver seus outros sentidos: seu olfato, seu tato, sua audição. Precisa aprender a aumentar sua concentração, aprender como uma pessoa cega vive, querida. Vai conseguir.

— Mas você disse que estaríamos bem, aqui na nova casa.

— E você vai ficar bem agora. Ninguém vai te machucar — disse sua mãe enquanto secava uma lágrima teimosa que insistiu em cair de seus olhos.

— Mas eu gosto de ver o mar, o céu, as estrelas. Não quero ser cega.

— Eu sei, querida, e eu realmente sinto muito, mas você precisa aceitar que está cega. Beba isso e dormirá, amanhã não se lembrará de nada e tudo vai ficar bem, eu prometo.

— Não me deixará?

— Nunca a deixarei, mas se algo acontecer comigo e eu morrer, você ainda terá a vovó e, quando ela se for, conseguirá sozinha. Porém, um dia, um lindo homem chegará, vai se apaixonar e também cuidará de você.

— Um príncipe?

— Oh sim, querida, um príncipe. Ele será bom e gentil, cuidará de você, a amará e a guardará como sua pedra preciosa.

— Como o papai?

— Sim, anjo, como o papai.

— Você disse que há homens maus.

— Sim, há muitos e deverá ter muito cuidado com eles, não confie fácil, Kira, mas quando seu príncipe vier, você saberá e confiará nele.

— Como saberei?

— Seu coração e sua alma vão lhe dizer. Agora beba — disse colocando a caneca em seus lábios.

Kira assentiu e bebeu o chá.

Logo sua mãe a aconchegou nas cobertas, alisou seu cabelo e depois que beijou sua testa, começou a lhe cantar uma doce canção fazendo com que Kira adormecesse.

A partir daquele dia, Kira nunca mais enxergou.

***

Hessi, Alemanha, 2006.

Quando Erick tombou em seu catre, soltou um gemido sufocado. Desta vez, a dor dos ferimentos era insuportável e, para piorar, as drogas ainda corriam pelas suas veias, deixando-o sem forças.

— Vamos lá, animal, quero ver quão rápido se cura agora — disse um dos guardas, rindo.

— Vou arrancar sua cabeça... Miserável! — Erick disse, gemendo.

— Sei, tente isso novamente e, quem sabe, teremos que tomar conta de uma de suas fêmeas.

— Maldito, um dia sairei daqui e matarei a todos.

— Claro — disse, bufando.

Os homens saíram da cela e a trancaram.

— Sabe aquela sua bonita irmãzinha? — Um deles perguntou, olhando para a cela ao lado, onde estava Noah de pé e segurando-se para não atacar.

O DESPERTAR - Os Lobos de Ester - Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora