Momentos

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"Eu tenho medos bobos e coragens absurdas." (Clarice Lispector)


Em posição de meditação, ela tentava relaxar e se concentrar, mas a ronda constante de seu mestre em volta de si não a deixava ir além de um fechar de olhos.

Hajime parecia diferente nos últimos dias, aparentava estar como sempre, mas sentia que havia algo de errado.

Enquanto o onmyoji andava ao redor de sua discípula tentava chegar a um resultado plausível. Kagome disse que veio do futuro, daquilo ele não duvidava afinal quem nunca ouviu falar da Miko que trouxe de volta a jóia de quatro almas?

Histórias assim se espalham rapidamente.

Alisou sua barba e parou atrás de sua aprendiz. Mesmo que viesse do futuro, saber tão detalhadamente sobre a vida e morte de Abe No Seimei era suspeito demais.

Ela sabia de praticamente tudo dele, nascimento, falecimento, sepultura, moradias, trajetória, poderes e até mesmo mais da metade dos tipos de shikigamis que ele controlava.

Coisa essa que nunca saiu do templo. Não seria possível que isso algum dia saísse dali e se tornasse público... É claro que a possibilidade existia, mas era tão remota quanto os dinossauros voltarem à vida.

Ela podia muito bem saber sobre muito mais coisa, coisas perigosas, coisas que se caíssem em mãos erradas seria um desastre.

Havia também a chance dela ser uma espiã, a mais provável em sua opinião, e isso ele não toleraria.

Não tinha escolha, se quisesse mesmo tirar essa história à limpo e tranquilizar o seu ser teria de ser radical.

Seu coração lhe dizia que ela era confiável, mas sua mente lhe dizia que deveria descartar essas opções com base em provas incontestáveis o que implicava dizer que o seu lado emotivo deveria ficar fora de jogo.

"Abura, traga-me a verdade." Invocou seu shikigami que extraía a verdade à força com apenas uma mordida.

A serpente branca de anéis negros mal apareceu e já avançou contra Kagome, que não teve tempo para reagir ao sentir presas perfurarem suas costas.

Ela gritou e caiu para frente de bruços gemendo enquanto sentia labaredas correr por suas veias. Seu sangue parecia queimar e a dor, depois de alcançar cada parte de seu corpo, começou a seguir em direção à um único ponto, seu cérebro.

A Higurashi procurou Hajime e olhou-o lacrimejante.

"Qual a finalidade disso, Mestre?" Era o que queria dizer, mas não conseguiu.

-- Eu só quero ter certeza que você não é uma espiã ou algum tipo de pessoa com quem eu devo ter cuidado. -- Respondeu a pergunta que conseguiu ler nos orbes safiras que seguravam as lágrimas bravamente. -- Diga-me menina, você é uma espiã?

-- Não. -- Sua voz saiu automaticamente e agora ela entendia a razão pela qual não conseguia falar antes, era porque só podia responder as perguntas dele. Só podia falar quando lhe fosse permitido.

Uma queimação torturante se instalou em sua cabeça e teve de trincar os dentes e fechar os olhos para tentar suportar aquilo.

-- Posso considerar você algum tipo de ameaça?

-- Não. -- Tentou se erguer e a muito custo conseguiu ficar de pé e encará-lo de frente. Odiava ser encarada de cima, lhe dava a impressão de ser inferior.

Hajime alisou a barba e sorriu orgulhoso diante da força da mulher. Nenhum humano se levantou enquanto o veneno de Abura ainda agia no organismo e o fato da morena conseguir o deixou fascinado.

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⏰ Última atualização: Sep 26, 2020 ⏰

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