Arrependimento. É uma palavra que deve estar tatuada em toda a minha cara agora.
Cá estou eu, sentada, bebendo um belíssimo copo de limonada e lendo um dos meus livros preferidos novamente, enquanto Park Jimin abria os portões do inferno, digo, da casa. Os carros entravam em fila, estacionando no pátio cinzento, colorindo o cenário com tons de vermelho, azul e branco.
Os caras que fizeram parte do meu passado e os que fazem parte da rotina de Park Jimin saem dos carros, quase todos juntos. Admito, são bonitos. Com óculos se sol e os shorts maravilhosos ficam ainda mais atraentes.
Perdão humanidade, mas eu adoro essa moda de shorts divertidos. É maravilhosamente hilário. A combinação de cores gritantes com desenhos de bichinhos e frutinhas nos shorts é infantil e ao mesmo tempo bem adulta. Como eu disse: Maravilhosamente hilário.
Com um sorriso discreto nos lábios, levo o copo suado a boca e volto ao meu foco original. Mesmo aqui sendo o inferno, acho que consigo aproveitar a tarde fresca pra tomar Sol e me distrair um pouco das dores de cabeça. Me entretenho enquanto posso com o sabor forte que preenche o paladar e com o livro envolvente. O conto da garota Ofélia sempre me fez sentir envolvida. Eu era igual a ela, tendo somente os livros como meus amigos e detentores dos meus segredos e medos. Tive dezenas de versões de O Labirinto do Fauno, porque carregava os livros o tempo todo e acabava estragando de alguma forma. Eu lia e relia, como se procurasse um detalhe, uma virgula a mais que eu não tinha visto antes, algo diferente. Sinceramente, eu não sei o que eu procuro, mas algo sempre me faz voltar ao começo desse livro pra me afundar na história outra vez.
No fundo do ambiente, escuto o portão velho e enferrujado abrir, fazendo um som agudo e incomodo aos ouvidos, que é acompanhado de risadas e conversas exageradas. Mesmo assim, meus olhos e pensamentos continuam presos na leitura. Sei perfeitamente quem é, não preciso ser educada ou amigável. Jimin e seus amigos deixam rastros de bolsas, carteiras, toalhas e blusas por todo o caminho até as espreguiçadeiras ao meu lado. Eu podia estar do outro lado da piscina, mas esse lado é o único que não tem arvores pra tampar os raios quentes. O jeito vai ter que ser uma pessoa civilizada e falar com os convidados.
Vem cá...eu posso chamar pessoas que estão constantemente na casa de convidados?
O barulho suave do passar das páginas surge no ambiente e o cheiro de livro novo ataca meu olfato. Como qualquer outro amante de livros, respiro fundo, procurando mais do cheiro bom do papel. Mereceu um momento de apreciação.
--Miye! Não acredito que aceitou meu convite pra vir passar a tarde com a gente! E eu que achei que você ia ser a insuportável de sempre....Admito, estou surpreso.-- Ele não muda mesmo. Parece que a presença de terceiros deixou ele mais "calmo". Talvez seja o medo das minhas respostas o deixarem mal na frente dos amigos.
--Não aceitei seu convite, só achei uma boa ideia tomar um Sol, sabe? Pegar uma cor...aproveitar e tirar um pouco o tom de papel que eu tenho na pele...--meu tom é baixo, continuo focada na leitura.
--Pera aí, por quê? Achei seu tom de pele tão bonito...-- uma voz grossa e desconhecida por mim se pronuncia. Finalmente levanto os olhos, encontrando seis pares de olhos me encarando. Só conheço um deles, mas tem outro que me é familiar.
--E você seria....?-- meu tom não ajuda na interação deles comigo. É um completo desconhecido falando sobre meu corpo, e por mais inocente que seja o elogio, eu não o conheço. Tenho o direito de estar na defensiva.
--Kim Jun-Myeon, o prazer é todo meu.-- um sorriso educado e galante cobre o rosto bonito e bem moldado. Viajo os olhos por todos os outros rostos, impressionada. Todo mundo aqui tomou esteroides e fez plástica? Puta merda!
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Faveurs
RomanceDentre tanto lugares, aquele era seu abismo sem fim, aquele era seu pesadelo, seu pior e tenebroso pecado, no qual sofria consequências tortuosas sem saber o que fez e o por quê de merecer tudo aquilo. Fugir fora a única saída para conseguir manter...